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Novembro, 13

No último dia, eu e Genevieve passamos na Universidade de Glasgow ao menos três vezes, tentando encontrar secretários diferentes em outros horários. Todos diziam exatamente a mesma coisa, o que me deixava, ainda mais, impaciente. Cheguei, inclusive, a gritar com um deles. Se a minha melhor amiga não houvesse me arrastado, eu teria invadido a administração e pararia em alguma delegacia por ter quebrado a cara deles.

Claro que eu tinha noção que todos só estavam seguindo ordem, mas eu tive vontade de extravasar minha dor em cima deles. Por que não? Eram os alvos mais fáceis. Então me dei conta que os superiores eram os verdadeiros culpados, e quem estava em baixo sempre levava primeiro, porque era como o sistema agia. A hierarquia era uma praga.

O sujeito de boina também vinha à mente diversas vezes, mas decidi ignorar a pulsação estranha que crescia todo segundo em que seus olhos brilhavam nas minhas lembranças. Sequer comentei a Genevieve, porque ela tinha palavras prontas para meu surtos esporádicos. Eu já sabia qual seria seu discurso, logo não perderia o meu tempo.

Eu estava tendo outras ideias absurdas nos últimos dias. Genevieve Welch, obviamente, não sabia de nenhuma delas. Eu seria barrada na primeira tentativa e tampouco poderia me explicar. Ela não me deixaria cometer um deslize só porque eu estava sob fortes emoções. Precisava relaxar antes de tudo, antes de prosseguir. Tecnicamente voltaríamos a Lockton no dia seguinte, mas eu pediria para Genevieve ir sozinha. Era a única forma de agir de maneira incomum sem que alguém me barrasse naquilo.

— Maddie — Genevieve chamou. Estávamos sentadas na varada do Edifício Bacco. A visão do topo realmente era fabulosa. — Madison.

Pisquei, fitando-a com calma. A comida perdia o sabor enquanto os sinais se movimentavam dentro da minha cabeça.

— Sim?

— Eu não quero que isso seja uma daquelas cenas que eu falo: "você me ouviu?" e você não ouviu nada. — Welch bebericou do vinho.

— Então... — Ri devagar. — Você poderia repetir?

— Você vai voltar comigo — falou, dura.

— Como você sabia que eu estava pensando nisso? — Surpreendi-me.

— Não é óbvio? Você sempre se distancia para não receber um sermão por alguma ideia errada — Genevieve explicou, mas seu semblante não era dos melhores. — Sempre quer agir sozinha, porque sabe que pode se afundar e não quer levar ninguém junto.

Hesitei por um momento. Como podia fazer algo sendo que Genevieve Welch sempre estava na minha frente? Eu dava um passo à medida que ela já havia dado dois.

— A minha ideia é boa.

— Desafie-me.

Segurei a taça de vinho pela metade e empurrei um grande gole para baixo. Ajudava-me a pensar. Se eu quisesse convencê-la, precisava usar dos melhores argumentos. Nem sempre eu conseguia, porque ela pouco dava o braço a torcer. Mas, apesar daquilo, sabia que Genevieve confiava em mim. Um pouco, ao menos. Se não fosse por isso, ela jamais teria se arriscado vindo para o covil comigo.

— Eu poderia ir conversar com a Roux pessoalmente — comecei falando, mas Genevieve já veio com o corte:

— Não poderia! Ela é uma celebridade intocável.

— Eu posso continuar?

— Eu já sei que isso não rola. — Cruzou os braços.

— Por favor, Genevieve, apenas escute — pedi com gentileza. Ela arqueou as sobrancelhas e desenhou um gesto no ar, pedindo para que eu prosseguisse. — Eu soube que ela está no Hospital Green Monk. Sei lá o que ela tem, e espero que seja algo ruim, mas eu posso aparecer como médica. Se eu não conseguir chegar cara a cara, posso ter acesso ao seu telefone. E, então, perguntarei o motivo de ter adiado a minha matrícula.

Carmesim | LésbicoWhere stories live. Discover now