CAPÍTULO 0 (INTRODUÇÃO)

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Certamente você já esteve diante de uma escolha difícil, talvez se perguntando o que teria acontecido se tivesse tomado outro caminho. Pode parecer bobagem, mas pequenas decisões podem ter grandes impactos. Ou talvez não tenham, quem sabe. As possibilidades são infinitas (talvez ao escolher outro caminho, você teria conhecido uma pessoa incrível que mudaria sua vida para sempre). Um exemplo ainda melhor é o famoso jogo de cara ou coroa: enquanto a moeda gira no ar, não há como prever o resultado, mas assim que ela cai na palma da sua mão, você obtém uma resposta. Parabéns, caiu coroa - pelo menos no seu universo!

Pense em como seria diferente se você tivesse tirado cara em vez de coroa. Bem, isso também aconteceu, em uma realidade alternativa. Existem inúmeros mundos, cada decisão que você toma cria um novo universo e uma nova realidade. Em outras palavras, existem infinitas versões de você espalhadas pelo multiverso. Essa é uma simples interpretação da mecânica quântica; para que todas as possibilidades infinitas sejam possíveis, infinitos universos precisam existir.

Esses tais mundos paralelos, obviamente existem separados do nosso universo, como um tipo de extensão além do convencional. Se está confuso pense em waffles. Um montinho de waffles, um em cima do outro, recheados com mel. É como se nosso universo existisse em um desses waffles, e os demais estão "por cima" do nosso. O mel impede que saibamos da existência dos outros waffles, mas isso não significa que eles não estejam lá.

Muitos cientistas estudam o conceito de multiverso, também dizem que é impossível fazer uma viagem interdimensional, isso é, ir de um mundo para o outro, pois segundo eles não há como passar a barreira de mel que recheia os waffles, apenas se descobrissem um jeito de esfrangalhar a realidade, abrindo um portal para o outro lado. Por mais que digam que tal coisa é impossível, existe um homem que acha a ideia de "impossível" um despautério enorme. O mesmo, dá risadas desses pseudocientistas (É como os chama).

Heinrich Kosmann é seu nome. Um nome que ressoa com genialidade além das fronteiras conhecidas. Engenheiro, empresário, professor, cientista, astrônomo e até mesmo comediante. Uma mente multifacetada que transcende a normalidade. Reverenciado como o ápice da intelectualidade, Kosmann foi agraciado com uma infinidade de prêmios devido às suas inigualáveis criações. Seu primeiro triunfo, o notável "Queijo Que Nunca Estraga", encheu seus cofres com milhões de unidades vendidas, cativando o paladar dos apreciadores gastronômicos por toda parte. Em seguida, veio o brilhante "Curativo Que Não Dói Ao Retirar", uma verdadeira dádiva para crianças, conquistando seus corações sensíveis. Desafiando os limites da imaginação, Kosmann apresentou ao mundo o revolucionário "Transmutador Palático". Pequenas pílulas, dotadas de sabores exclusivos, quando adicionadas a uma bebida, alteram instantaneamente o paladar, proporcionando uma experiência sensorial totalmente nova, sem comprometer os efeitos da bebida original. E não para por aí! O insigne cientista desvendou o segredo do "Falumentanol", uma pomada extraordinária que, meros segundos após a aplicação, traz alívio instantâneo à disfunção erétil, devolvendo aos aflitos uma vitalidade há muito perdida. Porém, entre todas as suas criações magníficas, nenhuma se compara ao prodígio máximo de Kosmann: o lendário "Gerador de Energia Biofótrica". Uma maravilha tecnológica capaz de converter as complexas e singelas substâncias produzidas pelas plantas em pura energia elétrica. Um dispositivo de magnitude inimaginável, destinado a salvar e transformar o mundo de maneira indelével.

Muitos proclamaram o "Gerador de Energia Biofótrica" como a magnum opus de Heinrich Kosmann, porém, desconheciam que algo ainda mais grandioso estava por vir. Infelizmente, o destino impediu que soubessem. Após dois anos de um inexplicável hiato, Kosmann desapareceu sem deixar vestígios. Cartazes afligiam as ruas, jornais estampavam manchetes e noticiários bradavam a mesma indagação: "Onde está o Dr. Heinrich Kosmann?" Nos canais televisivos mais populares, o tema era discutido exaustivamente, enquanto em meios de comunicação mais triviais, ousados jornalistas investigavam o enigmático desaparecimento de um trem-bala na Estação Central de Hamburg. Os investigadores, perplexos, mal conseguiam conceber como um veículo daquela magnitude poderia desvanecer-se tão repentinamente. Seria possível uma conexão entre o misterioso sumiço do trem e o extraordinário Kosmann? Um conluio secreto? Uma teoria conspiratória? Ninguém sabia, e ninguém jamais saberá. Exceto o próprio Kosmann, que, numa cidade próxima a Hamburg, empreendia uma audaciosa jornada a uma velocidade alucinante de 400 quilômetros por hora, rompendo as fronteiras do tecido da realidade através de uma falha espaciotemporal, abrindo caminho por uma passagem espiralada de caos entrópico.

Do além, no manto estrelado da noite, um clarão azul intenso irrompeu, seguido de uma poderosa corrente de ar. Para os cidadãos céticos que observavam à distância, aquele brilho fugaz poderia ter sido confundido com fogos de artifício, holofotes em um espetáculo musical, até mesmo um avião que caía em desgraça ou o anúncio de um ataque nuclear iminente. Pouco importava aos habitantes de Hamburg, que prontamente ignoraram o fenômeno, alheios a sua grandiosidade. Contudo, um trio de nerds barbados, por um capricho do destino, encontrava-se nas proximidades, entregues a uma noite de acampamento sob o majestoso dossel celeste. Acomodados em seus cobertores, com os olhos fixos nas estrelas, foram arrebatados por uma mistura assustadora de temor e maravilha quando a luz celestial se manifestou. Como se um jovem que, durante toda a sua existência, acreditara que o céu noturno se limitasse à pintura de Van Gogh, vislumbrasse, pela primeira vez, a verdadeira magnitude do firmamento. Atordoados, mergulharam no chão, impelidos pelo medo, apenas para erguerem lentamente suas cabeças, expressando uma combinação de pavor e admiração indescritíveis. Após o fulgor e a rajada de vento, um silêncio temeroso se instalou, breve mas assombroso. Um dos nerds negava, repetidas vezes, o que acabara de presenciar, murmurando "Não, não, não..." incansavelmente. O segundo permanecia com o olhar fixo no ponto celeste de onde a luz proviera, catatônico, sem reação. Quanto ao terceiro, este poderia jurar que, em uma fração de segundo, ele pode ver a cabine da Millennium Falcon... 

Expresso do InfinitoWhere stories live. Discover now