Capítulo 6

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CAPÍTULO VI






Petra estudava sua imagem refletida no espelho do quarto e tentava afugentar o sono. Quase não dormira na noite anterior e, além disso, os poucos momentos em que conseguira se desligar foram povoados por sonhos sombrios nos quais era perseguida por um homem de túnica branca cujas feições não pôde distinguir. Em seu pesadelo pedia ajuda a Blaize, mas ele, mesmo podendo vê-Ia, a ignorava e se divertia, rodeado por um bando de mulheres. Uma vez apenas ele a fitara, balançara a cabeça e dissera com crueldade: "Vá embora, pequena virgem. Eu não quero você".


E de manhã, mesmo após o fim da noite, Petra sentia como se uma sombra negra ainda pairasse sobre ela. Não havia mais tempo para convencer Rashid de que ela não era uma boa esposa, e mais uma vez Blaize a abandonava.


Lentamente saiu da frente do espelho. Já preparara uma pequena mala para passar a noite e vestira um traje que esperava ser adequado para enfrentar o deserto. Usava uma blusa de mangas curtas, calça cáqui e sapatos esportivos e resistentes. Levava também uma jaqueta de mangas compridas, um chapéu, óculos escuros e uma garrafa d'água. Contudo, o espírito de aventura e o entusiasmo que haviam motivado a viagem tinham desaparecido, deixando um triste vazio em seu lugar.


Agora ela estava com medo, Petra admitiu tremendo. E com toda razão! Seus pensamentos a deixavam atordoada! Não havia sentido em acreditar que amava Blaize.


Amar? Desde quando a palavra amor entroú no jogo? Ela tentou zombar da situação.


Apenas dois dias antes não queria admitir que estava sexualmente atraída por ele, e dois dias antes disso nem sabia de sua existência. E nesse momento, tentava se convencer de que o amava! Não, não era nada disso, corrigiu-se. Ela não o amava.


O telefone tocou e ela alcançou o aparelho depressa. Era a recepcionista avisando que sua condução chegara.


Apanhando a mala, Petra disse a si mesma que um tempo para pensar lhe faria bem. Era uma pena viver nesses tempos modernos.


No passado seria simples montar num camelo e atravessar a fronteira sem precisar apresentar um passaporte...


Um grupo de recém-chegados se aglomerava no saguão e a organização do passeio não pôde fazer nada por Petra senão apontar para o veículo que os aguardava do lado de fora.


Mesmo seus óculos escuros não conseguiram protegê-Ia da forte luz do sol que ofuscou seus olhos no trajeto até o automóvel.


Enquanto tentava se acostumar com a claridade sentiu alguém tirar a mala de suas mãos, e em seguida segurar sua cintura para ajudá-la a sentar-se no banco da frente do automóvel. Ouviu a porta do passageiro se abrir e logo depois o porta malas se fechar. Quando o motorista entrou no carro e ela virou-se para olhá-Io, não pôde disfarçar a surpresa!


- Blaize! - exclamou com a voz fraca. - O que você está fazendo aqui?


Petra quis desviar o olhar enquanto procurava recuperar o fôlego. O aperto no peito era tão intenso que chegava a doer, e um forte calor, reação à presença inesperada, percorreu-lhe o corpo.


- Você reservou uma viagem para o deserto - ele disse enquanto punha o automóvel em movimento.


- Sim... Mas...


- Mas o quê? - desafiou-a como se nada estivesse acontecendo. - Eu pensei que faria sentido. O deserto é um lugar extremamente sedutor, e seu pretendente não vai gostar nem um pouco de saber que sua futura noiva passou a noite com outro homem. E como foi o encontro com seu avô? Tudo perdoado? - petulante, ele mudou de assunto.

UM CONTO ÁRABE Where stories live. Discover now