— Vai mesmo fazer isso? — perguntou Nelson, parando o garfo a meio caminho da boca.
— Sim! — respondeu Cris com um sorriso animado.
— Ir comigo na sessão?
— Pode apostar! — assentiu ele.
A expressão de descrença de Nelson apenas aumentou.
— Só pra ficar de olho em mim?
— Isso mesmo!
— Mesmo sabendo que vai ter um profissional ao meu lado então não vai ter como eu... passar dos limites de novo?
— Sim!
— Tem noção de que vai ser bem chato pra você?
— Provavelmente!
O sorriso nunca deixou o rosto do Cris. Nelson abriu a boca para dizer outra coisa, mas então desistiu, corou e desviou o olhar.
— Obrigado — murmurou ele, focando outra vez em seu café da manhã. Mas, pelo canto do olho, ele viu o sorriso do assistente aumentar.
— De nada! — exclamou o outro com uma voz cheia de energia, apesar do cansaço estampado no rosto.
As olheiras estão profundas, pensou Nelson, a culpa o atingindo em cheio. Se eu não tivesse ficado paranoico com o tempo de ontem, ele não teria ficado tão preocupado e acordado cedo hoje... Eu realmente dependo muito dele...
— Obrigado... por tudo... e foi mal por antes — murmurou ele de novo, olhando para sua comida como se fosse a coisa mais interessante do mundo.
Mesmo assim, sua curiosidade quanto ao assistente era demais. Ele logo lançou um olhar para Cris.
O assistente parou de sorrir e inclinava a cabeça com uma expressão intrigada.
— Está pedindo desculpas pelo quê?
Puta merda, pensou Nelson, pressionando os lábios para conter seu sorriso. Ele sabe do que estou falando, mas vai me obrigar a dizer mesmo assim...
— Por ter perdido a cabeça na pista de corrida mais cedo...
A expressão intrigada se transformou em um sorriso.
— Sem problema. Apenas fazendo meu trabalho. Mas é dureza chamar de trabalho quando dá pra ficar por cima de você — disse ele enquanto o sorriso se tornava malicioso.
Nelson não pôde mais conter o sorriso. Porém, logo tirou-o do rosto. Não, Cris... você não está só fazendo seu trabalho... está fazendo bem mais, ele quis dizer para seu assistente, mas ficou quieto.
Nunca vi um assistente se importar tanto com o atleta... Na verdade, é raro que tenha tanto contato com o atleta também... normalmente, o relacionamento fica em informar a agenda, responder ligações sobre publicidade, que são repassadas para o clube e organizar materiais durante a competição...
Mas o Cris, pra mim... o Cris é muito mais do que só meu assistente... ele é... o que ele é para mim...? Nelson balançou a cabeça, não querendo pensar naquilo no momento.
— É, eu precisava 'cair na real', mas não precisava me jogar no chão daquele jeito — reclamou o nadador, esfregando suas costas onde Cris sentara. Então os dedos acabaram onde sentiu a protuberância do assistente e ele tirou a mão na mesma hora.
— Ah, não, não, não. É aí que você está errado, meu caro atleta. Aquilo foi totalmente necessário, não só divertido. — O assistente riu e sorriu com uma expressão condescendente. — Toda vez que fizer algo idiota ou sair da linha, eu vou estar lá te pôr no chão e montar em cima.
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O nadador e o assistente
RandomO clube Prado Maranhão de desportos aquáticos, um lugar onde aqueles que miram o topo dos esportes aquáticos se juntam. Nelson, chamado no passado de garoto prodígio da natação brasileira, está perto de se recuperar de um acidente sério que quase ti...