Uma ajuda de verdade.

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"O homem que tem muitos amigos pode congratular-se, mas há amigo mais chegado do que um irmão."
(Provérbios 18.24)


     Mesmo não entendendo quase nada, Rafael se sentiu bem ao ir a igreja. Pela primeira vez, depois de muito tempo ele sentiu uma paz que parecia ser luxo pela forma como vivia.

     Ele queria mais, se com apenas uma reunião ele havia ficado daquela forma, imagine se ele conhecesse o Deus que tanto falavam?

     -O Pastor Carlos quer conversar com você, pode ser? –Júlio sorriu.

     Rafael concordou sem nenhuma relutância, dentro de si ele não sabia o porquê, mas tinha plena certeza que podia confiar naquelas pessoas.

     Júlio não havia se afastado em nenhum momento do rapaz, e Rafael não reclamou daquilo. O jovem parecia ter a mesma idade que ele, era alto com os cabelos escuros assim como seus olhos, que sempre ficavam atentos quando Rafael contava algo.

     Era bom ser escutado de vez em quando.

     A maioria das amizades de Rafael havia começado porque as pessoas se interessavam naquilo que ele tinha e naquilo que ele era, mas Júlio era diferente, ele não se importava nem um pouco, mesmo com o rapaz ali, mostrando seu pior estado, Júlio estava ao seu lado em silêncio transmitindo toda a força e confiança, mesmo que nem se conhecessem.

     Rafael agradeceu em silêncio por tudo aquilo.

     -... Olha, eu já fiz de tudo por você, mas eu não posso me entregar por você! –Um rapaz alto falou e Rafael deduziu ser o Pastor Carlos, ele não queria escutar a conversa que ele estava tendo com a jovem, mas acabou sendo inevitável. –Me diz, há quanto tempo você está dessa forma? Há quantos anos você vem nessa igreja e só esquenta o banco? –Ele respirava fundo e seu pescoço estava vermelho. –Não adianta chorar, lágrimas não vão fazer com que Deus tenha pena de você, Tânia. Você tem que tomar uma atitude de se entregar de verdade!

     A jovem concordou balançando a cabeça com seus vários cachos balançando, ela estava de costas para Rafael o que dificultava a visão do rapaz, mas ele podia perceber a tensão do corpo da moça.

     -Eu quero me entregar! –Ela sussurrou com a voz rouca.

     -Você tem certeza? Quantas vezes você não disse isso e acabou desistindo no meio do caminho?

     -Milhares.

     -Vai ser só mais um banho?

     -Não, se dessa vez eu não conseguir, eu quero que Deus acabe com a minha vida.

     O Pastor concordou e chamou uma mulher que estava vestida com um uniforme:

     -A Obreira vai te levar até o batistério, eu já estarei subindo.

     A jovem se virou e seus olhos se encontraram com os de Rafael.

     Ele se lembrava da moça que havia se sentado ao lado dele quando ele havia ido pela primeira vez na igreja. Seu rosto estava mais magro, e seus olhos tão tristes que Rafael quis perguntar o que estava acontecendo, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa, Tânia desviou o olhar e ergueu a cabeça indo em direção a Obreira. Mesmo de longe, o rapaz sentiu um aperto no coração, o pescoço de Tânia tinha uma cicatriz enorme e parecia recente.

     -Olá. –O Pastor sorriu e estendeu a mão para Rafael.

     -Pastor, esse daqui é o Rafael. –Júlio o apresentou. –E, Rafa, esse daqui é o Pastor Carlos.

Feito de PedraWhere stories live. Discover now