Capítulo 1

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        Choro... Muito choro. Consolos. Súplicas que não serão atendidas. Pessoas chamando o meu nome em meio a lágrimas e palavras que não podiam ser entendidas. O que estava acontecendo?

         E então, repentinamente, eu conseguia ver tudo ao meu redor, como se as luzes do teatro tivessem sido acesas e dado início ao espetáculo. O que os meus olhos captaram, entretanto, é que eu parecia ser a estrela principal.

          Meu corpo estava deitado sobre o chão, imóvel e era o motivo de tanto choro e desespero. Por que eles choravam tanto? O que teria acontecido? E por que eu estava assistindo àquilo? Sei que meu cérebro estava raciocinando a resposta, mas eu me negava a ouvi-lo.

           “Volte, Kate.” Eric falava ao lado do meu corpo, apesar de não saber que eu podia ouvi-lo. E eu não queria ouvi-lo. Porque a sua frase me forçava a deduzir o que eu não queria.

         Caminhei na direção deles e avistei o dardo e logo me lembrei... Tinha sido atingida enquanto brigava com uma mulher esquisita no corredor do prédio de dormitórios. Parei de andar e encarei a pergunta por que não dava mais para fugir.

                Eu morri?

                Não!

             Eu sou uma bruxa. Meus poderes têm que servir de alguma maneira. Eu não posso ter morrido! Volte, Kate!

        Apressei-me e toquei meu corpo na esperança de que aquilo acabasse. Talvez eu tenha saído durante um sonho que nem àquela vez quando fiquei internada no hospital, mas minha mão simplesmente atravessou e nada aconteceu.

        Na.da.

        Não! Não! Não! Eu quero voltar!

        Eu.quero.voltar!

        Algo gelado foi colocado sobre a minha testa e tudo que estava ao meu redor começou a desaparecer. Não via mais meu corpo, nem Mel, nem Eric e nem estava mais no prédio de dormitórios.

        Tudo ficou completamente escuro. Um breu. Era como se eu estivesse perdida em algum lugar. Ou perdida de mim mesma. E de repente eu senti algo estranho subir pelo meu corpo. Era o meu sangue nas veias, sentia o líquido se arrastando por elas.

        Estava mais uma vez no prédio de dormitórios.

        “Você a matou! Não acredito que estava me espionando!” Eric berrava e, aos poucos, pude ver a mulher. Aquela que me atingiu com o dardo. Ele a sufocava com magia. Deu para perceber a ligação entre as suas mãos estendidas e o sufocamento dela. Os olhos esbugalhando, a boca abrindo em desespero. Mas a minha visão estava apenas olhando as imagens porque a minha mente tinha parado na sua primeira frase: “Você a matou.”. Ele estava falando de mim, não era? Era essa a resposta para a minha pergunta. Eu estava realmente morta.

        Senti duas mãos se fechando ao redor dos meus braços e o breu voltou. E, algum instante depois, tudo clareou.

        Quem era aquela mulher a minha frente?! Acho que nunca conheci uma moça ruiva como esta. Seus cabelos estavam presos em um coque e era ela quem segurava meus braços.

        — Onde estou? – perguntei enquanto tentava me sentar na cama. A moça me largou.

        — Por Deus! A senhorita parou de delirar. – ela falou depois de ter respirado, aliviada. — Gostaria de comer algo?

        — Onde estou? – olhei ao redor tentando ter uma pista do porque aquela garota usava um vestido longo, tão arrumado, com cara de que saiu do século retrasado. Estava em um quarto bem antigo porque não havia nada além de um guarda-roupa, duas camas e vários colchões, sem qualquer aparelho eletrônico. Será que era um centro de emergência mais simples?

        — Desculpe-me. A senhorita está em minha casa porque a encontrei deitada na rua delirando. Está doente? Posso pedir um médico. De qual família você é?

        — Obrigada pela ajuda... – levantei da cama. — Qual seu nome mesmo?

      — Ainda não disse, senhorita. – ela sorriu. — Chamo-me Elizabeth Fay. Acho melhor a senhorita descansar um pouco.

        — Obrigada pela ajuda, Elizabeth Fay. Não posso abusar mais da sua hospitalidade.

        Não sabia o que fazer. Devia ter notado que aquilo não era um centro de emergência porque não havia parentes, nem amigos ao meu lado, porque o dardo não estava enfiado na minha barriga e nem havia sinal de ele ter estado ali. Porque eu ainda usava o vestido preto de renda que minha irmã deu quando deveria usar uma roupa de hospital. Porque eu me sentia bem.

        — Senhorita? Está a delirar mais uma vez? – Elizabeth chamou a minha atenção e apenas balancei a cabeça negativamente. — Não está abusando da minha hospitalidade. Pode ficar à vontade enquanto quiser. – ela fez um gesto bastante formal, segurando as saias e as levantando sutilmente e seguiu para fora do quarto.

        Pela porta entreaberta pude ver uma família sentada à mesa, prestes a fazer sua refeição. O que eu deveria fazer? Havia um pressentimento muito ruim dentro de mim. Meu peito parecia estar cheio de lágrimas prestes a explodir e rolar pelo meu rosto.

        — Liza! Liza! Execução na praça! – saí do quarto depois de ouvir isso. Quem seria executado na praça? Meu Deus. Um pavor tomou conta do meu ser.

        Elizabeth se afastou de um balcão de pedra, onde parecia estar servindo a comida para a família, e foi abrir a porta para o rapaz.

        — Zach! Não é de bom tom ficar berrando na janela. Basta bater à porta. – ela chamou a atenção do rapaz ruivo, branco e com muitas sardas espalhadas pelo rosto. Quantos ruivos havia neste lugar?! E notei que seus olhos foram do rapaz para mim. Percebi que ela não o repreenderia se eu não estivesse ali. — Senhorita, gostaria de um vestido emprestado? – ela virou e me perguntou. Talvez ela quisesse que eu saísse e, por isso, me senti na obrigação de aceitar.

        A ruiva foi ao quarto e, em alguns segundos, retornou com um vestido cinza no estilo do dela: longo e com uma enorme saia. E de brinde ainda recebi uns sapatos de salto médio, daqueles que incomodam um pouco. Ok! Ônus de tempos passados, pelo visto.

        É claro que eu estava em outro século. Não estou sabendo de execuções na praça ocorrendo nos tempos modernos. Mas ainda havia uma questão: o que eu estava fazendo ali?! Será que me perdi depois de fazer alguma viagem ao tempo?

        — Quem foi a bruxa pega desta vez? – escutei Elizabeth perguntar enquanto eu caminhava lentamente para o banheiro.

        — A Gricem. – e o silêncio tomou conta do lugar.

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Obrigada pelos comentários anteriores!

Beijos! :D :D

A Maldição Gricem (Livro 2 - Saga A Herdeira)Where stories live. Discover now