𝕮𝖆𝖕𝖎𝖙𝖚𝖑𝖔 𝖈𝖎𝖓𝖈𝖔

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...

Meu coração acelerado e minha respiração pesada entregavam minha tensão, por um segundo pensei em voltar para trás, e se eu desistir? Ou não? Caralho! O que eu faço agora?

Estalo os dedos enquanto olhava fixamente para o teto, deitado na cama esperando que a hora passasse. Desviei meu olhar para (s/n) que dormia profundamente, acariciei seu rosto com o polegar um pouco pensativo, dando uma leve mordida no lábio para cessar a tensão.

  -Pô, nega! Espero que você me perdoe, prometo que vou cuidar de você, tendeu?

Deposito um beijinho em sua testa, puxando seu corpo adormecido para cima do meu peito deixando leves carícias em seus cabelos, sentindo sua respiração lenta. Eu poderia ir embora e deixar ela, só que eu não conseguiria ficar muito tempo sem ela. Não que ela seja mais importante do que as outras pessoas, mas parça, essa mina mexe com os meus mais profundos sentimentos, nem eu sei explicar, tá ligado?

Fechei os olhos por alguns segundos apenas para descansá-los, nem se eu quisesse eu conseguiria dormir, não sabendo o que eu estava prestes a cometer. Não demorou muito para que eu os abrisse novamente ao ouvir o toque do celular, entregando que já estava no horário em que havia combinado com o parceiro. Respirei fundo sentindo uma leve dor na barriga e um desespero no peito, chegou a hora!

Afastei (s/n) de mim e me sentei na cama, passando as mãos em meu rosto, agora fudeu, irmão, fudeu! Peguei meu celular desligando o despertador e logo ligando para meu parceiro, sentindo meu coração acelerar enquanto chamava.

Parceiro: Boa boa vein, vamo nessa?

  -Oi...Vamos... Vamos sim...

Parceiro: Tá tudo bem, irmão?

  -Eu não sei, irmão, não sei! Eu to com medo, com um mal pressentimento, não sei se vou conseguir ir.

Sinto meus olhos lacrimejarem, caralho que cuzão que eu to mano, eu não sou assim.

Parceiro: Oxi Kevin, tu tá mó cuzão parceiro, que que tá pegando?

  -E se der errado, porra?

Parceiro: Se der errado é história pra contar, meu amigo! Tu não é o mano Kevin das aventuras?

  -Sou pô, mas o bagulho tá sério aqui.

Rio meio sem graça, ouvindo ele também rir.

Parceiro: Aí caralho! Você é foda irmão, tu vai querer ir ou não? Já manda o papo logo, que eu já nem boto o mano pra ir buscar tu e tua boneca.

Ele me questiona, me fazendo se calar por alguns segundos meio pensativo. Fecho os olhos e respiro bem fundo, tomando logo uma decisão.

  -Eu vou! Manda o mano vir buscar eu e minha boneca caralho, aqui sou eu, porra! Eu vou sim.

Falo decidido levantando em um pulo da cama, indo em direção ao meu closet onde estavam as coisas que eu iria levar.

Parceiro: Esse é a porra do Kevin que eu conheço! Fica atento, logo menos o mano tá ai, tu avisou na portaria?

  -Avisei mano, avisei sim!

Parceiro: Suave! Já fica preparado porque daqui praí é um pulo, cachorro.

  -Suave!

Desliguei o celular, dessa vez o reiniciando novamente para modo de fábrica, tirando o chip em seguida e o quebrando, só por precaução o queimei com meu isqueiro, esse ninguém restaura, foda-se. Joguei o resto do chip pela sacada e voltei para dentro pegando as coisas e a chave do carro, descendo lentamente até a garagem e abrindo o carro, deixando as coisas lá dentro, vai saber se alguém vem mexer quando eu entrar. Né porque eu moro num condomínio que eu posso confiar 100% né, porra?

