TERCEIRO

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Ela deixou a máscara cair bem em cima do monte de roupas que já repousava no chão em frente à ela. A música ainda não havia parado de tocar e ele não pararia de olhá-la tão cedo. Havia algo de exótico nela que ia além do striptease. Algo que o fazia desejá-la ardentemente.


Estacionei o carro em uma travessa pouco movimentada, esperando que ele estivesse no mesmo lugar quando eu retornasse. Definir minha situação atual como nervosismo seria um eufemismo incrível. Minhas mãos suavam constantemente e uma trilha de suor cascateava pela minha coluna, me deixando ainda mais nervosa. Para completar a minha situação, eu não conseguia parar de tremer. Mas que droga!

Assim como o previsto, meu celular começou a tocar justamente no horário em que havia combinado com Peter. Ele estava preocupado comigo desde que eu lhe contara sobre o que acontecera naquele bar. Segundo ele, Theo não era alguém a quem ele confiasse, ao contrário de Nate, ainda que Pete não tivesse me contado de onde conhecia Nate Newman.

- Você está nervosa, não é? - disse ele depois que atendi e não disse nada. Eu bem queria responder educadamente à sua saudação, mas minha garganta estava seca demais. Depois que, magicamente, Theodore havia conseguido meu telefone e enviado uma mensagem pedindo para que eu lhe encontrasse naquele endereço, minha primeira providência havia sido procurar na internet o que exatamente se localizava nas coordenadas que eu havia recebido por ele, via mensagem de texto.

E ali estava eu, a duas esquinas de uma boate de striptease.

- Não tem nada demais, Jess. São apenas mulheres tirando a roupa ao som de uma música qualquer. Corpos femininos iguais aos seus.

Com certeza não. Aquelas mulheres que deslizavam suas sumárias peças pelas suas peles brilhantes de glitter, realmente tinham curvas e pouca gordura corporal, apenas o bastante para lhes garantir o título de gostosa. Não eram como eu: estranhas. Novamente eu havia tentado me vestir adequadamente, mas agora, ali no carro mesmo, tinha o pressentimento de que não havia sido tão bem sucedida.

- Ok.

- Observe tudo, tome notas. Talvez a sua protagonista possa ser uma stripper, pense bem. - assenti, e só então me lembrei que Peter não podia me ver, fazendo com que eu repetisse o meu "ok" e lhe garantisse que ligaria quando voltasse para casa.

Eu deveria ter ido usando algum sapato com saltos altos, mas como não havia nenhum em meu armário, lá estava eu com mais uma sapatilha floral. Pelo menos esta era mais escura e combinava com meu vestido preto, geralmente utilizado para enterros e cultos religiosos aleatórios aos quais eu comparecia. Algo me dizia que as pessoas ali usariam preto e eu não me sentiria tão deslocada assim.

Porém, ao me aproximar da porta da boate, notei que estava errada.

Sim, haviam diversas pessoas vestindo preto, mas as diversas formas de nudez me deixaram imediatamente desconfortável. Não por elas, por mim. Meu vestido tinha mangas compridas e o colarinho alto com rendas brancas. Adoravelmente antiquado. Porém, naquele momento ele parecia apenas terrivelmente inadequado.

Eu parecia uma freira e recebera os mais estranhos olhares enquanto me encaminhava para a frente da boate, onde Theodore havia combinado de se encontrar comigo dali dois minutos, se meu relógio estivesse correto e ele fosse pontual. Afinal, ao menos uma qualidade aquele brutamontes tinha de ter.

Mesmo com minhas pernas razoavelmente à mostra, afinal o vestido terminava pouco acima do joelho, eu ainda me parecia com uma babaca. Não me surpreenderia se vetassem a minha entrada acreditando que eu estava ali por engano. Apoiei-me num canto escuro da parede, onde podia ver a entrada sem ser tão visualizada e esperei por Theodore.

WingsWhere stories live. Discover now