Capítulo 3

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Petra ouvia a própria voz como se esta não lhe pertencesse, grave e evidentemente assustada, indagando:


- O que você está fazendo aqui?


Podia jurar que seu nervosismo o divertia. Havia um brilho especial nos olhos dele quando respondeu:


- Esperando você, é claro.


- Mas aqui... E desse jeito? - ela perguntou, a voz trêmula.


- E se alguém estivesse comigo? Minha tia...


- Assim você teria atingido seu objetivo, não é mesmo? ele replicou, dando de ombros, despreocupado. - Além do mais, precisamos conversar, e eu precisava de um banho, por isso fez sentido juntar as duas coisas.


Ele parecia tão à vontade em sua suíte que ela se sentia como uma intrusa, e desistiu de perguntar como ele conseguira entrar ali.


- Você poderia ter tomado banho em seu próprio quarto esbravejou. - E eu estava planejando ir para a praia mais tarde, como combinamos.


- Depois eu não vou poder. Hoje é meu dia de folga. E a respeito do meu quarto - prosseguiu, cínico -, você acha mesmo que o pessoal do hotel tem acomodações tão boas como esta?


- Como conseguiu me achar? Eu não falei meu nome e você não me falou o seu.


- Não foi difícil. Seu avô é muito conhecido por aqui.


- Você o conhece? - Petra espantou-se.


Ele franziu a sobrancelha em sinal de zombaria.


- E por acaso um mero funcionário conhece algum milionário?


- E seu nome é? - pressionou-o.


Seria apenas impressão ou ele hesitou mais que o necessário?


- É Blaize - disse.


- Blaize?


- Algo errado? - perguntou.


Petra balançou a cabeça.


- Nada, é que eu imaginava que você fosse italiano, ou... espanhol ou grego. Mas seu nome...


- Minha mãe era da Cornualha - ele informou quase bruscamente.


- Cornualha? - Petra repetiu estupefata.


- Sim - ele confirmou levemente entediado. - E de acordo com a minha mãe, seus antepassados eram todos piratas!


Piratas. Sem dúvida seu tom de pele e seu tipo perigoso revelava essa descendência, concluiu Petra, lembrando que os piratas da Cornualha saquearam os navios da coroa espanhola, roubando não só seu ouro como as damas da mais alta nobreza espanhola que viajavam com seus maridos.


Blaize. Combinava com ele. Blaize.


- Bem, agora que já nos conhecemos, talvez possamos falar de coisas práticas. Esse seu plano...


- Eu não quero falar sobre isso agora - interrompeu-o. - Por favor, vista-se e saia.


Sentia um mal-estar progressivo, uma agitação diretamente relacionada à seminudez dele.


- O que está errado? - ele indagou, ríspido. - Mudou de idéia? Por acaso sua família a convenceu a conhecer este homem, afinal? Enfim, existem coisas bem piores do que casar com um homem rico...


- Não que eu saiba - Petra retrucou. - Eu não consigo imaginar nada pior do que... um casamento sem amor - defendeu com paixão.


- Você já se apaixonou alguma vez? - Blaize quis saber, respondendo ele mesmo a pergunta: - Não, é claro que não, Porque...

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