Travei o carro e subi rapidinho para o quarto, onde peguei um caderno e uma caneta, começando a escrever uma carta para minha mãe.

"𝐸 𝑠𝑒 𝑝𝑜𝑟 𝑢𝑚 𝑎𝑐𝑎𝑠𝑜, 𝑒𝑢 𝑑𝑒𝑠𝑖𝑠𝑡𝑖𝑠𝑠𝑒 𝑑𝑒𝑠𝑠𝑎 𝑣𝑖𝑑𝑎 𝑙𝑜𝑢𝑐𝑎 𝑑𝑒 𝑎𝑟𝑡𝑖𝑠𝑡𝑎? 𝑆𝑒 ℎ𝑜𝑗𝑒 𝑒𝑢 𝑝𝑒𝑔𝑎𝑠𝑠𝑒 𝑚𝑖𝑛ℎ𝑎𝑠 𝑐𝑜𝑖𝑠𝑎𝑠 𝑒 𝑟𝑒𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑠𝑠𝑒 𝑎 𝑚𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑣𝑖𝑑𝑎 𝑙𝑜𝑛𝑔𝑒 𝑑𝑎𝑞𝑢𝑖? 𝑃𝑜𝑑𝑒𝑟𝑖𝑎 𝑑𝑎𝑟 𝑐𝑒𝑟𝑡𝑜, 𝑜𝑢 𝑒𝑟𝑟𝑎𝑑𝑜... 𝑀𝑎𝑠 𝑐𝑜𝑚𝑜 𝑛𝑎𝑑𝑎 𝑒́ 𝑔𝑎𝑟𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑜 𝑛𝑒𝑠𝑠𝑎 𝑣𝑖𝑑𝑎, 𝑒𝑢 𝑡𝑜̂ 𝑖𝑛𝑑𝑜 𝑛𝑒𝑠𝑠𝑎, 𝑒 𝑒𝑢 𝑡𝑜̂ 𝑙𝑒𝑣𝑎𝑛𝑑𝑜 𝑒𝑙𝑎 𝑐𝑜𝑚𝑖𝑔𝑜. 𝐸𝑠𝑝𝑒𝑟𝑜 𝑞𝑢𝑒 𝑛𝑎̃𝑜 𝑚𝑒 𝑜𝑑𝑒𝑖𝑒𝑚, 𝑚𝑎𝑠 𝑒𝑠𝑡𝑜𝑢 𝑐𝑎𝑛𝑠𝑎𝑑𝑜! 𝐸𝑢 𝑝𝑟𝑒𝑐𝑖𝑠𝑜 𝑐𝑜𝑙𝑜𝑐𝑎𝑟 𝑚𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑐𝑎𝑏𝑒𝑐̧𝑎 𝑛𝑜 𝑙𝑢𝑔𝑎𝑟, 𝑡𝑎́ 𝑙𝑖𝑔𝑎𝑑𝑜? 𝑁𝑎̃𝑜 𝑠𝑒 𝑝𝑟𝑒𝑜𝑐𝑢𝑝𝑒𝑚 𝑐𝑜𝑚𝑖𝑔𝑜, 𝑒𝑢 𝑠𝑒𝑖 𝑚𝑒 𝑐𝑢𝑖𝑑𝑎𝑟 𝑒 𝑣𝑜𝑢 𝑑𝑎𝑟 𝑢𝑚 𝑗𝑒𝑖𝑡𝑜, 𝑒𝑢 𝑠𝑒𝑚𝑝𝑟𝑒 𝑑𝑜𝑢 𝑢𝑚 𝑗𝑒𝑖𝑡𝑜, 𝑛𝑒́ 𝑚𝑎̃𝑒? 𝐷𝑖𝑧 𝑞𝑢𝑒 𝑎𝑚𝑜 𝑡𝑜𝑑𝑜𝑠, 𝑓𝑎𝑚𝑖𝑙𝑖𝑎, 𝑎𝑚𝑖𝑔𝑜𝑠, 𝑓𝑎̃𝑠... 𝐸𝑢 𝑎𝑚𝑜 𝑣𝑜𝑐𝑒̂𝑠, 𝑝𝑑𝑝? 𝑃𝑜𝑠𝑠𝑜 𝑒𝑠𝑡𝑎𝑟 𝑐𝑜𝑚𝑒𝑡𝑒𝑛𝑑𝑜 𝑢𝑚 𝑒𝑟𝑟𝑜 𝑚𝑎𝑠 𝑠𝑢𝑎𝑣𝑒, 𝑒́ 𝑐𝑜𝑚 𝑜𝑠 𝑒𝑟𝑟𝑜𝑠 𝑞𝑢𝑒 𝑎 𝑔𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑎𝑝𝑟𝑒𝑛𝑑𝑒! 𝐴𝑒̂, 𝑚𝑎̃𝑒, 𝑓𝑖𝑐𝑎 𝑠𝑢𝑎𝑣𝑒 𝑟𝑎𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑞𝑢𝑒 𝑒𝑢 𝑣𝑜𝑢 𝑟𝑒𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑟 𝑚𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑣𝑖𝑑𝑎, 𝑒𝑠𝑞𝑢𝑒𝑐𝑒, 𝑎𝑙𝑔𝑢𝑚 𝑑𝑖𝑎 𝑒𝑢 𝑣𝑜𝑙𝑡𝑜, 𝑞𝑢𝑒𝑚 𝑠𝑎𝑏𝑒.
                     -𝐾𝑒𝑣𝑖𝑛"

Terminei de escrever, sentindo meu coração apertado. Espero que eles me perdoem, eles não sabem como minha mente está, não imaginam o quanto preciso fugir dessa realidade sufocante. Deixei meu caderno aberto por cima da cama e me aproximei de (s/n) a pegando no colo devagar, saindo do meu quarto e descendo as escadas com cuidado saindo de casa e indo até a garagem. Estava muito frio e eu não ia esperar com ela no colo. Destravei o carro e abri a porta de trás a deitando lentamente sob os bancos, fecho a porta e me encosto na parte de trás do carro à espera de que o tal carinha aparecesse.

...

Cerca de uns vinte minutos depois, vi um carro preto com vidros filmados e sem placa se aproximar, certeza que é ele! O mesmo parou à minha frente e sem falar nada o mano desceu do carro, porra, logo um negão de quase dois metros, cara num brinca em serviço memo!

Sem demora ele abriu o porta malas, me influenciando a pegar as coisas dentro do carro as colocando ali no local.

  -Pronto, é só isso!

??: E a garota?

  -Que? Tá maluco, irmão? Ela vai comigo dentro do carro!

Falo em tom sério, vendo ele apenas fechar o porta malas e abrir a porta do carro, me deixando meio sem graça, ele achou memo que eu ia botar minha nega pra ir no porta malas? Num fode, grandão!

Sem demora a tirei do meu carro, a levando até o carro do grandão, deitando a mesma nos bancos.

  -Só vou deixar a chave lá dentro e volto.

Mostro a chave, vendo ele dar de ombros, carinha folgado, só não te bato porque quem vai apanhar vai ser eu! Sai dali subindo rapidamente, jogando a chave em cima do sofá dali da porta mesmo, e descendo novamente, vendo que o grandão já estava dentro do carro. Adentro o mesmo no banco do passageiro e me ajeitei respirando fundo.

??: Só vou te pedir pra se abaixar quando formos passar pela portaria! Deixo os vidros do motorista e do passageiro abertos para evitar desconfiança.

  -Ah, suave!

Assinto com a cabeça. Enquanto ele saia dali, observo minha casa deixando um leve suspiro escapar. Talvez nunca mais eu voltaria para esse lugar... Será?

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𝕽𝖊𝖘𝖙𝖆𝖗𝖙 𝕺𝖋 𝕺𝖚𝖗 𝕷𝖎𝖛𝖊𝖘Where stories live. Discover now