Capítulo 8 - Desertos

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Aquela visão era estranhamente familiar para Manon.

Um mar verde da densa floresta Carvalhal corria debaixo dela, mais rápido e mais rápido a cada segundo que Abraxos acelerava o voo, e a força do vento rasgava seu rosto, estreitando seus olhos e deixando apenas uma fenda do horizonte enevoado.

Outra serpente alada voava ao seu lado, e de tempos em tempos, o tédio fazia com que suas asas se colassem ao corpo e rodopiasse milhares de vezes no ar, fazendo manobras inúteis que faziam um sorriso surgir no rosto da Rainha.

Já haviam passado da metade do caminho, depois de um dia inteiro voando, e Manon sabia que não faltava muito para chegarem aos desertos.

- Acho melhor você descansar um pouco. - Manon falou para a serpente que voava ao lado de Abraxos, e a enorme cabeça virou para ela. - Não quero ter que descer só para buscá-lo depois que tiver se exaurido.

A besta grunhiu, relutante, e então o corpo bestial se encolheu, até que o Dorian mais feliz que já havia visto pulou sobre Abraxos e se segurou na cintura da Rainha.

- Você estraga tudo. - zombou, e então voltou a encarar a mesma vista que ela.

O convite que Manon fizera dois dias antes foi aceito facilmente por ele.
Ela assistira ao treino dele, e rira de sua cara quando ele quase perdera novamente para um homem com uma espada e um uniforme real, enquanto ele certamente deveria massacrá-lo.
E então passaram a noite juntos como haviam feito, e foi tão bom quanto fora antes. E antes de fechar os olhos, Dorian falara talvez a frase mais doce que já havia dito.

- Você gosta dos desertos?

Manon enrugou a testa, e a resposta saiu abafada pelo calor do corpo dele contra o seu.

- É a minha casa. - ela suspirou. - É claro que gosto.

Dorian riu baixinho.

- É por isso que ajudarei você a amá-los mais ainda.

No dia seguinte, Dorian aparecera em seu quarto enquanto ela terminava de juntar seus pertences, com uma bolsa pendurada em uma das mãos. Encostou seu ombro no batente da porta e Manon leu as palavras nos olhos dele.
E então, já faziam vinte e quatro horas que estavam voltando aos desertos. Juntos.

Era difícil ignorar a pressão das mãos de Dorian em sua cintura, porque querendo ou não, ainda faltavam horas para chegarem ao mar de areia onde deveriam saltar. E a cada segundo que ela passava ao lado dele, ela se sentia mais frágil.

Não sabia se isso era algo bom ou ruim, mas definitivamente a presença dele transformava algo dentro dela, como fogo queimando um papel até virar cinzas.

As árvores embaixo pareciam infinitas, se estendendo por milhares de quilômetros, prometendo mais tempo com Dorian agarrado ao seu corpo.
Tentando fazer o tempo passar, ela imaginou a reação das bruxas quando falasse sobre o acordo. Glennis ficaria aliviada, Bronwen talvez suspirasse uma oração à Deusa, e Petrah Sangue Azul definitivamente derramaria lágrimas por qualquer que fosse a emoção que estivesse sentindo.

A Rainha e a Herdeira das Sangue Azul não haviam conversado o suficiente após a guerra.

Manon não ligava se a bruxa ainda tinha suas amigas, nem se parte de sua aliança havia sobrevivido à guerra. Todo o povo das bruxas havia se reverenciado à sua rainha, e isso não excluía Petrah. No dia que decidiu ir a Adarlan, quando passara horas dentro da tenda, a Sangue Azul entrara mais de duas vezes no aposento para tentar distrai-la e conversar.

Uma ponta de arrependimento cresceu no peito de Manon ao lembrar que ela recusara a conversa. Seria bom ter tido uma companhia naquele momento.

Abraxos continuou voando em meio à névoa baixa, escurecendo a visão da Rainha.

[✔] Manorian - Pós Guerra Where stories live. Discover now