DÉCIMO SEXTO

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O homem colocou a mão no ombro do capitão, achando que aquele seu gesto era demasiado ousado, entretanto, era o que o Corsário necessitava. Uma mesma pergunta se repetia na mente do marujo, porém, não teve coragem necessária para proferi-la em voz alta. O gesto de conforto já era mais audacioso do que jamais pretendera. "Por que a deixou partir se o seu coração não queria dessa maneira?", era a questão que tanto ansiava em pronunciar. Caso tivesse ousado dizê-lo, receberia como resposta um olhar triste do tão imponente Capitão, o impiedoso desbravador de mares, o temível Corsário Negro. E se o tal decidisse colocar sua dor em palavras, responderia: "Porque minhas asas não eram o bastante para protege-la de mim mesmo. Amá-la de todo o meu coração apenas lhe traria danos. Eu não seria capaz de ser o homem que ela sempre precisara. Eu sou um homem do mar, não um nobre. Sou um rude, estúpido insensível que não saberia atender às necessidades que a sua natureza delicada exigia. Ser aquele que mais a amará não valeria de nada. O amor nem sempre é tudo o que precisamos. E certamente o meu não era o que a minha estimada Dama necessitava."



Saindo de trás do balcão, o homem encarou o irmão gêmeo com os olhos completamente vermelhos de lágrimas. Havia ouvido cada uma das palavras trocadas por sua amada Jessica com o seu irmão enquanto ele se fazia passar por Theodore. Porém, o rapaz de cabelos compridos sabia que jamais conseguiria dizer adeus à Jessica se olhasse em seus olhos.

Todas as cabeças no bar ainda estavam viradas em suas direções, então decidiram, em um movimento de cabeça característico, que permitia ao gêmeos se comunicarem sem nem ao menos precisarem de palavras para fazê-lo, ir ao escritório.

Ambos caminharam, com a mesma determinação calma para o espaço onde Theodore ocupava suas horas algumas noites por semana. Ocupando a cadeira maior, diante do computador, o irmão de cabelos curtos sentou-se na cadeira mais baixa, encarando o gêmeo idêntico com um olhar que mesclava tantos sentimentos que era impossível de se interpretar.

Os olhos de Theo estavam vermelhos, prova de como a noite anterior havia sido difícil para ele, mas Nate havia visto os olhos de Jessica Sandford também, havia a observado o suficiente para saber que o mesmo sofrimento que abatia seu irmão, estava corroendo a alma da garota também.

A troca havia sido ideia de Theo. Assim que Oliver havia chego no estoque dizendo que uma garota bem arrumada estava procurando pelo chefe, os dois souberam imediatamente de quem se tratava, porém, o dono do bar não tinha forças para lidar com Jessica, não quando o seu coração ainda estava partido. Por isso havia pedido para seu irmão que fizesse o que sempre costumavam fazer quando crianças: se passar por ele.

Era algo comum. Todos os gêmeos do mundo já haviam feito isso em algum determinado momento da vida, ou para enganar os pais, ou os professores, amigos, namoradas ciumentas ou qualquer coisa do gênero. Com os meninos Newman não havia sido diferente. Theo conseguia imitar o tom de voz mais suave e doce de Nate perfeitamente, assim como assumir trejeitos um pouco mais calmos que caracterizavam o outro. Assim como Nate engrossava a voz e se tornava sarcástico e rude, com movimentos mais firmes e másculos que nada tinham a ver com a sua personalidade comum. Porém, isso só funcionava até que alguém os visse juntos. Os cabelos compridos de Theodore e a falta de tatuagens de Nathaniel eram os melhores indicadores para se identificar quem era quem.

- Não farei isso. Seja um homem e vá falar com ela. - dissera enquanto o barman esperava na porta se deveria dizer para a moça bem arrumada se ela deveria voltar outra hora ou não.

Theo passou os dedos pelos cabelos longos, confuso e em dor, encarando o irmão novamente, os olhos inchados, a expressão digna de pena.

- Você me deve um favor de vida. - sussurrou, enquanto Nate o encarava chocado. Theo jamais cobrara aquele fatídico dia onde o havia salvo de si mesmo e de sua baixa autoestima. Jamais havia lhe pedido nada em troca, pelo contrário, continuara ajudando Nate em tudo o que ele necessitara e ainda mais. A tal Jessica devia ser muito importante para levar o tão durão Theodore Newman a lembra-lo daquele favor tão importante.

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