Capítulo 06

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Eu havia pedido um salmão grelhado com grão de bico para o garçom antes de pegar meu celular e correr para uma cabine no banheiro feminino. Paloma, a quem dei uma explicação sem muitos detalhes, entendeu a minha urgência em falar com a Nina e disse que me mandaria uma mensagem de texto caso a comida chegasse antes do esperado. Eu já escutava o sexto toque quando alguém, finalmente, atendeu.

— Aleluia, Nina — resmunguei impaciente. — Achei que não conseguiria falar com você na hora do almoço e não tô afim de esperar até o fim do expediente.

— Oi pra você também — devolveu sussurrando. POR QUE RAIOS ELA FALAVA TÃO BAIXO?

— Por que tá sussurrando? Não é uma boa hora?

— Você até pode estar no seu horário de almoço, mas eu estou prestes a entrar na última reunião do dia — ah, é claro! Tinha a droga do fuso horário, como é que fui me esquecer dele? — Seja breve no que quer que queira me contar e depois você me manda um áudio cheio de detalhes sórdidos.

— Estava no elevador quando as portas do inferno se abriram e Stéfan se materializou bem diante de mim antes do meu primeiro dia de trabalho — eu sabia que Nina adoraria gritar com a notícia, mas felizmente ela se contentou em disparar, ainda aos sussurros, apenas um putaquepariu, assim, todo emendado mesmo.

— Sei que você é totalmente capaz de lidar com esse estrume de ser humano, mas lamento de verdade não estar aí para dar um chute bem no meio das bolas dele — soltei uma risadinha e imaginei minha melhor amiga dizendo cada uma dessas palavras com a expressão emburrada.

— Eu sei que lamenta — e isso, preciso confessar, me deixava um pouquinho pra baixo. Não ter a Nina ali para me dizer (ou, melhor ainda, fazer) tudo isso era uma pena.

— Vou entrar na minha reunião, mas espero que esse verme não ouse receber de você mais do que merece: total indiferença — Nina devia estar vendo alguma novela nova ou trabalhando num livro novo, pois suas frases estavam dignas de um romance levemente dramático.

— Te mando áudio com detalhes sórdidos inexistentes mais tarde — emendei.

— Te amo — ela disse e desligou antes que eu pudesse dizer...

Obrigada.

Você não achou que eu ia dizer outra coisa além disso, né? Minha melhor amiga sabe que a amo e não preciso ficar dizendo isso todo santo dia. Não faz o meu tipo.

Voltei para a minha mesa e encontrei uma Paloma tranquila bebendo vinho. Sim, em plena segunda-feira, na breve hora de almoço do trabalho. Senti minha boca praticamente salivar e acho que isso foi bastante perceptível, pois no segundo seguinte ela me estendeu a própria taça e disse:

— Quer? — apesar de ter praticamente promovido a garota, eu a conhecia há poucas horas e não parecia nada educado pegar o copo dela e meter a boca nele. Ela provavelmente só ofereceu por educação. Mas não é como se eu me importasse muito com isso, sabe? Ofereceu, tá oferecido.

Estendi a mão, peguei sua taça e voilá. O vinho doce e suave desceu pela minha garganta com uma ordem explícita: seja inteligente e faça o mesmo que ela. O garçom chegou com nossos pratos e eu pedi uma taça igualzinha a dela. O rapaz fez todo aquele fuzuê de colocar um pouquinho e esperar que eu cheirasse a bebida antes de me servi-la completamente. Revirei meus olhos na direção dele e acrescentei:

— Para de frescura e enche isso logo, por favor — Paloma prendeu o riso da minha falta de decoro e eu não dei a mínima. Não pense que criar uma revista do zero e com um propósito ousado seja coisa fácil, porque não é. Apesar de ter trabalhado incansavelmente durante toda a manhã, muito trabalho ainda vinha pela frente e talvez o álcool pudesse aliviar a tensão envolvida.

Levei a primeira garfada de salmão à boca e...

— PUTA MERDA — xinguei com a boca cheia de comida. — Eu pedi sem chilli — vi as sobrancelhas de Paloma se unirem e um segundo depois ela já estava enfiando o próprio garfo no meu prato. Bom, eu havia bebido vinho na taça dela, era justo. Ela mastigou bem antes de engolir e declarar:

— Acredite, Marcela, essa é versão sem chilli — tinha me esquecido de como as comidas eram picantes por ali. Não existe uma versão sem pimenta, de fato. Só existe a versão menos apimentada que, ainda assim, é apimentada pra cacete pra quem não está acostumado. De todo modo, eu precisaria me acostumar, a menos que estivesse disposta a fazer minha própria comida, o que não era o caso.

Pedi uma água pro garçom e acrescentei que se tratava de um pedido urgente. Se tem uma coisa no México que me incomoda, é o serviço. Os funcionários estão sempre agindo como se te atender fosse um enorme e gentil favor da parte deles. Na primeira vez em que estive no país, estranhei muito. O shopping, por exemplo, abria às onze da manhã e nenhum vendedor te abordava por livre e espontânea vontade. Você precisava ir até ele e pedir o que queria. Se estivesse de bom humor, você sairia da loja com o produto desejado. Se não estivesse, era melhor que você pudesse se virar de algum outro jeito.

***

Voltamos para o escritório sem mais encontros indesejáveis no elevador. O décimo terceiro andar estava lotado de mulheres trabalhando com total concentração. Se esse não é um nascimento bonito de se ver, então não sei qual mais seria.

— Vou para a minha sala — avisei a Paloma. — Você pode pegar o telefone e me encontrar lá?

— Claro, chego lá em um minuto — ela sorriu de leve e eu a agradeci.

Foi só eu sentar a bunda na minha cadeira de couro para minha mais nova secretária enfiar o rosto para dentro da sala e perguntar se podia se juntar a mim. Eu apenas assenti e comecei a arrumar a papelada das inúmeras ligações que tínhamos para fazer. Seria um dia longo e precisaríamos de sorte para acabar até às cinco da tarde.

Spoiler: não tivemos sorte.

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OLHA QUEM APARECI :p

Quero me desculpar pelo sumiço da semana passada, MAS GENTE, eu olhava pro word, o word olhava pra mim e nada acontecia. Tudo que eu TENTAVA escrever ficava uma bosta e não conseguia desenvolver ideia nenhuma. Mas essa é uma nova semana e cá estou eu lhes dando o capítulo prometido!

E quem adivinhou certinho o que ia acontecer foi @LittleGhotsVoig ♥Me passa seu endereço por e-mail (blognemteconto@outlook.com) para que eu possa enviar essas lindezas de marcadores para você!!

E vou abusar da criatividade de vocês para perguntar: qual próxima dinâmica ~com marcadores como prêmio~ vocês querem ver por aqui?

Besos de fuego y hasta la próxima semana!

Rainha do Pouco CasoDonde viven las historias. Descúbrelo ahora