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info. 1.000 won = aprox. 4 reais e 65 centavos.


road trip.

Sun dormia em seu colo, o narizinho arrebitado entre seu pescoço e ombro, as pernas frouxas ao redor dele.

Taehyung andou.

Mesmo sob a luz da lua e os ruídos da noite, o medo de Taehyung não estava com ele ali na estrada, às beiras da floresta e no silêncio descomunal que só a ausência de civilização proveria. Estava naquele trailer em que viveu desde que se casou, desde que se apaixonou pelo engenheiro que, por coincidência, precisava de permissão para residir na Coreia. Estava em como Heiner não cuidava deles há algum tempo, não cheirava o bebê ou o preparava para o descanso à noite.

Em como não fazia questão de trazer o pão para casa ou permitir que Taehyung trouxesse; preferia passar fome ou, mais comum, comer sozinho na rua.

A caminhada se tornou um sacrifício com Sun no colo. A noite se tornou dia. A floresta se tornou cidade.

— Bebê. - Ele murmurou chamando a atenção dela, sentados à mesa de uma conveniência às sete da manhã. - Fique aqui. - Ordenou suave, levantando de sua cadeira e deixando-a de guarda com as malas.

Sun assentiu, os olhos grandes observando o pai avidamente, como se entendesse a avalanche de sentimentos nos olhos e no tom de voz dele e quisesse dizer alguma coisa, mas não sabia o quê.

Taehyung se sentia confortado pelo gesto, ainda que sua mente o avisasse que Sun não entendia nada. Sua idade tenra não permitia que entendesse.

E isso era ótimo. Ela não precisava saber o que era aquilo.

Com um sorriso pequeno no rosto para ela antes de sair, o Kim andou rapidamente até o caixa eletrônico no canto da conveniência. Retirou o seu cartão do bolso, sua única ferramenta de sobrevivência naquela situação. O dinheiro que guardava sempre que Heiner pedia que fosse ao mercado - de um ano para cá. O cartão era do seu marido, e Taehyung não se atreveria a perder sequer mil won caso Heiner quisesse limpar sua conta bancária.

Ele seria capaz disso, de punir Tae e Sun por irem embora.

₩ 91200, ele havia juntado.

Seu celular começou a tocar, estridente como um alarme de invasão. Os poucos na loja, velhos que gostavam de passear no período matutino, se assustaram com o súbito alvoroço.

Taehyung tirou o volume do celular delicadamente, pedindo desculpas com um gesto repetitivo da cabeça. Encaixou o cartão no espaço da máquina, digitando a senha logo em seguida para abrir o campo de serviços do banco.

Saldo:

53000.

Assustado, Taehyung arregalou os olhos. Suas mãos começaram a tremer de imediato, e ele deslizou os dedos já suados para o botão de extrato.

O visor era cruel com ele, e mostrava as duas últimas transações que Taehyung nunca realizou. As duas num bar de beira de estrada, há quase dez quilômetros de onde estava (e por onde ele passou durante a madrugada). 

Heiner.

De cabeça baixa, Taehyung mordeu os lábios evitando choramingar. Retirou todo o dinheiro com rapidez, guardando-o dentro do moletom com bolsos na frente como se fosse fugitivo; e era. Comprou o menor salgadinho, o suficiente para enganar o pequeno estômago de sua filha. Depois, ele sentou na cadeira dela. Pegou-a no colo para cheirá-la um pouco, acalmar seu coração desesperado.

all of me - jjk+kthOnde as histórias ganham vida. Descobre agora