Prólogo

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Angie tinha tingido uma bandana de laranja na noite anterior. Ela era velha, esfarrapada, e o resultado não foi dos melhores. Mas ela não se importava. Pensava que os fiapos se pareciam um pouco com ela. E, no fim, isso era legal.

Ela colocava seu tênis verde quando a imagem de Taylor apareceu na sua cabeça. Se pudesse, Angie se livraria daqueles pensamentos se estapeando na cara. O problema era que toda vez que pensava nele, seu estômago revirava, e ela sentia como se todos os seus órgãos estivessem flutuando dentro dela. Não era a melhor das sensações.

Ela olhou para baixo, pensando que ele devia ter esgotado o seu cérebro, e ela precisava fazer alguma coisa a respeito. Angie usava apenas um dos tênis, quando seu telefone tocou, e era Zac. Ela não conseguia ouvi-lo bem, mas provavelmente era ele dizendo que já a esperava há pelo menos meia hora.

_ Já estou indo! Um segundo! _ a música tocando no seu quarto era alta, e ela gritou, mais porque ela mesma não conseguia ouvir nada.

Ela sabia que estava atrasada. O Taylor me atrasa! Angie sentia como se Taylor sempre a estivesse segurando. Mas não podia contar isso exatamente pro irmão dele.

Quando finalmente conseguiu encontrar o outro tênis, respirou fundo. Era uma batalha todo santo dia.

Angelica Templeton morava com a mãe e o irmão mais velho, Alex, em uma casa azul clarinho em um bairro calmo. A residência era rodeada de grama verde por todos os lados exceto por três roseiras no jardim frontal, que tinham sido plantadas por sua avó, assim que eles se mudaram para a casa, 11 anos antes. As rosas que ficavam perto da varanda eram brancas, amarelas e vermelhas, e Angie gostava de cuidar delas. Pensava que a avó, que morreu quando ela tinha 12 anos, iria ficar feliz. Os pais de Angie eram divorciados, nada que a fizesse sofrer. Mas ela tinha certeza que sua mãe, Magdalene, odiava. Mesmo sem falar muito com o irmão, sabia que ele concordava.

Além da mãe e do irmão, as pessoas que Angie mais amava no mundo eram Taylor e Zac. Eles moravam na casa ao lado, com os pais e outros cinco irmãos. Os Hanson eram a família perfeita, e Angie amava se sentir parte dessa família.

Ela não se lembrava quando tinha começado a amizade com Taylor, porque parecia que sempre tinha sido assim. Eles sabiam tudo da vida um do outro, compartilhavam segredos e detalhes da vida amorosa. No caso, ele compartilhava. Ela se sentia como um dos meninos e nunca havia gostado ou se envolvido com ninguém.

Angie cresceu ao lado de Alex, Taylor, Zac e Isaac, o irmão mais velho deles. Ela jogava bola com eles, saía com eles e meio que se vestia como eles. Gostava de arrumar, mas não tinha uma predileção por vestidos, saias e maquiagem. Como Taylor sempre dizia que ela era bonita, sensível e feminina, nunca se preocupou muito com isso.

Até seu aniversário de 16 anos, um ano antes, Taylor era apenas seu melhor amigo e a pessoa favorita da vida inteira dela. Até aquele dia, ela nunca tinha pensado nele como um ser humano masculino. Uma vez tinha sonhado que o beijava, mas aquilo tinha sido esquisito e ela nunca contou nada. Era só isso. Mas naquele dia tudo mudou.

O aniversário de Angie caía no meio de junho. Ela não queria festa, mas sua mãe e Diana, a mãe dos amigos vizinhos, a convenceram de dar um jantar para alguns amigos e família. No fim das contas, embora não admitisse, estava gostando bastante.

Angie comprou um vestido para aquela noite. Não era nada de extraordinário. Apenas um vestido curto verde-bandeira tomara-que-caia, que ela usou com sapatilhas pretas. Ela tentava não pensar muito a respeito, mas o fato era que ela havia escolhido a roupa pensando que Taylor diria que ela estava bonita. Estava ansiosa, queria que ele a visse. Até maquiagem Angie passou naquele dia. Gastou horas imaginando como seria quando ele botasse os olhos nela vestida daquele jeito. Ele a abraçaria e sorriria e falaria que ela estava linda, olhando para ela com aqueles olhos de safira.

