III

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criminal.


A rua parecia derreter ao redor de Taehyung, rua líquida como óleo e água. O sol escaldante dava a sensação de ondas, os objetos sólidos pareciam cremosos, o ar ondulando como gás. Sem tempo para descansar as horas que pagou pelo motel, ele e Sun arrumaram tudo o que tiraram da bolsa e tomaram banho, sem parar para realmente dormir o tempo que precisavam antes de recomeçar toda a jornada.

Taehyung estava tão estressado, que mal conseguia compreender o quanto se passou desde que saiu de casa. Ele não contava mais as horas direito, tudo parecia o mesmo dia. O dia que não acabava nunca.

Agora, debaixo do sol quente, ele e Sun esperavam na fila para entrar no ônibus. Seokjin fora prestativo com a passagem, agilizando todo o processo para que Sunny não tivesse que pagar também e eles pudessem viajar logo - Taehyung mentiu, é claro. Disse que precisava urgente de ajuda, pois em Busan ele teria o respaldo médico de um especialista para a sua menina que sofria de cólicas constantes há um mês inteiro. Quando pai e filha chegaram na rodoviária, então, tudo estava pronto. Sun também parecia mais solta. Depois de passar por tantos lugares e ver tantas pessoas, ela parecia ter mais desenvoltura na frente de desconhecidos. Aquilo era bom - e anormal, de certa forma. Taehyung sentia orgulho de perceber que ela era uma menina que se adaptava fácil. Ele mesmo sempre foi um ômega social, se tornando recluso apenas após o casamento.

Em uma hora, o ônibus estava partindo para Busan. A mala dele e de Sun os acompanhava, porque o Kim não queria abandonar seus pertences. O pouco que tinha ali era necessário, e ele tinha medo de perder.

Taehyung segurou Sun no colo no começo. Como sempre, ele estava muito mais assustado do que ela, que não entendia nada e parecia feliz que estavam vendo a rua do alto. Mas o medo de Taehyung era algo que ele não conseguia esconder. Estava encolhido na cadeira, agarrado em Sunny como se ela fosse seu escudo e ele o escudo dela. Não queria que ninguém os visse, que ninguém os notasse.

Era involuntário.

Estava perturbado com a possibilidade de Heiner entrar naquele ônibus.

Quando vinte minutos se passaram e ele finalmente conseguiu afrouxar o aperto em Sun, soltar a respiração e deixar que ela sentasse em seu próprio assento, na janela, ele percebeu que estava indo embora. Abandonando. Mas ele se sentia abandonado, e conhecia o sentimento como ninguém. A sua filhotinha estava fascinada, alegre. Taehyung pegou o celular do bolso para se distrair, e uma notificação apareceu quando acendeu a tela.

> HEINER

[Foto anexa]

Taehyung abriu tentativamente, respirando fundo. Seu coração estava comprimido, o ar difícil. Todo o progresso que teve em vinte minutos de viagem voou janela afora. Ele não queria nunca mais ver Heiner, o apavorava a ideia de encontrá-lo. A foto era de um papel. Um papel timbrado. 

Da polícia rodoviária.

Um boletim de ocorrência.

No boletim, Heiner relatava que Taehyung havia levado a filha deles do lar e do convívio saudável. Que tinha fugido com o bebê que não estava pronto para a sociedade, para as pessoas, os cheiros e os instintos delas. Os cheiros confundiriam o psicológico da menina e afetariam a sua designação no futuro. E tudo porque a mãe imprudente, que não pode ser chamada de mãe, decidiu fugir das obrigações. Heiner o denuncia como se ele fosse um indigente, um desonesto, um lixo humano

all of me - jjk+kthOnde as histórias ganham vida. Descobre agora