Helder Coulin

16 2 0
                                    

Olá eu sou o Coulin... Helder Coulin. Pode parecer sem sentido tudo o que estava a acontecer com a mente de Larson, mas eu sei bem o que era, na verdade eu fui o culpado, onze de Julho de mil novecentos e noventa e cinco, a quinze anos atrás, eu estava passando ao lado do banco de investimento de passoduto com Alissa minha falecida esposa, que Deus a tenha, na época eu estava com trinta e cinco anos e tudo que eu sabia fazer era viver minha vida como se fosse morrer no dia seguinte, e um segredo que só vou contar a si, eu nunca tive uma conta bancária, mas eu vivia como um homem rico, nunca formulei um currículo se quer, nunca tive um emprego, como eu fazia para viver como rico?! Eu conto logo, deixa voltar ao assunto. Naquele dia eu e Alissa discutíamos sobre uma jovem à quem se referia como sendo uma vadia, estávamos tão focados na discussão que eu nem pude ver quem vinha a minha frente quando colidi com uma jovem que caiu imediatamente com um saco de compras que com ela trazia, esta jovem andava com um menino de oito anos, estendi minha mão e à levantei, me desculpei, ela disse que não havia problemas e continuou a andar, mas eu chamei ela dois passos depois porque notei que andava a pé e já que eu e Alissa nos dirigíamos ao meu carro eu me ofereci para uma carona. Quer saber! Era só uma forma que encontrei para a conhecer melhor, porque eu estava encantado, ela era a coisa mais linda que eu já havia visto. No carro eu fazia perguntas não muito íntimas a ela, seu nome era suziany, aquela jovem magra e formosa como um bolo, que metia minha mente em um avião cada vez que a olhava do retrovisor se chamava Suziany, depois que ela desceu nunca mais esqueci daquele endereço. Alissa inevitavelmente percebeu o encantamento e ela não parava de reclamar como sempre, mas eu não queria saber, só pensava na Suziany, tinha que ver aquele anjo novamente, sentia como se ela pudesse me levar com ela para o céu.
Todas as noites as dezoito horas eu passava pela sua casa e parava bem na direcção da janela de seu quarto, eu aguardava com paciência que ela aparecesse diante da janela e assim observava aquela linda carinha, não me canso de dizer o quanto ela era bela, aquele ar afável, seus olhos pareciam poesia, vinha em mim uma vontade de bater a sua porta, mas ficava com receio porque não sabia se o seu parceiro estava em casa ou não. Três semanas depois daquele dia eu passei por lá mais cedo, sua imagem estava tão ávida na minha mente que eu já não podia suportar, eu havia decidido que bateria a porta dela e que não importava o que aconteceria, mas eu murchei bem antes de sair do carro, e foi quando a luz em minha cabeça apareceu, é que eu estava tão engajado em ver Suziany que não percebi que nunca via por lá um homem se quer. Foi então que tomei coragem, ajeitei minha camisa branca que já estava ajeitada, frente ao retrovisor verifiquei meus cabelos e minhas sobrancelhas que já havia verificado em casa, aspergi o perfume em meu pescoço mesmo já cheirando tanto perfume, respirei fundo e sorri levemente como um bobo. Saí do carro e me dirigi a porta dela, estava tenso, andava como se não quisesse chegar lá e isso era algo que me preocupava porque eu sempre fui muito decidido e determinado. Era amor de certeza. Finalmente bati sua porta, mas devagar como quem tem medo e olhei para o chão imaginando sua cara e recriando sua voz em minha mente quando me atendesse, estava ansioso.
Pode não acreditar, mas quando ela abriu a porta a primeira coisa que saiu de minha boca foi "te amo...". Ela ficou olhando para mim com uma cara séria mas curiosa, passamos quase dois minutos em silêncio, era constrangedor. Finalmente ela pediu-me para entrar e quando entrei vi Larson no sofá dormindo, enquanto eu revirava minha cabeça reparando a casa senti um toque suave vindo de trás, uma mão explorando minhas costas de baixo da camisa azul-marinho, era tudo tão rápido! Me virei, beijei ela e ouvi sua respiração ofegante marinando em meus ouvidos. Em fim... ela levou-me ao seu quarto e fizemos amor, foi o melhor sexo de nossas vidas ou pelo menos foi o que falamos um para o outro.
- Nunca havia levado um homem ao meu quarto antes desde que me mudei para cá à três anos - disse ela.
- Devo me sentir honrado... - Respondi
- Eu vejo seu carro todos os dias, vejo como você fica olhando para mim com aquele olhar de quem vai entrar de foguete pela minha janela. - Conversamos durante horas...
Desde aquele dia tudo em minha vida mudou, ficou mais colorido, tudo parecia brilhar em minha volta, tudo era um "tanto faz", tudo era "que assim seja", é tão surpreendente como tudo é tão vivo no começo, como tudo faz tanto sentido antes de irmos a fundo, talvez este seja o erro: ir a fundo. Ir a fundo é tal e qual não ir, quando tudo começa existe aquele mistério, aquela questão de «como será?» e para mim este é o ponto mais profundo, mais lindo, o processo, não o "acontecerá" nem o "aconteceu" e sim o "acontecendo".
Em três meses eu já estava me divorciando de Alissa, foi um choque para ela, mas quem se importa? Sempre que a roda da paixão se renova temos de odiar o antigo e amar o novo, é assim que acontece e não fui eu quem criou esta roda, a vida é assim mesmo: uma roda de recomeços. Sete anos depois a roda tendia a se renovar como sempre, aquele amor sucumbiu, nada mais era doce, tudo estava a cair em pedaços, era questão de tempo até atingir nossos corações, como casal já tivemos vários momentos ruins, vários dias de choques e contra-ataques, mas aquilo era diferente, nem a discussão mais fazia sentido, me questionei várias vezes sobre estas coisas, o amor e o desamor, que loucura... Você da tudo por alguém, tenta de tudo para manter a relação encima, mas algo é contraditório, nunca chegamos à um ponto, é um processo continuo, nunca chega aquela hora em que dissemos «já estabeleci o equilíbrio, agora posso relaxar e viver sem me preocupar».
Sempre existirá uma razão para se preocupar, o problema está na importância, damos muita importância à coisas que sabemos não poder controlar, é a insanidade humana, tentar entender os mistérios da vida, cá para mim não há nem pode haver um ponto final.

Entre Ricos & Pobres - Conto Estendido - de Zenildo Brocca (Em Andamento)Where stories live. Discover now