16. Um conto de natal no Pantanal

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- Me conta uma história de papai Noel? – pediu João à sua mãe.

Catarina, percebendo a chance de ouvir uma boa história, veio sentar-se junto aos dois.

Era noite e a família encontrava-se num hotel-fazenda na região do Pantanal onde passaria o Natal. Tinham tido um dia maravilhoso ao ar livre e as crianças estavam fascinadas pela paisagem diferente de tudo que conheciam.

Viram juntos vários tipos de pássaros, se encantaram com as araras azuis, andaram a cavalo e bateram os pés contra a madeira do deque na beira do pântano para fazer emergir cabeças de jacarés atraídos pela vibração produzida pelas batidas.

Ouviram, contadas pela guia do grupo, histórias de onças que vinham à noite se alimentar de outros animais, e ficaram sabendo que não era raro aparecer nas fazendas próximas um bezerro morto pelos felinos. Luiza achou a cena narrada pela guia um bocado forte, e João apertou com força a sua mão, mas as crianças pediram detalhes sobre as onças e sobre os animais devorados por elas.

Agora, João e Catarina estavam por demais excitados para irem dormir e Luiza achou que seria uma boa ideia contar a eles uma história para irem se acalmando.

- Eu não trouxe nenhum livro de Natal...

- Conta da sua cabeça!

- Da minha cabeça... uhmm... Aqui vai.

Era noite de Natal e Papai Noel se preparava para sair dirigindo seu trenó puxado por renas carregado de presentes. Fazia frio lá fora e a paisagem estava toda branca de neve...

- Papai Noel vem no trenó até o Brasil? – interrompeu João. As crianças estavam crescendo e já não aceitavam qualquer informação sem questionar os fatos.

- Claro que não – Paulo chegou na hora certa para mudar o rumo da história. – Esse é o Papai Noel que mora no Polo Norte. Ele não dá conta de entregar todos os presentes para todas as crianças do mundo, então outros Papais Noéis ajudam o principal para que nenhuma criança fique sem presente.

- E todos eles andam no trenó puxado por renas voadoras?

- Não, não! – continuou Luiza, que, graças ao marido, tinha novamente o controle da história. – Aqui no Pantanal, por exemplo, ele vem puxado por onças mágicas que voam pelo céu.

- Demais!!!!!!! – dois pares de olhos bem abertos fitavam Luiza que, tarde demais, percebeu que a história estava tendo o efeito inverso ao esperado, que era fazer seus filhos dormirem.

- E essas onças não comem os bezerros das fazendas?

- Não. Elas são bem alimentadas antes de saírem de casa, e sabem que têm que se comportar se quiserem continuar trabalhando para o Papai Noel. Além disso, são mágicas!

- Eu quero ver uma onça mágica – falou João pulando do colo de sua mãe e indo até a janela. Catarina foi atrás.

- Voltem já aqui! Papai Noel só vem quando estão todos dormindo.

As carinhas de desapontamento aumentaram a determinação de Luiza de caprichar na história.

- Na noite da nossa história, véspera de Natal, dois irmãos que moram numa fazenda aqui perto resolveram passar a noite inteira acordados esperando para ver o Papai Noel. Ele já tinha entregado todos os presentes em todas as casas, só faltava entregar os dois últimos antes de poder ir descansar.

- Onde mora o Papai Noel que entrega os presentes do Brasil?

- Ela sabe que a gente tá aqui no Pantanal?

Coletânea de ContosOù les histoires vivent. Découvrez maintenant