Sozinho.

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"Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém se achava comigo; e os pisei na minha ira e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura.
Porque o dia da vingança estava no meu coração, e o ano dos meus redimidos é chegado.
E olhei, e não havia quem me ajudasse; e espantei-me de não haver quem me sustivesse; pelo que o meu braço me trouxe a salvação, e o meu furor me susteve."
(Isaías 63.3-5)

Alguns meses depois...

     Era a terceira vez que Rafael lia o mesmo parágrafo de seu livro quando se deu por vencido de que aquilo não entraria em sua cabeça.

     Sempre quando o pensamento de largar todos os estudos vinha até a sua mente, ele relutava. O garoto queria de alguma forma ajudar as outras pessoas, e a medicina havia proporcionado isso.

     -Rita! -Alguém gritou o nome de sua irmã na frente de casa. -Ritaaaaaa!

     Rafael levantou de sua mesa e caminhou até a porta confuso, sua irmã estava na escola, quem poderia ser?

     -Oi? -Rafael abriu a porta e deu de cara com uma menina alta de cabelos e olhos negros.

     -Oi... -Ela pareceu incerta ao cumprimentar Rafael. -A Rita está?

     -Quem é você? -Ele perguntou.

     -Sou a Marcela, estudo na mesma sala que ela.

     -Se estudasse na mesma sala que ela -ele cruzou os braços acima do peito -saberia que ela está na escola hoje, oras.

     Marcela franziu as sobrancelhas:

     -Hoje não teve aula.

     -Como não? Eu vi a Rita saindo para a escola hoje a tarde, afinal ela não falta nenhum dia.

     -É sobre isso mesmo que eu vim ver o que estava acontecendo. Já faz alguns meses que Rita não aparece na escola.

     -Alguns meses? -Rafael perguntou incrédulo. -Você só pode estar brincando!

     -Não... Achei que você soubesse... -Marcela mordeu o lábio.

     Rafael passou as mãos pelo rosto, o que estava acontecendo?

     -Ei, menor! -Bruno apareceu mancando. -Tá suave? -Ele perguntou olhando para Marcela.

     -Mais ou menos...

     -Você tem da branca aí na sua casa?

     -Olha, Rafael... -Marcela começou. -Espero não ter causado treta, eu só vim saber como Rita está... Mas eu já estou vazando. Falou!

     Rafael acenou com a cabeça e entrou acompanhado de Bruno.

     -O que tá pegando? -Bruno perguntou enquanto Rafael abria as gavetas em procura da cocaína.

     -Rita não está indo para a escola.

     -Eita, boa moça está se perdendo! -Ele falou soltando uma risada abafada.

     -Não tem graça nenhuma, Bruno. -Rafael falou perdendo a paciência enquanto revirava as gavetas com maior intensidade. Ele tinha certeza que havia guardado a nova remessa ali e ainda não tinha vendido... Pra onde tudo aquilo iria?

     -E aí, menor? Cadê o bagulho?

     -Eu não sei... -Rafael falou e sem pensar muito bem acabou abrindo uma das gavetas do guarda roupa de sua irmã. Era óbvio que não estaria ali, mas com apenas uma revirada nas roupas de Rita, Rafael sentiu seu coração se apertar.

Feito de PedraDove le storie prendono vita. Scoprilo ora