Capítulo 2

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Enfrentando a tentação de observa-lo partir, Petra fixou os olhos no mar.


À primeira vista, poder-se-ia supor que ela possuía sangue espanhol ou italiano correndo nas veias. A pele era sedosa, os cabelos espessos e lustrosos. No entanto, os olhos verdes e o nariz afilado, combinados com seu estilo exuberante, denunciavam sua descendência escocesa proveniente da família do pai.


A brisa brincava com seus cabelos, o frescor causava um leve arrepio em sua pele, mas quando percebeu uma mão masculina repousar em sua nuca, um pequeno calafrio percorreu-lhe toda a coluna.


- Mil dólares, então... e o motivo - uma voz familiar sussurrou-lhe ao ouvido.


Ele voltara! Petra não sabia o que dizer!


- E nem tente pechinchar! - emendou em seguida com uma voz de seda. - Mil e o motivo, ou sem acordo.


A garganta de Petra secou. Não queria contar a verdade a ele, mas afinal, que opção tinha? E afinal, que mal ele poderia fazer?


- Pois bem.


Por que a voz dela soava tão trêmula? Seria porque ele ainda estava com a mão em sua nuca?


- Você está tremendo - ele murmurou, como se adivinhasse os pensamentos dela. - Por quê? Você está com medo? Excitada?


Enquanto as palavras lhe escapavam da boca, seus dedos escorregaram devagar pelo pescoço de Petra de modo que pôde sentir os batimentos de seu coração.


Lutando valente mente contra seus desejos, Petra libertou-se de seu toque e disse decidida:


- Não é nada disso! Eu estou com frio.


Ela percebeu uma sutil crueldade no sorriso estampado no rosto dele.


- É claro - o rapaz concordou. - Mas então, você quer que eu a aborde e depois a seduza, é isso? Por quê? Me conte. Petra respirou fundo.


- É uma história muito longa - ela avisou.


- Tenho tempo.


Petra fechou os olhos por um momento, tentando compor seus pensamentos de maneira lógica, abriu-os em seguida e começou a falar:


- Meu pai foi um diplomata americano. Ele conheceu minha mãe aqui em Zuran quando trabalhou aqui. Eles se apaixonaram, mas o pai dela não aprovava esse amor. Ele tinha outros planos para ela, pois acreditava que uma filha tinha o dever de ajudar a fortalecer o império financeiro da família. - À medida que falava, Petra percebia a raiva na voz, por causa da dor profunda que sentia com o que acontecera a sua mãe e se passava com ela naquele momento. - Meu avô renegou minha mãe depois que ela fugiu com o meu pai, e proibiu o resto da família de manter qualquer contato com ela. Mas ela me contou tudo. Como ele foi cruel! Meus pais eram muito felizes, mas morreram em um acidente quando eu tinha dezessete anos. Eu fui viver em Londres com o meu padrinho, que também é diplomata. Tudo ia bem. Terminei a faculdade e depois fui viajar pelo mundo com ele. Arrumei um emprego na minha área e estava me preparando para a minha pós-graduação. Mas então... pouco tempo atrás, meu tio foi até Londres, procurou meu padrinho e disse que meu avô queria me ver. Eu queria distância dele. Minha mãe nunca perdeu a esperança de que eles se reconcilisem um dia. Mas ele nunca respondeu às suas cartas. Ele nem me procurou quando meus pais morreram. Meu avô ignorou sua morte e nenhum dos seus parentes foi ao enterro. Ele não permitiu!


Lágrimas de ódio deslizaram pelo rosto de Petra, que as secou com rancor.


- Meu padrinho implorou para que eu reconsiderasse a situação. Ele me disse que era isso exatamente o que meus pais queriam... ver a família reconciliada. Disse também que meu avô era um dos maiores hoteleiros dessa região e que deveríamos vir até aqui para nos conhecermos. Eu quis recusar, mas...- Ela fez uma pausa e balançou a cabeça. - Achei que deveria fazer isso por minha mãe. Mas se eu soubesse o verdadeiro motivo do convite!

UM CONTO ÁRABE Where stories live. Discover now