Capítulo 27

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Catarina olha para Heitor, e ele tem uma respiração leve. Estava dormindo há algumas horas e seu rosto estava sujo de terra e sangue. Ela molha outro pano.

– Acho que vou sujar todos os panos desse lugar. – Suspira e começa a passar o pano no rosto dele. E então Catarina percebe coisas que nunca havia visto antes, talvez por estar sempre olhando da forma errada. – Você até que é bonitinho. – Ela diz, baixinho.

Um pequeno sorriso torto se forma nos lábios dele. Catarina arregala os olhos e se afasta com seu rosto ardendo de vergonha.

– Obrigado. – Ele responde. – Eu acho. – Acrescenta e abre seus olhos verdes.

– Está me espionando? – Pergunta Catarina, irritada.

– Espionando? – Heitor pergunta, segurando o sorriso, e ela taca o pano nele.

– É, espionando. – Ele ergue a sobrancelha. – Fingindo que estava dormindo só para ver o que eu iria fazer.

– É, acho que eu estava espionando. – Ele admite, sorrindo, e Catarina se permite achar seu sorriso um pouco bonito. – Mas não o tempo todo, só a partir do momento em que você começou a limpar meu rosto. – Catarina fica em silêncio. O humor desaparece do rosto de Heitor. – Eu nunca disse que você usava calças para se destacar, de onde tirou isso? – Ele pergunta.

– Christian me falou, uma vez, que você tinha dito a ele algumas coisas sobre mim, e uma delas foi que eu usava calça pra provar que era diferente. – Responde Catarina, dando de ombros, e Heitor fica pensativo por alguns segundos.

– Não com essas palavras e, com certeza, não com essa maldade. – Ele responde parecendo um pouco confuso. – O que eu disse foi que só tinha visto uma garota usando calças e que ela não parecia as outras que eu conhecia. – Catarina fica em silencio. – Estava certa quando disse que eu não lhe conheço, sempre quis conhecer, mas nunca nem fomos apresentados.

– Não seja por isso. – Diz Catarina e estende a mão. – Prazer, meu nome é...

– Não. – Ele interrompe e ela para de falar. – Quero ter uma desculpa para falar com você depois que sairmos dessa floresta. Por isso, não irei te agradecer e nem me apresentar. – Catarina abaixa a mão e balança a cabeça.

– Eu acho que isso não é uma boa ideia. – Responde e Heitor fica em silêncio. – Eu sinto muito, mas não podemos ser amigos.

– Eu fiz algo contra você? – Ele pergunta, e Catarina desviar o olhar.

"É claro que fez". É claro que ele tinha feito, Heitor fez muitas coisas; Salvou a vida dela, duas vezes, e agora Catarina tinha uma dívida eterna, enfrentou o próprio pai por ela. Heitor tinha feito muitas coisas, mas ela sabia que nenhuma dessas coisas era razão para se afastar. Mesmo assim, como poderia dizer que o mantinha afastado por que seu pai tinha tido um caso com a mãe dela? Como dizer para Heitor que ela não conseguia tê-lo por perto porque ele lembrava tudo de ruim que havia acontecido com ela? No fundo, Catarina sabia que tudo que aconteceu não tinha sido culpa de Heitor, mas isso não tornava as coisas mais fáceis, muito pelo contrário, tornava tudo mais difícil e era por isso que ela não queria nada que viesse dele.

– Não é nada com você. – Mente Catarina. – Eu tenho esse problema, afasto as pessoas e não sou boa em fazer amizades.

– Acho que não está sendo sincera. – Ele diz. – Mas, se você prefere assim; obrigado por ter salvado minha vida.

– Se não fosse por você eu não estaria aqui, então agradeça a si mesmo. – Responde ela, e Heitor a encara confuso. – Foi uma piada, também não sou boa com elas. – Heitor ergue a sobrancelha, ainda mais confuso. – Isso foi ao mesmo tempo um obrigada por você ter salvado minha vida, nas duas vezes, e um de nada por eu ter salvado a sua. – Acrescenta e Heitor começa a rir. – Você entende agora por que eu não costumo fazer amigos, certo?

1 - Sobre Meninas e LobosOnde as histórias ganham vida. Descobre agora