Helder Coulin IV

3 1 0
                                    

Corri desesperado para o quarto e foi quando vi a corda pendurada ao termóstato não pude olhar por mais de um segundo, era torturante, eu mantive os olhos fechados, e a lágrima saia de qualquer jeito, o que podia eu fazer naquela situação se não cair sentado no chão e chorar como uma criança no desalento? Somos tão covardes que não conseguimos encarar uma tragédia de cara e deixar a dor cuidar de nossas energias! Eu me senti perdido no momento, não sabia o que pensar, e porquê teria eu de pensar? A realidade é clara, a morte chegou para Suziany e eu acabara de perder o que era tudo para mim, o apego outra vez se intrometendo entre meus relacionamentos, de repente veio aquele sentimento de falta, não da pessoa que acabava de perder, mas o sentimento de que ainda faltavam muitos acontecimentos espectaculares, era como se aqueles anos que passamos haviam se transformado em nada, mais uma vez aquele insight transvazou em minha mente, como se fosse uma alma penada transvazando do corpo, desta vez eu compreendi, sim, eu pude compreender de uma vez por todas, a vida não é uma linha recta, a vida é apenas um ponto, um ponto que temos transformado em uma circunferência e desta circunferência nos limitamos a enxergar apenas uma parte, uma linha linear a que chamamos passado, presente e futuro. Mas nesta linha esquecemos de viver o presente que é apenas um ponto, toda vida é apenas este ponto que se move com o mover do universo, mas nós preferimos andar em círculos, e tudo agora era passado, um passado que perdi enquanto era presente, eu chorei durante dias, parei de lacrimejar, não falava com ninguém eu chorava por dentro, mas desta vez tudo havia mudado porque eu compreendi. Deixa te revelar um segredo: As coisas realmente importantes são mais fáceis de se enxergar depois que temos em mão a ilusão, nós corremos o tempo todo atrás das ilusões e quando alcançamos elas e podemos ver de perto descobrimos que é uma ilusão, mas é aí que está a questão, através desta ilusão nós podemos ver o real, tudo graças ao carácter contrastante entre o que é real e o que é uma ilusão, e nestes momentos cabe a nós escolher entre os dois, imagina-se a escrever com carvão em um quadro preto, esta é a ilusão, mas quando passas o giz branco sobre o quadro preto tu podes ver, tu podes ler, esta é a realidade, o branco no preto, tu não poderás ver a letra escrita com carvão sobre o quadro preto, então a ilusão permanece, mas quando o giz branco aparece tudo se torna mais claro, e toda esta historia foi para esclarecer isto, é isto que acabara de acontecer com Larson, ele acabara de se encher da ilusão da riqueza, agora o vazio se podia ver, quando você está podre de rico mas ainda assim não pode ser totalmente feliz, você nota que a vida é algo mais além da pobreza e da riqueza, ela vai infinitamente mais longe, a riqueza até fazia sentido, mas era como andar com apenas uma perna, alguma coisa faltava, esta coisa é o que Larson começava a procurar agora, depois de quinze anos e de uma fortuna estimável. Era a onda do recomeço, tentando nos dar mais uma chance disfarçada de pura dor. Foi assim que eu me permitia viver como rico, fazer de cada dia o primeiro e o último de minha vida, para mim cada manhã era uma nova vida, nada a ver com o acúmulo de bens, e ele estava trilhando o caminho da percepção divina.

Entre Ricos & Pobres - Conto Estendido - de Zenildo Brocca (Em Andamento)Where stories live. Discover now