Capítulo 2 - Acordo

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𝐎 𝐑𝐄𝐈 𝐒𝐄 𝐋𝐄𝐕𝐀𝐍𝐓𝐎𝐔 com um impulso quando a voz de Manon chegou a seus ouvidos.

Ele estava exatamente como ela lembrava, mas ao mesmo tempo, diferente.

A aparência era a mesma. Os cabelos pretos bagunçados, a coroa dourada pendendo, pesada. Os olhos azuis fortes que a encaravam como se ela fosse algum tipo de abismo indecifrável.

Ele desceu lentamente os três degraus que separavam o trono do resto da sala, quase como se estivesse hesitando em se aproximar dela.

O Rei de Adarlan perdera as contas de quantas vezes sua cabeça o traía e ele se encontrava pensando na bruxa.

Pensando como estariam as coisas nos Desertos, se elas encontraram as ruínas do antigo Reino, se Manon havia conseguido fazer algo de avanço.

E ao mesmo tempo ele pensava em suas mãos tocando o seu corpo liso e estruturado, dos sons que ela fazia quando eles estavam unidos em uma cama, ignorando todos os movimentos e barulhos ao redor, o gosto da boca dela na sua língua.

Então ele o obrigava a apagar todos esses pensamentos egoístas e idiotas da mente.

Não conseguia imaginar a dor e o vazio que Manon continha para si após a guerra. Aquela falta que nunca poderia ser substituída por nada nem ninguém.

Ele se lembrava perfeitamente da expressão mais fria e vazia que o normal da Rainha quando eles se encontraram em Orynth, quando ele não fazia a mínima ideia do que havia acontecido com as Treze dias antes. E se sentiu culpado, pois a única coisa que ele pudera fazer fora abraçá-la.

Ele tentava não pensar e imaginar a cena, os gritos desesperados de Manon, as lágrimas que não deveriam ter tardado a descer. Ele evitava porque se recusava a pensar na bruxa nesse estado, vulnerável, deprimente, pois sabia que se estivesse lá, ele teria feito loucuras para impedir qualquer coisa que a deixasse assim.

Não que ela precisasse de sua ajuda para alguma coisa. Afinal, ele não a havia ajudado e ela parecia bem, aparentemente.

Ela o encarava com um leve sorriso, como se esperasse que ele dissesse algo.
Mas ele não sabia o que dizer. Não tinha nada a dizer.

Foram dois meses que ele não via nenhum dos aliados, dois meses que ele se perguntava onde e por onde andavam cada um deles, e o que ele não tinha sequer uma informação era Manon Bico Negro. E ele esperava por todos os deuses que já não existiam mais que ela estivesse bem.

Tudo isso porque ele se importava.
Se importava com ela mais do que deveria se importar, porque ele sabia que isso não faria a mínima diferença para ela. Que isso não significava nada.

Mas ele não conseguia evitar.

Não conseguiu nem mesmo evitar o abraço que envolveu o corpo de Manon no seu, que o fez inspirar e sentir o cheiro dela, o aroma doce que saía do cabelo solto. Não conseguiu evitar também o pensamento que o atormentou, dos dois na mesma posição em um campo rodeado de cinzas e morte, e lágrimas presas nos olhos dela, que forçavam o choro a não cair, e os braços da bruxa as redor do pescoço dele, como nunca havia se permitido.

Mas tudo isso agora dentro de um castelo, o castelo dele. No qual Manon sabia que eles estavam seguros, e não haveria mais dor para ambos.

Ela não impediu o abraço. Aninhou-se no ombro dele e permitiu que as narinas inspirassem o cheiro do rei, salvando aquela sensação no fundo da mente. A Rainha não sabia por que o deixava abraçá-la, mas ela sabia que isso fazia dela mais vulnerável. A prova disso foi que, quando o homem a abraçou, ela sentiu todos os guardas ao redor deles relaxarem os músculos que estavam rijos com sua presença, como se aquele gesto a deixasse mais humana.

[✔] Manorian - Pós Guerra Where stories live. Discover now