Capítulo 3

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Diante do espelho, Angie observava cada detalhe de si mesma horrorizada. Como pôde deixar as coisas chegarem àquele ponto? Onde ela havia perdido sua vaidade? Ela respirou fundo, sentou na cama. Não podia ser tão ruim. Tinha que ter um jeito de consertar o estrago. Ela se levantou e ficou novamente na frente do espelho.

_ Gente, como eu tô feia! Como foi que eu fiquei assim? Como eu não percebi antes? E agora?

Ela não conseguia pensar em nada que pudesse fazer para amenizar aquilo. Estava procurando recuperar sua auto-estima, mas não fazia ideia de como ou por onde começar. Era impossível. Ela não podia ficar daquele jeito para sempre. Não eram nem só as roupas, que ela agora odiava, era seu rosto, as olheiras. Tudo. Se Taylor não olhasse para ela, alguém olharia. E se ninguém olhasse, ela também não se importava. Aquilo tinha de ser por ela, para ela.

Ela tinha dado o primeiro passo. E o mais importante de todos. Mas ainda não sabia o que fazer. Queria que Taylor olhasse pra ela, queria parar de sofrer. Queria outra jeito de ver as coisas. Tinha que dar certo.

Sentou-se novamente na cama, dessa vez para observar suas unhas. Curtas, roídas, despeladas...

_ Eca! Eu tô um bagaço! Vou deixar elas crescerem!

Foi até o banheiro e pôs um band-aid de cada cor em cada um dos seus dedos.

_ Eu tô ridícula, mas pelo menos elas vão ficar bonitinhas...

Manteve o ritual por uma semana, religiosamente. E viu as unhas crescerem bonitas e saudáveis. O telefone tocou quando ela olhava feliz para seu feito.

_ Alô!

_ Angie, tudo bem?

_ Oi, Tay. Tá tudo legal, e você?

_ Também. Angie, tô te ligando pra avisar da festa que vai ter amanhã na casa do Doug.

_ Festa?

_ Angie, não vem com desculpas pra não ir dessa vez. Lembra que você tem que se divertir. Ordens médicas.

Por um instante ela pensou em dizer sim, mas se desfez do pensamento.

_ Como vai ser a festa? Tipo, o que eu visto?

_ Ah, sei lá. Roupa de festa.

_ Tay, querido, eu não sei o que vestir! E depois, não lembro de ter visto uma saia sequer no meu guarda-roupa nos últimos cinco anos.

_ Por favor, Angel!

_ Tay, num me faz essa vozinha pidona... Eu não sei. Já disse. Me liga amanhã.

_ Pensa com carinho?

_ Prometo.

Agora essa! Festa. Ela queria ir, mas não tinha absolutamente nada pra vestir. Nada! Começou a revirar suas roupas no armário. Seu quarto virou uma bagunça e ela não achou nada. Ouviu batidas na porta. Era Alex.

_ Angie, que é isso?

_ Nada que te interesse, Alex! O que deu em você pra bater na porta?

_ Nada. Nossa! Você não achou um rato aí, não?

_ Há-há! Que engraçado!

_ Você vai à festa amanhã?

_ Porquê você quer saber?

_ Pra me preparar.

_ Pra quê?

_ Pra passar vergonha.

_ Alex, como você consegue ser tão criança, hein? Ao invés de me ajudar, você zoa da minha cara! Vai, sai daqui, num me atrapalha!

Sem ter o que falar, e totalmente desarmado pelas palavras e pela inabalação da irmã, Alex saiu do quarto sem dizer mais uma palavra sequer. Angie logo desistiu do próprio guarda-roupa. Não tinha nada ali pra ela mesmo. A única coisa que restou foi arrumar a bagunça.

Primeiro e Único [completa]Where stories live. Discover now