Capítulo 4 - Déjà-vu

496 77 21
                                    

     "Fabrício, não faz isso!"

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

     "Fabrício, não faz isso!"

     Ofegante e desnorteado, Saulo acordou do breve sono, erguendo no susto a cabeça da mochila e o corpo de sobre aquele banco feito com o tronco de uma árvore. A boca seca não lhe permitiu desobstruir a garganta, muito menos a mão no peito conseguiu acalmar seu coração disparado. A sensação horrível de dor sentimental, quase lhe arrancou lágrimas e ele nem ao menos soube o motivo.

— ⚡ —

     O ar fresco da manhã junto ao tímido canto dos pássaros, acompanhou aquele delegado ao seu posto. Bocejava entre um passo e outro; não conseguira pregar os olhos naquela noite, assim como na anterior. Seus pensamentos estavam cobertos de porquês; desordem mental. Enquanto se aproximava da delegacia, mais e mais perguntas se fazia. Os sentimentos eram muito confusos e conflitantes, pois, ao mesmo tempo que sentia conhecer a moça no vídeo com Saulo tão bem, ela lhe parecia ironicamente estranha. Uma desconhecida. Do outro lado de suas indagações, encontrava-se o tal suspeito. Fabrício também tinha perguntas em relação a Saulo, só que estas bem mais complexas, para não dizer... irracionais.

     "Falando no metido", resmungou mentalmente ao virar o rosto e descobrir de quem era a silhueta que lhe surgiu no seu canto de olho, caminhando de encontro a ele. Nisso, atirou no chão, o cigarro pela metade, amassando-o com a sola do coturno e vendo as minúsculas brasas se tornarem escuras.

     Soprou o restante da fumaça encarando o estudante.

     — Com saudade da jaula? — provocou.

     Embora já pronto para subir os degraus, recuou o pé direito, parando ali mesmo e aproveitou para jogar com os dedos, seus cabelos grisalhos para trás; a brisa durante a caminhada fez algumas daquelas mechas saírem do lugar.

     Saulo pensou seriamente em dar meia volta ao ser tomado pela impaciência, contudo, precisava muito daquela ligação. Suas pernas refletiam o quanto andara à procura de um telefone funcionando ou carregador compatível; e as costas, o quão desconfortável é passar a noite em um banco duro. A verdade, é que o estudante já estava se desesperando só em imaginar o estado de preocupação que sua mãe se encontrava. Ele nunca ficara fora sem avisar antes. Necessitava de dar notícias e até pedir ajuda.

     — Preciso de um telefone ou celular. Rodei isso tudo ontem, mas o de ninguém funciona. — Enfim, parou ao chegar nos degraus. Nem percebeu que os olhos cinza ainda mais claros por obra da luz do sol, foram imediatamente parar em sua orelha. — Internet também serve... e um carregador de celular... Por favor?

     — Vai querer uma fatia de cuca com café também?

     — Não sei que diabo é isso, mas aceito o café.

     Com ar implicante, Fabrício se aproximou um passo.

     — Ué! Achei que nerds soubessem sobre tudo.

Órbita do Destino - 2043 [COMPLETO]Where stories live. Discover now