Expresso do Infinito

CAPÍTULO 1

Em uma cidade tão grandiosa quanto Nova Iorque, e em um bairro tão movimentado como o Brooklyn, encontra-se uma rua habitualmente tumultuada, suja e barulhenta, rodeada por pequenos prédios, de onde o vapor brota dos bueiros para abraçar as calçadas. Em meio a esse cenário urbano, há um apartamento modesto e envelhecido de quatro andares, com seu exterior carente de acabamentos e tijolos à vista. E é justamente no segundo andar, no número 21, que habita um ser humano peculiar chamado Otis Gleeson. Otis, um britânico de cabelos negros e curtos, usa óculos para corrigir seus impressionantes seis graus de miopia. No entanto, a sua aparência não é o que o torna verdadeiramente notável. Sua história é repleta de desventuras e inquietações, começando com um desentendimento familiar em sua terra natal, País de Gales. Fugir de suas responsabilidades no negócio da família era seu objetivo, ansiando ser um astro, alguém conhecido em todo o mundo, realizando turnês intermináveis. No entanto, seus pais, com a devida austeridade, não compartilhavam de sua visão mirabolante. E assim, Otis tomou a decisão de embarcar rumo aos Estados Unidos, a terra das oportunidades. Com suas economias meticulosamente acumuladas, Otis adquiriu uma passagem para Nova York, onde pretendia morar com seu amigo americano, Jordan Newman. Este jovem negro de cabelos curtos e negros entrou na vida de Otis de maneira inusitada, através de um fórum online dedicado a apelidar anões. Foi com o icônico comentário "Surfista de Microondas" que Jordan começou a se responder com Otis, dando início a uma amizade que logo se fortaleceu. Com as malas prontas e o violão em mãos, Otis se postou à porta de sua casa e lançou um pronunciamento final para sua família:

- Na próxima vez em que me virem, estarei na televisão, a bordo do meu foguete rumo à lua, realizando meu show! - Proclamou Otis com confirmação antes de fechar a porta com firmeza.

No entanto, apenas dez minutos depois, Otis, visivelmente irritado e coletado, foi obrigado a voltar para dentro do fim de buscar sua escova de dentes, frustrando sua saída dramática.

- Então, como foi sua viagem à lua? - Ironizou o pai de Otis, acrescentando um tom sarcástico à situação.

Otis saiu resmungando, deixando sua família rindo baixinho entre si. Durante a viagem de ônibus até o aeroporto, enquanto contemplava a paisagem passando pelas janelas, Otis não poderia deixar de se perguntar se Nova Iorque seria mais distante do que a lua. Afinal, ele não conseguia ver a cidade de sua casa, mas a lua... bem, essa estava sempre ali, visível a todos.

Não Brooklyn...

Otis Gleeson ficou deitado no tapete da sala do apartamento, afinando seu violão e com ressaca, como consequência da noite anterior. Estava cantando silabas aleatórias enquanto afinava de olhos fechados. Jordan estava fumando no sofá ao seu lado, trocando os canais da tv. Jordan olha lentamente para Otis com um olhar de pena

- O que você está fazendo? - Pergunta Jordan, com um tom de voz baixo e arrastado

-Eu estou... tentando achar o tom agudo certo para encaixar - Responde Otis

Otis não percebeu que a pergunta não era sobre o que ele estava fazendo naquele momento, e sim em relação ao que ele estava fazendo da sua vida. Mas Jordan resolveu ignorar para não deixar o ambiente triste. A campainha do apartamento deles toca e Jordan se levanta para ver quem é pelo olho mágico. Ele vê uma mulher bonita de cabelo curto e loiro. Jordan abre a porta, porém não toda, apenas uma frestinha para se comunicar com ela, pois não queria que a mesma visse o caos completo que estava o apartamento deles. Estava tão bagunçado que dava até para comparar com números complexos.

-Posso ajudar? - Perguntou Jordan gentilmente

- Ah, ei você. Desculpa, sou eu, a Nicole.

Jordan a encarou por 5 segundos em silêncio