VII

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teaching.

Taehyung deixava a cozinha de Jungkook impecável, totalmente organizada e muito mais limpa do que Jungkook já havia deixado algum dia. Depois de reservar as sobras para o jantar - ou às vezes fazendo a janta depois do almoço e guardando na geladeira e freezer, o ômega começou a entender a rotina da casa.

Em uma semana fazendo almoços e ganhando trinta mil won todos os dias, percebeu que Jungkook era um pouco metódico, o completo contrário da Sra. Jeon - que não tinha horários ou mesmo comportamentos fixos. Ela mudava da água para o vinho, quase sempre quando Jungkook estava em casa.

Eles eram complicados.

Ela porque delirava. Ele porque se isolava.

Jungkook se fechava para a mãe como se não conseguisse ser de outro jeito; ele fisicamente colocava barreiras entre eles e sequer percebia. Sentava longe dela, se mantinha distante e por vezes não ocupava o mesmo cômodo. Havia alguma pendência entre os dois que nenhum parecia querer dirimir. Ele era severo consigo e com ela, e ela era ainda mais com ele.

Sunny, agora, o acompanhava. Na manhã seguinte do seu primeiro almoço nos Jeon, a menina adoeceu. Estava com febre e bastante catarro - resultado da quantidade de tempo que ficou na piscina com seu pai, e Taehyung trabalhou cem por cento do tempo pensando na menina aos cuidados de sua madrasta. Jungkook ficou na cozinha o tempo todo nesse dia, quase como se sentisse as nuances do precário humor do ômega e tivesse a necessidade de equilibrá-las. O policial observou com atenção da mesa enquanto Romilda e sua mãe pairavam ao redor do Kim, que finalizava com azeite um mix de folhas claras e escuras, mas o vinco na testa dele era permanente e era cristalino que Taehyung estava internalizando algum grande incômodo.

Depois do almoço, uma ordem trovejada saiu dos lábios molhados de Jungkook. Ele informava a Taehyung que a criança poderia frequentar a sua casa enquanto Taehyung estivesse ali.

Foi o que bastou para que o Kim recolhesse a menina da casa de seu pai e a levasse todos os dias com ele.

~


Sunny parecia afetuosa sobre Jungkook, e não só isso, mas atenciosa o suficiente para permanecer tranquila perto dele. Ela o rodeava na poltrona na sala, perto da cozinha, com frases que Taehyung sequer sabia que ela sabia falar, falando tudo com muita calma e disciplina, e aquilo chamou a sua atenção. Sunny colocava o carro a frente dos bois quando se tratava de falar. Ela era afobada quando engatava no entusiasmo. O Kim, então, desviou a atenção do corte dos tomates para entender o que acontecia diante dos seus olhos.

— ... depois eu binquei na pitina, e-

— Ômega. - Ele interrompeu, sobrancelhas franzidas e lábios apertados. A menina de imediato se calou ao ouvir a voz altiva do Jeon. Taehyung conteve um arrepio, fascinado por aquela interação. - Brinquei. Piscina. Você deve falar corretamente.

binquei. Piti- - Ela se interrompeu, apertando as mãozinhas juntas. - Piscina.

— Sem atropelo. - Ele pediu, voz completamente em acordo com o que Jungkook pedia, totalmente sossegada. - Mais uma vez, ômega.

 Taehyung sentia o coração na boca. Jungkook estava sentado na poltrona, com Sunny em sua frente, claramente tentando se aproximar mais e mais dele, e ele, tão resguardado, ensinando-a a falar com infinita paciência - coisa que ele não parecia ter sobrando para qualquer outra situação.

binquei. - Ela fez um bico quando percebeu que não conseguia. Depois, seu rosto se transformou em uma careta de choro. Tanto quanto queria abraçá-la, Taehyung sentia a necessidade de deixar aquilo nas mãos de Jungkook. Ver com os seus próprios olhos o que ele faria, como ele contornaria aquela situação.

— Não chore, ômega. - Ele pediu, voz calma como desde o início. - Você vai aprender. Basta praticar.

A menina coçou os olhos, depois enfiou o rostinho nos joelhos de Jungkook, mas sem chorar. Quase como se quisesse se esconder, quisesse que ele a protegesse. 

O coração de Taehyung aumentava de tamanho a cada segundo que passava. Uma sensação deliciosamente sufocante o tomava, e ele já não era capaz de orquestrar a cozinha como fazia há um minuto atrás.

Jungkook passou a mão nos fios loiros dela, os olhos plácidos, livres de qualquer aspereza. Não era uma reprimenda, e sim uma lição.

— Descanse, ômega. - Ele disse baixo, acariciando seus fios livremente. Sua filha pareceu desligar.

~


O almoço seguiu sem qualquer evento. A mãe de Jungkook estava indisposta, de maneira que Romilda alimentou-a na cama. Jungkook estava como sempre, resoluto, extremamente quieto. Sunny também, comia com sono, quase como se a presença do alfa reduzisse seu temperamento elétrico num estado pacífico e dengoso. Ela olhava para o Jeon o tempo todo, esperando silenciosamente que ele brincasse mais com ela.

Taehyung sentia o mesmo com ele. Era difícil de colocar em um raciocínio lógico. A presença era o suficiente para balancear as emoções díspares que o ômega sentia quando sua cabeça ia em direção a Heiner. E sua cabeça ia em direção a Heiner muitas vezes.

— Está delicioso. - O alfa elogiou o ensopado de peixe, um pimentão amarelo pendurado nos lábios, sendo engolido um segundo depois.

Taehyung estava se sentindo extremamente à deriva naquele dia. O momento com a sua filha havia o pego de surpresa, de modo que tudo o que Jungkook fazia era alvo de sua total atenção. Mesmo o mais trivial dos comportamentos.

— Obrigado, alfa. - As bochechas de Taehyung ganharam um tom pêssego, mas o policial estava muito entretido com o seu prato para notar.

— Deixa um prato desse para o meu jantar, por favor. - Ele pediu. Seu estado de espírito estava um pouco diferente, sim. Levemente mais acessível. Talvez fosse o fato de sua mãe não estar ali, ou de Sunny estar. Taehyung ainda não sabia com absoluta certeza, e não planejava fazer dessas constatações uma investigação.

Mas era inevitável imaginar...

— Alfa, posso preparar sobremesas?

Jungkook assentiu de imediato, os lábios molhados de ensopado.

— Você tem tudo o que precisa? 

Taehyung hesitou, constrangido por algum motivo que não conseguia compreender. 

— Eu-

— Fique pronto às 8. - Murmurou, a atenção voltada para a comida todo o tempo. - Vamos ao supermercado.

~


Os olhos enevoados do homem liam o conteúdo da peça, contente com o decurso de suas decisões. Sua advogada, ômega, gostosa e muito mais interessada em ter seus filhos, o ajudaria a assustar Taehyung de maneira a tirá-lo do eixo.

E para tirá-lo do eixo, bastava envolver Sun.

Heiner nunca teve tanta certeza de que queria ver alguém na lona quanto naquele momento de sua vida. E se Taehyung achava que tinha o deixado por bem, ele perceberia que esse foi o seu maior erro.

Heiner faria Taehyung implorar para voltar.

all of me - jjk+kthWhere stories live. Discover now