Capítulo 10

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Revirei os olhos impacientemente e soltei:
— DESEMBUCHEM!!!
Paloma, que visivelmente fazia certo esforço para se manter calma, foi quem abriu a boca.
— Nós previmos ataques a revista... Trazer conteúdos feministas e empoderadores para o alcance da população é uma afronta das grandes e nós sabíamos que íamos incomodar...
— Já esperávamos um ataque ou algo do tipo... — Maria emendou, mas não pareceu segura para continuar. Minha secretária a encarou por um longo instante e por fim concluiu:
— O ataque é pessoal. Direcionado a você. Está em todos os sites e blogs de fofoca. Estão tentando acabar com a sua reputação.
Eu esperava ataques a revista, confesso. E esperava incomodar algumas pessoas também. Mas não passou pela minha cabeça, nem por um segundo, ser atacada diretamente e me tornar assunto de tabloides e manchetes. Paloma abriu um sorriso triste, desses que demonstra solidariedade e me esticou seu celular. Peguei o aparelho, já desbloqueado, e encarei a primeira manchete que apareceu:
"EDITORA DA FEMINIST NÃO GOSTA DE HOMENS E LARGA NOIVO NO ALTAR"
Meu pensamento se voltou única e exclusivamente para Valentin. Onde foi que eu o meti? Já não bastasse tê-lo feito sofrer no passado, agora essa ferida era exposta para todo o mundo. Trinquei o maxilar enquanto lia cada palavra, ponto e vírgula da minha história pessoal sendo contada sem a minha permissão.
Fechei a aba do navegador, nauseada com os absurdos e com a narrativa, mas já havia outra aberta e ela dizia:
DEPOIS DE ABANDONAR O NOIVO NO ALTAR, MARCELA ASSUME FEMINIST E SE RECUSA A CONTRATAR HOMENS"
Reviro os olhos e inspiro lentamente. Vou fechando aba por aba e, por um segundo, elas parecem infinitas. Paloma e Maria estão receosas, aguardando minha reação. Honestamente? Estou furiosa e quero arrancar a cabeça de alguém. Mas me sento e tento juntar o tico e o teco para ver se funcionam. Não sei por onde começar.
— Você precisa de alguma coisa? — nem sei como aconteceu, mas num segundo Paloma estava em pé ao lado da Maria e no outro, ajoelhada de frente pra mim. Ela segura minhas mãos entre as suas e seus olhos focam nos meus. — O que podemos fazer para ajudar?
Quero traçar um plano e ditar nossos passos seguintes, mas não tenho cabeça para isso. Preciso falar com Valentin, me desculpar por tê-lo envolvido ainda que indiretamente.
— Vamos aproveitar a festa, por ora. E pensaremos em uma solução até a segunda-feira.
— Sinto lhe informar, Marcela — é Maria quem diz — mas já há um monte de repórteres do lado de fora aguardando a sua saída.
— Esses filhos da puta te chamaram de vadia — Paloma rosna e eu apenas concordo com a cabeça.
— Se ser vadia significa ser livre e independente, pode apostar que é exatamente isso o que sou.
***
Depois de conversar com toda a minha equipe, traçamos uma estratégia. Os machistas e conservadores querem nos atacar de forma pessoal e desonesta; querem nos ver histéricas, tristes e chateadas. Na cabeça deles, talvez recuemos. Optamos por não jogar o jogo deles. Nenhuma funcionária da Feminist, e isso inclui a minha pessoa, vai falar o que quer que seja a respeito do ocorrido. Se eles querem um palhaço que vista a fantasia e entre no circo, é melhor que tenham um plano B. Não vamos nos justificar. Não vamos pedir desculpas. Não vamos amenizar os fatos. Digam o que quiserem sobre mim ou minhas funcionárias, nosso silêncio será a única resposta para esse tipo de ação.
Voltamos para o salão e comemoramos a festa de lançamento da nossa revista com ainda mais intensidade. As balas podem vir aos montes, já estamos com nossos coletes à prova de bala. Ao fim da festa, saímos, em grupos de 4, pelos fundos cercadas de seguranças - até mesmo lá há alguns repórteres à nossa espera.
Olhamos sempre reto e com fisionomia neutra. Não demonstramos chateação nem contentamento. Gritam perguntas absurdas contra nós e não damos a mínima. Estamos de mãos dadas que é pra passar um recado: que venham os ataques, ninguém vai soltar a mão de ninguém. Entro no carro acompanhada de Paloma, Maria e Diana. Deixamos o tumulto para trás e isso nos dá certo alívio, mas sabemos que é ingenuidade achar que o furacão já passou.
Ele, na verdade, está só começando.

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Gente, eu escrevi esse capítulo no celular (NUNCA ACHEI QUE IA DIZER ISSO) então me desculpem se estiver uma merda 😂 Vou revisar depois com calma! ♥️ Tô aqui em SP e mais tarde, às 19h, estarei no Sesc Avenida Paulista com um monte de gente bacana pra um evento gratuito e aberto ao público! Quem quiser, só chegar 💛

Rainha do Pouco CasoWhere stories live. Discover now