Expresso do Infinito

CAPÍTULO 2

Platão, um dos mais importantes pensadores da história da filosofia, certa vez homenageou seu mestre Sócrates com uma história alegórica conhecida como Mito da Caverna.

O mito retrata prisioneiros acorrentados, imobilizados no fundo de uma caverna, incapazes de virar a cabeça para os lados. Sua única visão é direcionada para a parede em frente, pois desconhecem qualquer outra realidade e desconhecem a Netflix. Na escuridão da caverna, suas visões treinadas conseguem distinguir sombras e silhuetas dos seres que passam em frente à entrada: animais, plantas e outros elementos. Em um momento inesperado, um dos prisioneiros, chamado Picael, é libertado de suas correntes. A ansiedade e o nervosismo o consomem, pois ele jamais havia experimentado a sensação da liberdade. Incapaz de dormir, Picael toma uma atitude inusitada: ele se levanta e olha para trás, deparando-se com a entrada da caverna iluminada pelos primeiros raios de sol da manhã. Aquele espetáculo desconhecido desperta sua curiosidade e coragem, levando-o a decidir explorar a intensa luz. Ao sair da caverna, seus olhos se ajustam à claridade e uma visão jamais imaginada se revela diante dele. Árvores, pássaros, gramados, nuvens, montanhas... Toda essa abundância de informações é avassaladora para a mente de Picael. Ele percebe, com um choque de realidade, que sua vida foi baseada em projeções distorcidas das coisas reais do mundo exterior. Incapaz de processar tudo aquilo, ele desmaia e cai no chão. Quando Picael recobra a consciência, sente uma urgência em retornar à caverna e compartilhar com seus companheiros a revelação de que suas existências são uma mentira, uma ilusão aprisionada naquelas paredes de pedra.

Esse conto serve como uma poderosa metáfora, comparando os prisioneiros da caverna com pessoas comuns que vivem em um mundo limitado, aprisionados por crenças e padrões habituais. A jornada de Picael ao sair da caverna é uma representação simbólica de expandir os horizontes, quebrar barreiras e buscar o verdadeiro conhecimento além do que nos é familiar.

O mundo vai além das nossas limitadas percepções, e a própria existência é um enigma intrigante. Às vezes, é essencial desviar o olhar e explorar além das nossas zonas de conforto. Quando nos abrimos para outras realidades além da nossa, somos confrontados com uma nova perspectiva, um choque de realidade; assim como aconteceu com o jovem Otis Gleeson.

Breu...

Otis abre seus olhos com um desconforto intenso, encontrando-se deitado de costas no chão. Gemidos de dor escapam de seus lábios enquanto ele lentamente rola para o lado. Cada osso do seu corpo parece se partir gradualmente, acompanhado por uma dor de cabeça lancinante. Sua visão embaçada começa a se clarear gradualmente, sem brusquidão. Apoiado em seus cotovelos, ele se senta e ergue a cabeça, abrindo os olhos semicerrados, apenas para perceber que está deitado em um amplo banheiro retangular. O ambiente é luxuoso, muito maior do que seu modesto apartamento. Seus olhos se fixam em uma porta semelhante a uma entrada de elevador à sua frente. No canto do banheiro, avista uma elegante pia comum, enquanto do lado esquerdo se encontra um espaçoso box de vidro, equipado com um chuveiro de design moderno. Virando o olhar para a direita, depara-se com uma tela enorme fundida na parede, ocupando metade do espaço. Nessa tela, imagens de natureza em alta resolução são reproduzidas em vídeos hipnotizantes. Porém, quando Otis olha para trás, sua atenção é atraída por um vaso sanitário comum a uma distância considerável de cerca de dez metros. Instantaneamente, uma onda de náusea avassaladora o assalta, enchendo sua boca com conteúdo estomacal. Movido por um impulso desesperado, Otis se levanta e corre em direção ao vaso, arremessando-se sobre a tampa e levantando-a, enquanto seu estômago se esvazia em uma torrente interminável de vômito.

- Aahhnn – Gemeu e Regurgitou - Jesu... - Regurgitou novamente- ...Jesus, Maria e Josué ahhm – E novamente...

- O correto é José – Disse uma voz robótica vindo da privada.