O fim do poço.

518 78 10
                                    

"E esta é a mensagem que dele ouvimos e vos anunciamos: que Deus é luz, e não há nele treva nenhuma."
(1 João 1.5)


Rafael não saberia dizer por quanto tempo havia corrido até que suas pernas reclamaram e ele acabou tropeçando e caindo no chão.

A calçada era gelada contra seu rosto e sua cabeça doía pela falta de ar em seus pulmões. O rapaz se virou para cima e tentou acalmar sua respiração, sabia que tinha continuar correndo, mas ele não tinha forças, por mais que obrigasse seu corpo a fazer qualquer coisa ele não conseguiria.

-Vamos, vamos! Acho que ele foi por aqui! -Uma voz grossa chegou até os ouvidos de Rafael.

Com o restante de forças que tinha, Rafael conseguiu engatinhar até uma parede e encostar suas costas ali. A avenida em que estava era enorme, ele sabia que conhecia aquele lugar, mas sua mente falhava e o pânico começava a crescer em seu peito.

Ele não tinha mais para onde ir, certamente aqueles homens o matariam, sem pensar duas vezes.

O rapaz encostou sua cabeça e chegou os olhos esperando a sua morte, nada mais importava, aquele seria o seu fim e ele tinha que aceitar.

Passos e mais passos. Respirações pesadas e xingamentos.

Rafael não ousou abrir os olhos. Ele esperou, esperou e nada.

O que estava acontecendo?

Com a respiração mais controlada, ele apenas abriu os olhos e não entendeu nada do que estava acontecendo.

Nenhum dos homens que estavam a sua procura, estavam ali. Apenas alguns viciados andavam de um lado para o outro, junto com vários moradores de rua naquela avenida.

Ele ainda estava vivo, mas sabia que não seria por muito tempo, um milagre daquele não acontecia duas vezes.

Rafael não sabia se ficava feliz ou se odiava por ainda estar vivo.

O jovem passou as mãos pelo rosto e pelos cabelos, ele queria sumir.

-E aí, meu jovem! -Um homem apareceu na frente de Rafael. -Como tá a noite?

-Pior, impossível. -Rafael suspirou tampando o nariz por causa do mau cheiro do homem.

-Você precisa ficar rilex, cara.

-Não tem como eu ficar rilex, cara. -Não com essa vida que eu tenho, Rafael pensou.

-Eu tenho uma coisa que vai fazer tu ficar de boinha... -Ele franziu as sobrancelhas. -Como é teu nome mesmo?

-Rafael. -O jovem respondeu receoso.

-Então, Rafael, eu era que nem você, bem pra baixo, com nada me satisfazendo, aí eu experimentei isso. -Ele levantou o cigarro em seus dedos. -Acho que você não sabe o que é, mas eu garanto pra você, tudo ficou numa boa.

-Eu sei o que é, mas eu prometi para mim mesmo que eu nunca ia usar. -Rafael falou.

-Por quê?

-Porque todas as pessoas que eu conheço que usaram isso perderam o controle de suas próprias vidas.

O homem soltou uma risada abafada:

-Isso é porque essas pessoas são fracas, elas se deixam controlar. Eu sei que você é forte, rapaz. Você é o senhor de si mesmo, e só vai deixar a droga te dominar se você quiser. -Ele colocou o cigarro na mão de Rafael. -Pense nisso. -E saiu andando.

Rafael pensou, e como pensou!

Pensou em Eduardo, pensou em sua irmã, pensou em Ronald e pensou até mesmo nos vários meninos que estavam na Vila e eram dependentes da droga, mas eram tão novinhos.

Ele havia relutado tantas vezes contra a ideia de usar qualquer tipo de droga, ele via como as pessoas perdiam tudo o que possuíam ao usar aquilo, ele sempre teve em mente que ele não perderia nada, mas agora... Ele não tinha mais nada.

Não tinha nada a perder.

-Oi. -Uma voz fina o cumprimentou, interrompendo seus pensamentos. -Posso falar um minutinho com você?

Rafael levantou o rosto para observar a moça que estava a sua frente e seus olhos capturaram cada detalhe minunciosamente como se fosse a primeira vez que via a jovem. Os cabelos desgrenhados pelo vento, a pele clara iluminada pela luz da lua a tornava tão angelical que Rafael não pode conter um suspiro, mas o que mais o chamou a atenção eram aqueles olhos.

Mesmo com a escuridão da noite e algumas gotas de chuva que atrapalhavam, os olhos esverdeados da moça brilharam em reconhecimento.

-Rafael... -Ela sussurrou.

-Teresa. -Ele só conseguiu mexer os lábios.

Tudo ao redor do jovem pareceu parar momentaneamente.

Feito de PedraWhere stories live. Discover now