[SINOPSE]: Harry trabalha em um jornal, mas está sempre cercado das mesmas coisas, dos mesmos lugares e das mesmas pessoas. Até que um dia ele resolve virar outra esquina e tudo muda de lugar.
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A pior parte é quando você se acostuma.
Quando seu coração já está fincado nas coisas e pessoas da vida. E é quando eu preciso quero ter algo para desejar pelo queimar que nossa pele sente ao ser surpreendido pela vida. E não flutuando sobre ela.
Odeio estar no mesmo ponto todos os dias como onde estou. Eu poderia dizer que meus pensamentos e sentimentos, são mais altos do que o barulho do metrô. Do "plim" a cada vez que uma porta se abre e se fecha outra vez. Mas é quase impossível te dizer sobre isso.
Acordo às 5 da manhã, todos os dias. Assim como refaço a mesmas coisas depois de acordar.
Ler o jornal que o senhor Carlos entrega enquanto sento no vaso contando quantos minutos eu ainda tenho para pentear o cabelo.
Vestir a camisa, reclamar que o tempo de Londres não me deixar usar coleções de verão, sair correndo até a estação.
Quando chego, ainda tenho 10 minutos para o café logo depois da escada, em ponto bem discreto e escuro antes das plataformas. Uma mulher me dá a mesma durante os três anos, ela sempre parece muito ocupada ao servir os pedidos por todo o balcão, mas sempre reserva um tempo para sorrir e dar o bom dia.
E existe o mesmo fiscal a dois anos. Sempre sorrindo e com os olhos azuis brilhando, como se estar acordado as 5:30, fosse dádiva dos céus e o mundo não fosse tão fodido debaixo de todo aquele chão.
Um outro "plim" e eu já estou sentado na mesma cadeira do lado esquerdo do vagão do meio. A vida não devia ser feita de rotina, mas parece que não tive escolha. Sou feito do dia–dia, mas sentindo falta do acaso. Diria que é uma merda ser eu, que seria uma outra merda maior você ficar triste pela sua vida ao se deparar com um apartamento duplex, um carro na garagem que quase nunca viu chão ou a conta bancária. A um outro tempo atrás, eu olharia para o meu presente e sentiria orgulho dos meus desejos sendo preenchidos com tanta sutilidade. Porém, olhando do presente para o passado, sinto que me perdi do meio do caminho e queria ter de volta a vontade de sonhar por algo a mais.
Harry Styles, você é o maior filho da puta, ingrato, de toda a terra.
Sim, esse sou eu.
....
Nessa altura do campeonato, estar sentado naquela cadeira de couro as 9 da manhã, era sinônimo de cansaço mental por tantos textos a serem aprovados. Meu cérebro doía, eu posso lembrar. As vezes, estar cercado de paredes de vidro no meio de uma redação me fazia sentir ainda mais vulnerável a fragilidade. Palavras, palavras, palavras. Como um dia eu pude sonhar em viver de palavras? Pois quanto mais eu lia, mais convencido eu ficava de que palavras eram apenas folhas A4, totalmente rabiscadas pelo mau humor matinal e da dor de cabeça de receber o cheque no final do mês.
