Capítulo Três - Parte 1

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Eu sabia que essa cerimônia ia ser algo formal, mas não estava esperando uma preparação de quase uma hora antes - com direito a banho com sais e ervas, meditação, umas cantorias que eu não faço a menor ideia do que eram e até roupas cerimoniais específicas que incluem um capuz e uma máscara que cobre do meu nariz para cima. Com o meu cabelo preso e as roupas pretas, ninguém vai ter ideia de quem eu sou. Por que será que estou surpresa com isso?

Maira não fala nada enquanto segue pelos corredores do castelo, passando por todas as áreas públicas. Ela também está usando um vestidão estranho que parece com o meu, mas o dela é de um tom laranja apagado e Maira está sem máscara e com o cabelo solto. Tenho quase certeza de que tem uma fila de feiticeiras atrás de mim, pelo barulho dos passos, mas Maira me avisou que não era para eu olhar nem para trás nem para os lados.

Eu nunca vi esse lado cerimonial dos draconem. Religioso, até, de um jeito que não existe em nenhum lugar. Minha mãe serviu no Primeiro Círculo das feiticeiras e mesmo assim nunca ouvi nem comentários sobre esse tipo de cerimônia. Mas, também, não tenho certeza nem se Augusto passou por uma Confirmação. Isso quer dizer que pode muito bem nunca nem ter acontecido uma Confirmação em Raivenera desde que nasci.

Os guardas e cavaleiros se afastam sem falar nada sempre que Maira se aproxima. Só consigo ver as pessoas de relance, tanto os que trabalham no castelo quanto os draconem que sempre estão por aqui - a corte, como minha mãe os chamava - mas o capuz puxado para a frente não me deixa ver nada com o canto dos olhos. Tenho quase certeza que vi algumas caras novas aqui. Os emissários, talvez. Não esperava por isso, mas faz sentido. São testemunhas neutras, em teoria. Pessoas de fora acompanhando toda a cerimônia e que podem dar aquele empurrão de credibilidade se for necessário.

Não. Não tem como questionar uma Confirmação. Quem passa por isso carrega uma marca. Então Augusto decidiu fazer isso com eles aqui porque...

Porque ele precisa de testemunhas se for um caso de eu precisar usar isso. E o único motivo para eu precisar usar toda a questão da Confirmação é se por algum acaso precisar agir como herdeira dele.

Eu não quero insultar a Domina, mas... Filho da puta.

Não é à toa que não vi Augusto desde que cheguei aqui hoje. Não é só porque ele estava enfiado em reuniões ou coisa do tipo. É porque ele estava me evitando.

Um tambor começa a tocar. Soar? Não sei, mas está marcando um ritmo claro que Maira está fazendo questão de não seguir. Pelo som dos passos atrás de mim, Maira não é a única que está num ritmo diferente do tambor - é quase como se estivessem tentando fazer o exato oposto e errando por muito pouco e isso está me deixando agoniada.

Maira entra por uma porta larga na ala da família real. Eu nunca vi isso aqui antes - o que não faz o menor sentido, porque essa porta é larga o bastante para quatro pessoas passarem lado a lado.

O tambor continua soando, grave e pesado. Maira levanta uma mão e chamas aparecem... Não. É uma tocha. Só parece que ela está segurando as chamas por causa do formato da tocha e de como o corredor por onde estamos descendo é escuro. E não sei de onde ela tirou a tocha, mas as pessoas atrás de mim claramente sabem porque tem luz vindo dessa direção também.

O corredor está descendo e essa é a única certeza que tenho. Eu jurava que conhecia todas as passagens de Raivenera, mas pelo visto a escadaria abaixo das masmorras não é a única que nunca ouvi falar. E essa aqui... Como eu nunca ouvi falar disso?

Continuamos descendo, com o ar ficando cada vez mais frio apesar das tochas. Não é tão fundo quanto a câmara do dragão, mas estamos bem abaixo de Raivenera. Para quê tudo isso?

Marcas de Sangue (Draconem 3) - DEGUSTAÇÃOWhere stories live. Discover now