DÉCIMO QUARTO

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Os olhos dele se fixaram nos da sua dama, como ela fazia consigo. As íris presas uma na outra, os corações batendo na mesma sintonia, os corpos colados e suados identicamente, prontos para o que deveria ser o momento mais importante de suas vidas. Era a primeira vez da senhorita. Era o primeiro contato permanente com a atmosfera sexual, porém, ao invés do medo que todas as senhoritas descreviam nas salas das mulheres durante os bailes, ela não sentia nada mais do que ansiedade. Deveria atribuir tal fato ao quão bom sentiam-se suas terminações nervosas sob as mãos calosas e firmes do corsário? Porém, a que ele atribuiria aquela sensação em seu âmago? A que ele culparia por sentir-se como um iniciante, com todo aquele tremor, como se fosse seu primeiro saque ou o seu primeiro beijo em uma mulher? Não haviam culpados. Não havia nem sequer tempo. O que havia fora daquele quarto era completamente dispensável enquanto encaravam-se daquela maneira. Tudo o que precisavam era daquele contato tão satisfatório e inebriante. Precisavam apenas selar aquele momento da maneira como ansiavam, carnalmente, sob a pele, permanentemente, se fossem corajosos o bastante para admitir. "Estás certa de que isso é o que deseja? Uma vez que seu corpo for meu, sua alma também o será." "E em qual porto intentas deixar-me, senhor?" A questão fez com que o Corsário segurasse os cabelos dela, puxando sua face próxima o bastante da sua para que suas palavras fossem ditas apenas para ela, sabendo que era o seu coração quem as dizia. Nunca as dissera antes, porém não estava arrependido disto, ao contrário, se exultava em saber que as dissera para alguém que realmente lhe impelia a dizê-las. "Jamais a deixarei. Não seria capaz de deixar o meu melhor tesouro, aquela que saqueou meu coração como a melhor dos piratas. Jamais a deixarei." E tendo dito, deixou que seu corpo mergulhasse no calor úmido de sua prezada dama.



Estacionei o carro e não pensei duas vezes, descendo dele e voltando uma quadra, afinal eu havia parado distante o bastante da infame porta vermelha para permitir a mim mesma o benefício da dúvida. Ainda havia a possibilidade de voltar atrás, decidir que aquilo não era exatamente o que eu deveria fazer. As razões contra eram inúmeras, e apenas para começar a citá-las, poderia lembrar a mim mesma que aquilo era um contrato, visando apenas o lado financeiro, poderia também refrescar a minha mente com o fato de que lhe pagava quinhentas libras por encontro, ou o simples fato de que eu o conhecia há pouco menos de um mês. Como eu poderia ter tanta confiança em alguém que era praticamente desconhecido.

Eu estava ciente de que havíamos partilhado de uma intimidade que eu jamais fora capaz nem sequer de que existia, mas não era um fato no qual eu poderia respaldar a minha decisão tão inabalável. Havia uma luta em meu interior onde eu tentava desiludir a mim mesma de que aquela era uma boa ideia. Porque não era. Eu sabia o que estava fazendo ali, sabia quais eram meus desejos e sabia o quão errados eles eram, ainda que parecessem tão bons e tentadores.

Ao chegar à Cherry, notei que a garota de mesmo nome estava parada do lado de fora, segurando a porta aberta com um sorriso enigmático que eu não quis interpretar.

- Olá, princesa.

- Na verdade, meu nome é Jessica. - corrigi-a, não sabendo exatamente se o termo de tratamento havia sido sarcástico ou não.

- Jessica. É um nome bonito. Agora entre, ele está à sua espera.

Aquelas palavras deveriam me deixar tão nervosa? Minhas mãos automaticamente tornaram-se frias, diferente de minhas bochechas que senti intensificarem o rubor, já presente pelo rumo dos meus pensamentos, e agora ainda mais vermelhas por saber que Cherry tinha a plena ciência do que aconteceria dentro daquele pequeno apartamento, ou fosse como fosse que Theodore chamava seu lar.

WingsWhere stories live. Discover now