Espelho, Espelho Meu

8:13

Pânico.

Dr. André já tinha me falado muito sobre ele.

Quando inesperadamente visitamos uma memória obscura, podemos ter uma reação imediata: falta de ar, palpitações, tremedeira...

Essa reação é o que nós chamamos de Ataque de Pânico.

Eu o tinha quase todos os dias desde... Desde o ocorrido.

Demorei semanas para me recuperar dos ferimentos. Faltei à escola, perdi provas, minha namorada veio me visitar...

Meu pai não pisou o pé em meu quarto. Primeiro porque minha mãe não deixava, segundo porque eu simplesmente começava a gritar.

Era horrível o sentimento.

Meu coração disparava como o de um alce ao perceber um leão à espreita, os braços e pernas tremiam ainda que engessados ou enfaixados.

Pior ainda, eu começava a reviver aquele dia.

Se visse meu pai por três segundos, eu passaria dois dias enclausurado no quarto.

Foi naquela situação que ele passou a se ausentar mais ainda de minha vida.

E eu não reclamei, pelo contrário, agradeci a Deus por aquilo.

Depois de curado, voltei para a escola com uma narrativa pronta.

— Fui andar de bicicleta a noite e acabei sendo atropelado.

Foram bons momentos. Minha turma se preocupou comigo, meus amigos me ajudavam e as meninas... As meninas me achavam um herói.

Foi quando Carla, minha namoradinha, se tornou um pouco desinteressante demais e eu decidi terminar.

Já tinham se passado dois anos, eu já estava crescendo. Com oito anos minha mente já era abastecida com as maiores experiências, correto?

Eu não tinha tempo para coisas supérfluas como o comprometimento.

E foi naquela época que eu conheci o Juninho e o Barsa.

Inspirei fundo. Eu estava tremendo.

Olhei ao redor e percebi que ainda estava no pátio, no mesmo lugar. O Zé me olhava um pouco intrigado.

— Tá tudo bem, garoto?

Mesmo que nada bem, sorri e acenei.

— Tá sim, Zé, tá tudo bem.