"recém-casadas"

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— Você tinha que me levar lá pra cima, né?! Pra ver uma das 10 maravilhas da Irlanda, sua... Sua... Imbecil! — A voz histérica de Camila soou no ouvido da irlandesa, que a observava calmamente. Camila corria pelo monte com fúria em seus passos, tanto que acabou escorregando ladeira a baixo e rolando alguns metros sob a lama.

— Aí não. — Lauren praguejou, apressando um pouco os passos para ver se a americana estava bem. — Você está bem?

— Não! — Camila grunhiu ainda raivosa, se levantando ainda estressada, tentando tirar toda a lama impregnada em suas roupas.

— Veja pelo lado bom, você ter vindo rolando lhe poupou tempo. — Jauregui murmurou em ironia, fazendo Camila morder os lábios em pura irritação, como ela odiava aquela caipira idiota.

— Eu odeio você! — Sua voz era aguda e enfurecida, enquanto Camila marchava rumo a ferroviária, visto que o trem já havia sumido pela linha de trilhos e ela nem mesmo conseguia escutar seu chiado.

Ela entrou na loteria e passou pela cabine de embarque, conseguindo ver ao longe a traseira do trem entrando no túnel. Ela respirou fundo para não gritar de raiva e tirou os saltos enlameados dos pés, segurando-os em uma das mãos e se voltando para o cobrador, que lhe olhou impassível.

— Antigamente eu teria segurado o trem pra você, mas como já diz o seu povo americano, hoje o tempo é dinheiro, não é, menina?! — O senhor, já na casa dos 60, murmurou ironicamente, fazendo Camila constatar que todos os irlandeses pareciam odiar os americanos, ou algo do tipo.

Cabello bufou indignada, sentando-se em um banco velho, começando a chorar de uma vez por todas. Ela já havia enfrentado uma quase queda de avião, uma viagem em alto-mar em meio a uma tempestade, havia encontrado em seu caminho uma caipira arrogante e aguentado muitas humilhações, quase morreu eletrocutada, e atrasada por vacas, caramba, até roubada ela já tinha sido e agora isso... Camila chorava por estar cansada daquela viagem terrível, e mal podia parar de praguejar.

Seu choro pareceu amolecer o coração do velho, que encurvou-se e enfiou a mão nos bolsos. Os olhos verdes também lhe encarava preocupados, mesmo que a americana não percebesse.

— Você vai chegar onde tem que estar, menina, no tempo certo. — Sua voz amena não fez Camila se sentir nem um pouco melhor, só lhe fez chorar mais, pois estava crente que não daria mais tempo de fazer sua surpresa para Matthew. — Vamos, vamos, eu conheço um lugar para se hospedarem essa noite. — O velho continuou gralhando, mal sabendo a vontade que Cabello consumia de estraçalha-lo.

[...]

A hospedaria, que mais se parecia com uma casa antiga e pequena, tinha a madeira completamente deformada pelo tempo. Enquanto andava em direção a ela, Camila se perguntava quanto tempo demoraria para aquela construção ir ao chão. Bem, se tratando da sorte que estava tendo nós últimos dias, era bem possível que caísse em sua cabeça assim que passasse pela porta da frente, pensou ela.

— Chegamos, esta é a melhor hospedaria de Tipperary. — O senhor, que Camila e Lauren descobriram se chamar Hanni, murmurou quando já estavam próximos da entrada.

Tipperary era uma pequena vila a caminho de Dublin, que contorna a costa do país, haviam algumas casas, hospedarias e vários pubs para visitarem, era um lugar turístico, apesar da pouca movimentação nesta época do ano.

Antes de entrarem, Hanni exigiu que as duas tirassem os sapatos enlameados.

— Querida, olha o que eu encontrei. — O velho tirou o chapéu da cabeça e colocou no suporte ao lado da porta, instigando Camila e Lauren a fazerem o mesmo com seus casacos.

Ano BissextoWhere stories live. Discover now