SEXTO

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O seu covil era escuro, sombrio e apesar de parecer com um aposento comum, ela ainda temeu por sua própria segurança. Aquele local não possuía as mesmas grades de sua cela, mas por alguma razão completamente irracional, ela sentiu que corria mais riscos ali, do que o fazia encarcerada.


- Você mora...

- No sex shop? Bem, digamos que sim. A história é longa demais para te explicar agora.

Theodore deu de ombros e foi o bastante para que eu decidisse não insistir. Descalça, dei uma volta pelo que correspondia à sala, observando a estante cheia de livros e fotografias, o estofado e alguns adereços pendurados na parede.

Havia uma guitarra vermelha pendurada em um canto e no outro alguém havia desenhado com spray um enorme par de asas, decorando todo um espaço. Asas como aquelas que eu havia sonhado dias atrás. Meus passos errantes me levaram até lá e toquei o desenho, sentindo o local onde a tinta estava um pouco mais oleoso do que a superfície porosa da parede.

- Elas representam liberdade?

- Talvez. - ele sorriu e se aproximou, parando ao meu lado. Observando o desenho como eu fazia, sem me dar qualquer explicação maior e percebi que se eu queria que ele dividisse alguma informação comigo, teria que dividi-las com ele também.

- Sonhei com asas como essas, dias atrás. Idênticas.

O seu olhar sobre mim durou pouco, apenas observando-me, parecendo ainda mais avaliador agora que estávamos lado a lado e ele conseguia mensurar a nossa enorme diferença de altura.

- Elas tem vários significados. Liberdade, proteção, inspiração, vitória. Ou em alguns casos, ela pode significar o desejo de algo maior, algo mais, algo inatingível, às vezes.

- O que elas significam pra você?

- Eu achava que significava algo, mas não estou tão certo mais.

Observando o enorme par de asas, perguntei-me o que elas deveriam significar para mim, uma vez que eu sonhara com elas por diversas vezes. Inspiração, provavelmente. Eu precisava de toda a inspiração possível se quisesse terminar aquele livro erótico. E quanto mais rápido eu o terminasse, mais poderia me dedicar aos meus livros históricos.

- Quer conhecer o resto?

Seus dedos apontavam a escada estreita, sem corrimão e me vi assentindo, ansiosa por conhecer aquele lugar em sua totalidade. Diziam que a melhor forma de conhecer alguém, era através de sua casa. Talvez eu teria uma ideia melhor sobre quem era Theodore Newman quando visse como estava decorado o seu lar.

Não era difícil ter uma impressão sobre mim quando se visitava minha casa. Livros, chás e história inglesa estavam impressos em todos os cantos, em móveis, quadros e outros artigos de decoração. Porém, havia tanto a se observar na casa de Theodore que não sabia quais impressões todos aqueles objetos me davam.

- Como anda o livro? - sua pergunta possuía uma curiosidade sincera e me despertou um sorriso. Eu sempre adorara que as pessoas me perguntassem sobre a minha maior paixão. Fazia com que, mesmo por breves instantes, eu sentisse que minha arte era reconhecida. E nada me fazia mais feliz do que minha escrita.

- Escrevi algumas cenas, mas enfrentei problemas com o enredo. - apesar de parecer interessado, havia um verdadeiro ponto de interrogação diante de seus olhos, não compreendendo em absoluto o que eu estava tentando explicar. Acostumada com essa reação, usei minha abordagem mais popular. - Não sabia exatamente como juntar tudo em uma história, entende?

WingsWhere stories live. Discover now