Capítulo 3 - Desleixo

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𝐇𝐀𝐕𝐈𝐀 𝐔𝐌𝐀 𝐁𝐀𝐍𝐇𝐄𝐈𝐑𝐀 com água quente no canto do banheiro, e ao lado, uma prateleira com vários aromas diferentes de óleos.

O quarto no qual Manon estava tinha uma enorme cama com dossel, um banheiro quase do tamanho do dormitório, e uma varanda que permitia uma vista para a cidade de Forte da Fenda inteira.

Ela demorou a se acostumar com o luxo do lugar que Dorian havia cedido sem hesitar. Tudo era vermelho e dourado, desde a cama até as cortinas finas da janela. Além da banheira que ele mandara preparar para ela, mesmo que tivesse insistido em recusar.

Manon cedeu à sua própria relutância e tirou as camadas de roupa que carregava desde que saíra dos desertos. Suas costas doíam das horas voando com Abraxos, apesar de sua cabeça ter parado de latejar já fazia um bom tempo.

A Rainha grunhiu quando o calor de dentro da banheira encontrou seu corpo.Fechou os olhos e deixou que a água fizesse o seu trabalho.

Lavar a mente, despejar as preocupações e tirar aquele estresse.

Grande parte dele já tinha se esvaído, na verdade. Dorian não hesitara tanto quanto Manon estava esperando, então quando ele firmara o acordo, ela sentira o peso nas suas costas desmoronar.

As bruxas eram mais ricas do que achavam que eram. Desde que Brannon lhes cedera os desertos, as riquezas tinham se multiplicado com o comércio e o controle da região que, apesar de ser um deserto, era bem povoada. Então esse jamais seria um motivo de estresse para Manon.

Fora apenas aquilo. Não havia ninguém morando entre ruínas de quinhentos anos atrás, não havia ninguém nem perto de viver ali. Por isso, sua última esperança para conseguir trabalhadores foi Dorian.

A imagem de Dorian pensando em sua proposta perpassava sua mente, os olhos azuis a encarando, a quase certeza dela de que ele recusaria. Até que o sorriso surgiu nos lábios dele e ela soube que havia conseguido.
Talvez demorasse, ela não se importava, desde que fosse garantido que um dia as bruxas tivessem um lugar que chegasse aos pés do que o Reino um dia fora.

Manon se ajeitou de forma que a água deixasse apenas a cabeça de fora.
Ela não sabia por que Dorian havia aceitado. Ele não precisava do comércio, nem de dinheiro algum, e mesmo assim ele aceitara.

Ela faria muitas coisas apenas para saber o motivo dele.

Desde quando adentrara o salão onde encontrara o rei, ela notara algo que não se lembrava de já ter visto no rosto de Dorian. Um vazio que não combinara nada com o rosto atraente que ele carregava.

Manon perguntou a si mesma, a fumaça saindo lentamente da borda da banheira, se o Rei não se sentia sozinho em um lugar tão grande e sem vida como aquele castelo. Até onde ela sabia, o capitão da guarda precisara ir para Anielle, e a previsão de sua volta era bem distante. Isso queria dizer que Dorian estivera sozinho esse tempo inteiro.

Ela sabia disso, e tinha certeza, porque nem mesmo durante a guerra ele estivera tão... deprimido.

Não pôde deixar de sentir que entendia o que ele estava passando.

A Rainha afastou todos os pensamentos que lhe atormentavam e saiu de dentro da água morna.

Não lhe importava o que Dorian sentia ou não sentia, nem o que ele fazia ou não fazia. Sua função ali era apenas firmar aquele acordo e garantir que tudo desse certo, não ficar dividindo sofrimentos com ninguém.

Ao se deitar na cama, ela pensou que nunca havia deitado em um lugar tão confortável.

A última coisa que ela viu foram as luzes a centenas de metros abaixo da torre onde ela se encontrava, a cidade de Forte da Fenda, iluminada por velas fracas dentro das casas humildes, e o brilho da coroa de estrelas que deixou na cabeceira a sua frente.

[✔] Manorian - Pós Guerra Where stories live. Discover now