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Novembro, 15

As vozes não faziam sentido na minha cabeça. Eu batucava a caneta em cima daquela mesa retangular e tentava controlar a euforia que crescia em mim. Bem que eu podia ignorá-la de antemão.

— Você conheceu Genesis Roux pessoalmente? — Stephen Gorst, mais calvo do que eu me recordava, andava de um lado para o outro no minúsculo apartamento.

Eu e Genevieve Welch, que não desviava seus olhos de cima da minha cabeça, finalmente pudemos conhecer a verdadeira sede daquele grupo de “pessoas excepcionais”. Depois de retornar ao auditório, fugindo de Genesis Roux e sendo avacalhada pela turma por não ter seguido o plano, passei a noite toda calada e cega. Dormi por horas e tive de ser arrastada para o encontro daquele instante. Eu só queria fugir mais uma vez, porque odiava perguntas.

— Entrou no elevador com ela? — Hunter, seu filho, sorria como quem havia ganhado uma viagem com tudo pago para a Grécia. — Perigoso, mas foi bom. Na próxima oportunidade, vocês já vão poder conversar como conhecidas.

— Não vai ter próxima oportunidade — Genevieve avisou de forma rude ao mais novo.

— Ela já me conhecia. — Atropelei-a com minhas palavras. Eu não parava de batucar na mesa, mas ninguém reparava no meu nervosismo. Bem, muito provável que Genevieve sabia o meu estado, mas ela também estava muito em choque para prestar atenção no ruído chato. — Estou dizendo a vocês... Ela já me conhecia.

Contei, entredentes, retomando todos os detalhes sórdidos. Esther Fogg e Colton D’Angelo estavam em seus trabalhos comuns, para pessoas nada excepcionais. Pelo o que havia entendido, o endereço era da nossa Destreza. D’Angelo não se importava em se mostrar público para nós, embora não fosse sensato confiar em um bando de gente vingativa.

— Como pode provar? — Stephen disse. Sua roupa estava devidamente alinhada, opondo-se a do seu filho. Hunter ficava cativante daquela maneira, mas eu podia apostar que o seu velho não gostava de seus modos, porque o olhava feio para se comportar. Será que Stephen sabia que o seu primogênito já não era mais uma criança? — Ela disse algo?

— Eu só sei — falei, dura.

— Eu acredito em você. — Hunter veio de apoio. Ficava bem difícil odiá-lo assim. — O que mais aconteceu?

— Eu já disse. Fui procurar ar e ela, coincidentemente, entrou no elevador comigo. Ela reparou que eu não estava bem e sugeriu que eu mesma me abraçasse para fazer a circulação sanguínea diminuir — repeti o que já havia dito, mas, aparentemente, eles ficavam cada vez mais curiosos com detalhes reprisados. — Eu já disse tudo.

— Você falou que está indo para a Universidade de Glasgow de novo? — Genevieve perguntou. Havia apreensão demasiada em sua voz, mas eu não podia culpá-la. Eu assenti de leve. — Maddie...

— Não a repreenda! — Hunter pediu, o rosto contorcido em bronca. — Ela tinha de ser notada de alguma forma, né? Estávamos contando que fosse pela Profa. Hitt, que leciona na Universidade de Glasgow, mas foi ainda melhor ter contato direto com a dona da porra toda!

— Linguajar... — Stephen ralhou ao filho, mas foi ignorado. Hunter estava quase pedindo para beijar minhas mãos, tamanho era o seu fascínio. Então o Gorst mais velho se voltou para mim. — O que mais?

— Eu já disse! — berrei mais alto do que gostaria, batendo a caneta no reflexo. — Eu nem sei por que estou aqui. Podemos ter os mesmos pensamentos, mas você tentou me ignorar, Stephen. Sem contar que me seguiu por aí. Eu não quero saber das suas artimanhas nem nada do tipo.

Eles nem pensavam em retaliação, pois já me levantava com raiva. Genevieve ficou mais inquieta, mas também não tentou me contrariar. Levantei-me abruptamente e passei sem permissão entre os dois homens. Saí pela porta de entrada com passos sem cautela e, no segundo seguinte, envolvia-me na brisa gelada do exterior.

Carmesim | LésbicoWhere stories live. Discover now