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Os outros demoraram para chegar no pátio

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Os outros demoraram para chegar no pátio. As donas disseram que todos tinham decidido fazer uma birra.

— Lineu tentou trazer uma faca. Dizendo ele, não tem como deixar barato o gol de ontem — contou Dona Gertrudes.

— Essas duas aqui não paravam de colocar fitas no cabelo. – Dona Helena apontou para a Cida e sua irmã, elas realmente tinham mais fitas do que cabelo na cabeça.

Varri um ponto que já estava limpo, minhas mãos ainda tremiam de maneira irritante.

Eu precisava disfarçar. Todos ali se esforçavam para manter o ambiente menos depressivo do que já era. Não seria eu o diferente.

— Ficou bonito Cidinhas — elogiei, mesmo que de mentira.

As duas mulheres enrusbeceram e eu tive um pequeno golpe nostálgico. As garotas tinham a mesma reação no passado.

João, Juninho e Barsa. O trio mais popular da escola.

Éramos imbatíveis, perfeitos. Eu, com meus incríveis olhos folha-seca, conquistava todas as gatinhas; Juninho era ótimo em jogos como pi e doze, sempre saía com os bolsos repletos de dinheiro; e o Barsa era simplesmente forte, alto.

As meninas não paravam de falar da gente, recebíamos declarações... bons tempos.

Professora Antônia vivia dizendo que não teríamos um futuro sequer daquela forma, seríamos vagabundos como nossos pais.

Confesso que durante os anos aquele se tornou meu maior medo. Eu temia ser tão dissimulado quanto ele, tão desnorteado quanto ele.

Toda vez que ouvia a frase da maldita Antônia, meus pelos eriçavam e eu sentia os antigos machucados abrirem em minha pele.

Não, nunca. Eu nunca optaria pelo caminho de meu pai, eu seria diferente. Jurei que teria paz e não seria escravo do crack.

Infelizmente, eu esqueci que no mundo existem outros tipos de droga.

Espelho, Espelho MeuWhere stories live. Discover now