Capítulo 5 - Crepúsculo

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Manon Bico Negro estava novamente encarando o sol se pôr, as nuvens alaranjadas e roxas formando uma pradaria nos céus, com uma grande luz se abaixando lentamente enquanto ela se apoiava sobre o parapeito de pedra do cais. O vento lançava uma brisa gelada sobre seu rosto, fazendo seus cabelos se esvoaçarem para trás.

O amarelo resplandecente do sol refletia mais brilhante ainda sobre as águas calmas do Avery, se misturando em harmonia ao Grande Oceano, como se fossem um só. Pescadores e marinheiros ancoravam seus barcos à costa, enquanto o dia caía atrás deles. O som distante do barulho das feiras comerciais era quase inaudível com o vento forte que soprava, deixando apenas o farfalhar das árvores atrás de Manon serem ouvidas.

A Rainha estreitou os olhos para tentar enxergar o fim do azul que se tornava laranja com o reflexo do entardecer, mas tudo que via era um mar infinito e sem direções, se movendo lentamente como uma faixa de seda sendo esticada.

Suas pernas latejavam pela enorme caminhada que fizeram durante a tarde, passando por todos os cantos de Forte da Fenda, até aqueles que ninguém sabia que existiam. Bares, lojas, confeitarias, hospedarias, casas, tudo Dorian fizera questão de mostrar. E por mais cansada que estivesse, ela continuava surpresa pela energia que a cidade passava, a felicidade e a paz mesmo depois de tantas desgraças. Se houvesse mais a ser mostrado, ela iria com os olhos abertos para conhecer.

Mas ela já conhecia tudo, cada detalhe e imperfeição da cidade, e o amor que o rei tinha por aquele mundo fechado do lado de fora do castelo.

O último barco foi amarrado à terra firme, e o marinheiro subiu a escada íngreme, passando para o deque de madeira de abeto que os dois se encontravam. As tábuas rangeram quando o homem passou, pisando forte, sem sequer notar a presença do rei.

Uma pequena onda se formou no meio do mar, fazendo a água bater contra os blocos de pedra, gotículas espirrando aos pés do dois. Apesar das roupas coladas e grossas, o clima começava a esfriar com a chegada da noite, o vento morno se tornando frio e afiado. Como uma onda, as pessoas saíam da praça comercial pela rua paralela, as vozes ficando cada vez mais baixas à medida que restavam só ela, Dorian, e o som do mar que se agitava.

Ela poderia ficar naquela posição por muito tempo, admitiu para si mesma, sentindo nada mais que o tempo passar, assistindo o sol caminhar para o descanso, ver a água passar de azul, para laranja, e então se tornar escura como a noite. Ver o horizonte ser mais infinito do que o normal, e ficar observando aquele fim de dia sem ter que se preocupar com problemas e com guerras e pessoas mortas.

Desde que chegara aos desertos, ela não se empenhara em olhar o pôr do sol, não se importara com nenhuma coisa que simbolizasse algo bonito ou qualquer merda do tipo, mas ali em Adarlan, ele parecia diferente. Parecia querer chamá-la para vê-lo se esconder, ver suas cores se misturando e caindo lentamente. E ela o fazia, silenciosa e impassiva, observando cada segundo do fim da tarde.

- Fique mais um dia.

Manon virou o rosto da direção de Dorian. Sua voz saíra contida, fria, mas claramente querendo dizer mais do que disseram. Seu rosto encarava o mesmo mar que ela há pouco encarara, os olhos azuis vidrados em um nada impossível de se ver. Era óbvio que ele evitava o olhar dela.

- Não posso. - respondeu ela, olhando para ele.

Não havia motivos para ela ficar, e não havia motivos para Dorian querer que ela ficasse. Pelo contrário, ela tinha quase que certeza de que sua presença era mais uma despesa para o castelo. Mas nada impediu sua voz de falhar. Ele pediu que ela ficasse, e aquilo não fazia sentido para ambos os lados.

- Por quê? - ele perguntou. Seu rosto encontrou o de Manon, tão impassivo quanto o dela, com as mesmas expressões de uma parede de tijolos. - Por que não pode permanecer mais um dia?

[✔] Manorian - Pós Guerra Onde as histórias ganham vida. Descobre agora