Capítulo 5

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Capítulo V



Infeliz, Petra empurrou para longe o desjejum intocado e concentrouse na paisagem ensolarada através das janelas da sala de café da manhã.
Decidira comer lá naquela manhã porque esperava que a agitação das pessoas a sua volta prendesse sua atenção, e assim conseguisse pensar em algo que não a noite passada e, acima de tudo, em Blaize.
Blaize! Sempre que pensava nele, e isso ocorria com tanta freqüência que já não tinha paz de espírito, ela era invadida por sentimentos contraditórios de desejo e autocensura, combinados a uma sensação de perplexidade e incredulidade por ter se envolvido em tal situação. Como pudera desejá-Io?
De sua mesa, Petra admirava desconsolada o saguão do hotel que parecia estar, naquela manhã, mais cheio de funcionários uniformizados do que de costume.
O garçom se aproximou para limpar sua mesa. A fim de passar o tempo enquanto aguardava a tia, Petra caminhou até um cartaz que divulgava os passeios promovidos pelo hotel. Um deles chamou sua atenção e ela leu os detalhes da excursão seguidas vezes.
Um passeio pelo deserto, uma noite em um resort situado em um oásis onde se tem a possibilidade de sentir de perto a magia do deserto.
O deserto... Antes que pudesse mudar de idéia, Petra entrou no escritório, de onde saiu dez minutos mais tarde com sua reserva nas mãos. Uma noite inteira longe de Blaize lhe dava tempo para absorver os danos que sua reação instintiva causara em seu moral, e assim colocar sua cabeça de volta no devido lugar.
Tinha tempo suficiente para subir até sua suíte e trocar de roupa antes de encontrar a tia. Petra sorriu para o grupo aparentemente nervoso que se aproximou do elevador privativo da suíte presidencial.
- Todos parecem muito ocupados hoje - ela comentou.
- Está havendo uma reunião lá em cima entre os donos do hotel - um dos homens uniformizados comentou e suspirou.
Os donos do hotel. O coração de Petra acelerou. Aquilo significava que Rashid tinha voltado? E se tivesse chegado, quanto tempo levaria para procurá-la?
- Hum... Isso cheira maravilhosamente bem - Petra afirmou sorrindo quando cheirou o pedaço dourado de incenso que sua tia lhe estendia. Elas se encontravam no mercado de especiarias, onde a tia procurava com muito empenho algumas essências e as apresentava a Petra. Maravilhada, Petra examinava a pedra dourada em sua mão.
Era extremamente instigante viver no novo milênio e manusear algo familiar a civilizações tão antigas. Havia algo de especial naquele país, Petra pensava consigo mesma ao devolver a pedra ao vendedor.
- Eu tenho ótimas notícias para você - comunicou a tia, após convidála a tomar um suco. - Seu avô está muito melhor e convidou-a para visitá-Io esta tarde - prosseguiu, entregando-lhe um copo, radiante.
Petra quase derrubou a bebida. Seria apenas coincidência que seu avô a convidara justamente quando o sheik Rashid voltara a Zuran? Seu corpo ficou tenso, numa reação de defesa.
- Me desculpe, mas não vai ser possível. Eu... eu tenho outros planos. - Petra sentiu-se orgulhosa por conseguir aparentar calma, mesmo evitando o olhar da tia.
O silêncio que se seguiu revelou-lhe que sua resposta não era a esperada pela tia, por isso sentiu-se culpada e desconfortável. A última coisa que queria era desagradar ou preocupar aquela mulher que sempre fora extremamente gentil com ela, mas afinal, lembrou-se, conhecia os verdadeiros planos de seu avô.
Sua tia sorria, mas Petra sabia que era um sorriso forçado.
- Seu avô vai ficar desapontado, Petra - a tia disse em voz baixa. - Ele espera com tanta ansiedade por esse momento, mas se você está ocupada...
- Eu... eu programei uma viagem até o deserto amanhã - Petra explicou, na defensiva. - E eu preciso fazer algumas coisas antes...
A tia ouviu a explicação de Petra com expressão grave. Insistiu em acompanhar Petra até o hotel, mas uma vez lá, recusou o convite para uma xícara de café.
Ela estava prestes a entrar no táxi quando um impulso inexplicável fez Petra correr até o carro e avisar que havia mudado de idéia.
Atordoada com sua fraqueza, Petra enterrou os dentes em seu lábio inferior quando a tia aprovou sua decisão e lhe deu um abraço carinhoso.
- Eu sei que não é fácil para você, Petra, mas garanto que seu avô não é nenhum monstro. Ele gosta muito de você. .
Um leve arrepio percorreu a coluna de Petra quando ouviu as palavras inconscientemente sinistras da tia, mas já era tarde para mudar de idéia.
- Seu avô descansa depois do almoço, mas eu providenciarei para que um carro venha buscá-la. Quatro e meia está bem para você?
Petra não pôde fazer nada a não ser concordar com um gesto de cabeça.

UM CONTO ÁRABE Where stories live. Discover now