Eu te suplico, Pai

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"E qual o pai dentre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou também, se lhe pedir peixe, lhe dará por peixe uma serpente?"
(Lucas 11.11)


     Três policiais estavam com Rafael. Dois iam sentados no banco da frente e outro ao lado do rapaz.

     -Vai ser fácil, fácil ganhar dinheiro com esse moleque ai! –O policial que estava no banco do carona começou a gargalhar e levantou um saco cheio de cocaína.

     Rafael respirou fundo, não sabia se ficava aliviado ou ainda mais assustado. Suspeitava que aqueles policiais soubessem de fato que ele era traficante, eles apenas iriam fingir que aquela droga era do rapaz para poderem ganhar dinheiro em cima de tudo aquilo.

     Mas então o jovem se lembrou do que Leandro havia falado para ele, Rafael ainda era menor de idade, e em um país como aquele ele ainda podia andar livre, leve e solto, pois ele, pela lei, não tinha consciência dos seus próprios atos. Aqueles policiais não iam conseguir nada com ele, talvez... Rafael pudesse usar aquilo em favor de si mesmo.

     -Vocês não podem me prender. –O rapaz falou interrompendo a cantoria dos três policiais. –Eu sou menor.

     -COMO É QUE É? –O policial que estava no volante trovejou.

     Rafael ficou em silêncio, péssima ideia. Claro que se você olhasse para o rapaz você nunca ia dizer que ele era menor, Rafael sempre teve um porte atlético bem desenvolvido e seu rosto era sempre duro pelas pancadas que a vida dava.

     -Anda garoto! Responda! –O policial moreno que estava ao seu lado deu um soco em seu rosto e Rafael sentiu como se seu nariz tivesse saído de seu rosto. Na mesma hora seu sangue ferveu e o rapaz quis revidar, mas as algemas que prendiam seus pulsos impediam o ato.

     -Procure a carteira dele, deve ter algum documento. –O que estava no banco do carona sugeriu.

     Ainda entorpecido pela dor, Rafael não fez nenhuma menção de impedir que o policial que estava do seu lado mexesse em seus bolsos até encontrar sua carteira. Agilmente o homem a abriu e tirou de lá o RG do rapaz:

     -Rafael Mendes Oliveira, natural de São Paulo, nascido no dia dezessete de outubro de mil novecentos e noventa e oito... –O policial leu timidamente.

     -DROGA! –O do volante gritou e deu um soco no som do carro.

     -Calma, Francis!

     -Calma nada, Luan! –Francis abriu a boca para gritar mais alguma coisa, mas foi interrompido pelo barulho do rádio. –Atenda.

     Luan revirou os olhos, e a contragosto atendeu a chamada.

     -Sim, senhor?

     -Precisamos de reforços na Avenida Bule Lindsey, está tendo confronto. Venham o mais depressa possível.

     -Entendido. –Luan desligou o interfone. –Temos que ir.

     -E o que a gente faz com o pivete? –O policial que estava ao lado de Rafael perguntou.

     -Ah, a gente deixa ele em qualquer canto por aí. –Francis deu de ombros com um sorriso macabro em seus lábios.

     Francis parou o carro em um lugar bem deserto com grandes árvores sem nenhuma movimentação de pessoas. Pegaram Rafael e assim que o jogaram no chão começaram a bater no rapaz.

     Eram tantos socos e chutes que Rafael só conseguiu pensar em proteger o rosto.

     -Não acha que já está bom? –Luan perguntou.

     -Eu ainda acho que falta o grande final! –Francis sorriu e tirou a arma da cintura apontando diretamente para Rafael.

     A cabeça do rapaz girava e a dor era quase insuportável, sangue escorria de seus lábios e a visão da arma apontada para si não foi de longe a pior coisa que havia acontecido.

     "Eu te suplico, Pai, por favor, não se esquece de mim

     Pois sem Ti eu não posso viver

     Eu te suplico Pai, eu te suplico Pai

     Por favor, não se esquece de mim

     Pois sem Ti eu não posso viver...".

     Dizem que quando você esta prestes a morrer, toda a sua vida passa diante de seus olhos, mas a única coisa que estava na cabeça de Rafael era a música que ele havia escutado na igreja.

     Com tanta dor em seu corpo o rapaz fechou os olhos e esperou o barulho do tiro selar o seu destino.

Feito de PedraWhere stories live. Discover now