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— A comida daqui é uma delícia — comentou o Zé

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— A comida daqui é uma delícia — comentou o Zé.

Olhei sua perna inquieta de relance, ele estava próximo de mais uma crise de abstinência. Talvez estivesse se distraindo com a comida.

— Nisso você tem razão — concordei estendendo meu prato pela metade.

— Não vai querer?

Acenei negativamente. Não estava muito afim de sentir toda a comida revirar em meu estômago, por isso optei por quantias pequenas.

Uma das razões que me fez viciar no cigarro foi isso: apetite. Eu não conseguia manter uma comida por tempo suficiente no estômago se não estivesse calmo.

Eu tinha cerca de dez ou onze anos quando Barsa chegou na escola com um maço que tinha roubado do pai. Assistimos às aulas e fomos correndo para o lote do Dodô, loucos para sanar nossa curiosidade.

O lote era no alto de um monte e, por conta da morte do proprietário, estava sem capinar há alguns anos. Sentamos em um tronco qualquer e observamos Barsa retirar do bolso o maço e um isqueiro.

Ah, se eu pudesse voltar.

Você não sabe o quanto eu daria tudo para chegar exatamente naquele momento, exatamente naquela hora. No quanto eu daria para simplesmente encostar no braço do João do passado e pedir que não tomasse aquela decisão.

Existem pontos cruciais da nossa vida, momentos decisivos. "Pequenas" escolhas que fazemos e que causam uma virada extraordinária em nossa vida.

Seja ela para o bem, ou para o mau.

Pegar aquele cigarro, segurá-lo entre os dedos, acendê-lo e puxar a fumaça para dentro de mim foi uma dessas escolhas.

Eu entrava num caminho escuro, repleto de machucados e dores.

Um caminho sem volta.

Espelho, Espelho MeuWhere stories live. Discover now