IV

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gu.

O quarto que Yejin separou para ele e Sun era grande. A casa em si era bem maior do que parecia por fora, cheia de cômodos bem distribuídos. Embora fosse dentro da cidade e em uma área residencial, a casa de seu pai fazia parte de um pequeno condomínio de casas, então a área era grande e bem delimitada. 

Sun estava triste. Ela podia perceber que seu pai estava bravo com ela, e esperta como era, não se atrevia a desobedecer. A coitadinha sequer queria falar, com medo de levar bronca. Taehyung não gostava de ser um pai bravo, ele não era, na verdade, mas precisava conter a recém euforia de Sun em relação ao mundo fora da casa dos pais. Ela precisava entender os limites das coisas.

E quebrar pertences dos outros e fazer algazarra estava longe do que Tae queria para ela. É claro, ela é uma criança - ele não usurparia a folia de um filhotinho. Ele acreditava que não tinha pego pesado no castigo. Mesmo assim, ela precisava entender já o que fazia de errado.

Quem abre as asas cedo, tende a voar cedo. E tudo que é feito cedo demais, geralmente é feito sem cautela. Nesse sentido, era para isso que Taehyung estava ali.

 ~


Parte do processo de partir era doloroso. Muito mais quando se parava para pensar nele, em toda a ideia de ir embora, deixar para trás toda uma vida, um planejamento, um marido.

Depois que se alimentou à mesa com seu pai e a mulher dele em total silêncio, Taehyung  tomou banho e deu um banho em Sunny, depois apagou as luzes do quarto e não pensou duas vezes. O objetivo era dormir, dormir bem. Mas ele não imaginava que o peso de suas decisões recairiam em seus ombros agora.

Estirado na cama com Sunny nos braços, Taehyung afundou num mar de angústia e flagelo que nada tinha a ver com o medo. O medo era uma constante desde algum tempo. Heiner não costumava agredi-lo fisicamente, mas de vez em quando ele perdia a paciência com muito pouco. Olhar nos olhos de Sun e ter de persuadi-la para não chorar e sair do cômodo em que os dois estavam brigando era comum, mas conforme as coisas escalavam, às vezes ele não tinha tempo de alertar Sunny, e ela presenciava desentendimentos nada agradáveis.

Ela se estressava muito nesses episódios, às vezes tinha dificuldade para dormir.

A primeira vez que Heiner o empurrou, por pouco Taehyung não caiu em cima da filha. Depois disso, Taehyung tentava ao máximo deixar a menina fora de circulação quando ele e Heiner não estavam bem, o que era frequente. Ela aprendeu a brincar no quarto, sozinha. 

Era o amor e a dor digladiando dentro do Kim. Caso ele não a isolasse, ela testemunharia brigas que podiam se tornar algo pior. Mas que criança tem de viver isolada?

Heiner já foi muito bom para ele. Depois que perdeu o emprego, no entanto, ele havia se transformado num homem amargo. Em sua cultura alemã, um alfa provê para a família e o ômega cuida dela. É tudo muito quadrado, fechado. Não há espaço para a interpretação de que talvez um ômega cuida provendo também.

Não era só "na cultura dele". Os direitos dos ômegas eram nublados ainda, um labirinto cheio de caminhos tortuosos, que eram desbravados pouco a pouco. Muitos ômegas trabalhavam e eram aceitos, e muitos ainda viviam às custas do parceiro.

Desempregado, Heiner decretou  que não queria seu marido trabalhando, que ele sozinho era capaz de se virar. Mas os dias passavam, e Heiner não estava fazendo muita coisa para garantir a sobrevivência deles.

Tudo o que passava na cabeça do ômega agora eram imagens. Ele e Sun andando à beira da estrada, desamparados, à noite. Ele e Sun pegando carona com um homem desconhecido que parecia gentil, mas que escondia um monte de droga no carro - e que podia tê-los machucado. Ele e Sun procurando onde dormir, procurando o salgadinho mais barato para tomar de café da manhã.

all of me - jjk+kthNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