Todos foram à festa, até o pai de Angie. E ela ficou feliz de ver que a mãe estava bem com aquilo. Mas ela pensava que Taylor seria o primeiro a chegar, e ele estava era bem atrasado. Começou ficar nervosa porque não o havia visto durante o dia, mas tentou se concentrar no fato de que ele adorava preparar surpresas, e a demora devia fazer parte de alguma delas. Mandou uma mensagem de texto perguntando onde ele estava, e a resposta foi o que ela esperava. Ele tinha uma surpresa afinal. A partir dali, cada minuto pareceu uma década. Angie agora se preocupava se o cabelo ainda estava no lugar e se a maquiagem estava derretendo. Aquilo era tudo para ele, ainda que ela não tivesse a menor consciência disso. Ela ficava aterrorizada de pensar na hipótese de gostar de seu melhor amigo, então, nos últimos dois meses, fingia que não estava louca pra vê-lo sempre ou que não o abraçava mais forte pra sentir seu cheiro ou que não tinha ciúme das garotas da escola que babavam por ele. Taylor era lindo. Ele era. Mas ela não queria pensar a respeito.

Quando ele finalmente chegou, Angie abriu a porta e se deixou envolver pelo abraço, rindo enquanto ele falava "feliz aniversário" dez vezes. Ela amava os abraços dele, mas tentou ser rápida e se soltou.

_ Por que você demorou tanto? - ela deu um soquinho de leve no ombro do amigo.

_ Já devia saber que você estaria roendo as unhas de curiosidade.

Sim. Ela estava. Morrendo de curiosidade. Então, ele se aprumou e seus olhos se iluminaram, e Angie achou que devia ser algo muito legal porque ele estava fazendo um auê a respeito. Ele sorriu.

Ele não me elogiou.

_ Lembra quando eu falei que estava gostando muito de uma menina?

Ok, aquele era um péssimo começo para uma supresa de aniversário. _ Lembro. Candace. O que tem ela?

O sorriso dele aumentou.

_ Ela está aqui!

Taylor puxou a menina para a frente da porta. _ Candace, essa é a Angie, minha melhor amiga. Angie, essa é a Candace, minha namorada.

Namorada. Namorada. Namorada. Angie parou de raciocinar. Falou algo sobre estar feliz em conhecê-la e ouviu de Candace que Taylor falava muito sobre ela. Ela sorriu, como um robô. Antes de entrar na casa de mãos dadas com a menina, Taylor beijou a testa de Angie e disse que ela estava bonita. Mas tudo o que ela conseguiu ouvir pelo resto da noite foi o som da expressão "minha namorada" sendo falada por ele.

Angie passou mal no seu aniversário. Ia e voltava do banheiro, querendo vomitar de dentro dela algo que ela nem sabia o que era. Ela queria dar na cara dele por estar namorando, e dar na cara dela por estar dentro da sua casa, e matar os dois por se beijarem na sua frente. Era como se ela o estivesse perdendo e não havia como voltar atrás.

Nas semanas e meses seguintes, as coisas foram se pondo no lugar, os sentimentos se encaixando. E ela percebeu que toda aquela admiração, aquela impaciência, o ciúme e os sonhos que ela passou a ter só podiam ser uma coisa: amor.

Amor que desde então ela lutou para esconder, para esquecer. Amor que só piorou sua situação, pois cada vez mais ela se escondia dentro dela mesma. Amor que fez com que ela sentisse que morria um pouco a cada dia sozinha e um pouco mais quando passava o dia com ele. Amor que quanto mais ela queria esconder, mais claro ele ficava. Amor que quanto mais ela queria esquecer, mais forte se tornava. E mais ela se enfraquecia.

Angie finalmente colocou os tênis e desceu as escadas.

_ Tô pronta, Zac! – chegando na porta.

Primeiro e Único [completa]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora