1 - Sobre Meninas e Lobos

Capítulo 22

Bella corre tão rápido que seus pés descalços doem. Estava tentando se manter forte, mas o homem que dirigia a carruagem foi morto na sua frente e, se não fosse por Catarina, ela estaria morta também. Catarina havia tirado o salto e batido na cabeça do homem que atacou a carruagem e também no lobo preto que estava do lado dele.

Bella se sentia culpada por ter se perdido dela no meio da confusão. Várias pessoas estavam correndo na direção oposta a delas, o que era o certo, porque aquele era, aparentemente, o lugar seguro. O vilarejo onde Bella morava não, mas ela não pensou nisso na hora, estava tão desesperada que apenas correu para sua casa e, no meio de tanta gente, acabou soltando a mão de Catarina.

Talvez ela tenha voltado para a casa de Christian, esse pensamento fazia ela se sentir melhor, mas não muito. Tudo que Bella queria era chegar em sua casa. Mas o que ela iria acontecer quando chegasse lá? Iria se esconder? Ela nem sabia o que estava fazendo.

Bella está chegando ao vilarejo quando vê uma fumaça e estremece, os gritos estavam bem mais altos agora. Um lobo surge diante dela. Ele é preto e enorme, e está rosnando. Pensou em voltar, mas sabia que era tarde demais para isso.

- Cachorrinho. - Diz ela, e o lobo rosna mais.

Bella segura firme no sapato que está em suas mãos, pretende tacar no lobo como Catarina fez, mas sente não será tão eficiente. O lobo vai se aproximando, ela começa a estremecer e sabe que não pode com esse lobo, então apenas começa a correr na direção contrária e o lobo corre atrás dela. Ela ouve um ganido e se permite olhar para trás.

Em um movimento rápido, um lobo cinza finca as presas no pescoço do lobo preto que cai imediatamente no chão. Morto. Bella estremece. Agora ela vai ser atacada por um lobo cinza. Ótima troca! Mas, ao invés de ataca-la, o lobo corre na direção oposta.

Bella respira aliviada, olha para o lobo caído, e continua seu caminho. Ao se aproximar do vilarejo, a gritaria era quase um som que torturava seus ouvidos. Gritos de dor e desespero! Decide ir por detrás das casas. Volta e meia ela se depara com algum lobo cinza claro ou branco, mas eles passam como se ela nem existisse. Quando chega em sua rua, sua garganta aperta e tem que se controlar para não chorar.

- Você não vai desmoronar agora, Isabella Pérlis. - Ela diz para si mesma.

O cenário é tão horrível e assustador que algumas lágrimas escapam mesmo ela tentando, ao máximo, segura-las. Várias pessoas caídas no chão, mortas, outras agonizando e pessoas estão sendo tiradas de suas casas. Crianças, adultos, velhos. Todos mortos ou morrendo. Tudo que ela conheceu estava, agora, sendo destruído e não havia nada que ela pudesse fazer.

Mas não tem apenas pessoas caídas, tem gente lutando também. Pelo que Bella pôde perceber, os lobos da pelagem clara lutavam contra os de pelagem escura, e a mesma coisa para os homens, uns vestiam roupas claras e outros escuras. Bella sabia que os lobos claros eram os mocinhos, mas os homens de roupa clara eram os que estavam arrancando as pessoas de suas casas.

Bella perdeu o controle de suas emoções quando viu alguns rostos conhecidos. Ela passava por eles quando começou a chorar. Suas pernas travaram, respirou fundo e obrigou suas pernas a continuarem o movimento. Decidiu parar de olhar. Saberia de qualquer jeito depois, se saísse viva, e ver aqueles corpos só a deixaria mais abalada.

Andou alguns metros e então alguém a abraçou por trás e ela soube, no mesmo segundo, que não era um dos bonzinhos. Ele começou a puxa-la para o meio da rua que agora estava cheia de sangue. E era mais que isso, o sangue tinha cheiro de morte, era um odor tão forte e mórbido que ela soube que, não importa quanto tempo passe, ela jamais esquecerá aquele cheiro. Tentou lutar, mas era um homem e ele era mais forte. Ele a levava em direção à fogueira.