Capítulo 3

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Arggg aquela Amanda irrita qualquer pessoa. Infelizmente descobri hoje de manhã que ela se vai inscrever na Seleção. Com certeza será selecionada. Cabelo de Barbie, cara de anjinho, magrinha e rica. Ela anda de um lado para o outro a fazer tratamentos para se preparar para a fotografia.

Sim, porque quando me inscrever para a seleção vou ter de tirar não sei quantas fotografias.

Já me mandou passar não sei quantos vestidos justos que mostram tudo, daqueles mesmo que eu odeio.

E eu que estou cheia de sono. Pois, não admira, ontem fiquei acordada até às 2 da manhã com a história da seleção...

Já falei com Sr. Smith e ele combinou que ficaria a trabalhar até à meia-noite hoje e que amanhã teria o dia de folga. Que sorte, ele é a única pessoa de casta alta que conheço que é boa pessoa. Pergunto-me a quem terá saído a Amanda... Só se for à mãe.

Acabo por me decidir que é melhor me empenhar no trabalho, para ver se as horas passam mais depressa.

E passam. Volto para casa à meia-noite e meia, completamente exausta. Como uma maçã, e vou ver a mãe e Mel. Elas dormem as duas calmamente, por isso eu vou para a sala e faço o mesmo.

Acordo bem-disposta com um beijo da minha irmã, mas assim que ela olha para a minha cara dá um berro. E lá se vai a minha boa disposição matinal.

- O que foi? - Pergunto assustada.

- Roseeee! Tens umas olheiras do tamanho do mundo!

A sério? A sério que era só isso? Começo a rir da preocupação excessiva da minha irmã.

- Não foste tu que disseste que a única forma de eu conquistar o príncipe era ser eu mesma? Então pronto, eu vou ser eu mesma. E as olheiras estão incluídas.

Ela desata a rir enquanto me observa a vestir-me.

- Então, pareço uma princesa? - Eu pergunto, quando acabo de me preparar.

Ela ri-se:

- Nada disso maninha.

Vesti-me como normalmente.

Ela dá-me um abraço e eu saio de casa.

Ando cerca de 1 km até chegar à sede da Freguesia, onde se encontra uma fila de raparigas excitadas. Ainda bem que não sou como elas. São umas Amandas 2.

Fala-se no diabo e ele aparece. Um pouco mais à frente da fila encontra-se Amanda, com um grupinho de raparigas à volta dela.

Eu ao pé dela pareço uma doninha fedorenta. Mas não quero saber disso. Afinal, eu não conheço o príncipe de lado nenhum e não me quero apaixonar por um estranho. Vou inscrever-me porque é o melhor para a minha família.

O tempo passa e finalmente é a minha vez. Um guarda acompanha-me até uma sala abafada, onde se encontram várias raparigas da minha idade, 17 (quase 18), outras ligeiramente mais velhas e outras ligeiramente mais novas. Lá também se encontram várias secretárias, e a melhor forma de descrever o sítio é que é exatamente como quando fui tirar o cartão de cidadão.

Aproximo-me da secretária a que o guarda me indicou, e sento-me numa cadeira em frente a ela. Separa-nos uma mesa de mármore com um computador e algumas folhas e canetas em cima.

- Olá querida. Presumo que esteja aqui para se inscrever na seleção - Eu assinto, com um sorriso - Aqui está o formulário que tem de preencher. Quando acabar avise-me para tirarmos a sua fotografia. Caso seja selecionada vai ficar a sabe-lo através da edição especial do jornal Nacional, daqui a dois dias, onde Abel, o apresentador, irá anunciar o seu nome. No dia seguinte de manhã os guardas reais irão busca-la a casa.

- Obrigada.

Recebo o formulário. A primeira página tem as informações básicas: Morada, casta, código postal, telefone (que eu não tenho), nome dos pais e possíveis alergias ou doenças. A segunda é dedicada ao meu aspeto físico: A cor do meu cabelo, olhos, peso, altura, número de calçado (a sério? Esta gente é mesmo maluca), tipo de sangue e pele, etc.

A terceira página e a quarta são um pouco diferentes, e são as últimas. Perguntas.

1. Este espaço é livre para dizer o que quiser ao príncipe. Assim, este poderá conhece-la melhor.

O que é que é suposto eu escrever aqui? O quanto eu o amo? O quanto ele é importante para mim, e o quão charmoso ele é? Não! Além disso, duvido que ele tenha a paciência para ler isto. Por isso, vou divertir-me.

Querido Príncipe de llléa,

Espero que não se habitue a palavras como "Querido", "Charmoso" , "Maravilhoso", "Perfeito" etc.

Antes de mais, gostava de perguntar-lhe se está realmente a ler esta carta. A resposta seria sim. É uma pena que eu não acredite nisso. Acho que só se dará ao trabalho de ler as cartas em que na primeira página se encontra o número 2, 3, ou 4 (no espaço correspondente à casta).Espero estar enganada em relação a isso.

Acontece que a minha casta é a 6. Acontece também que tenho muito orgulho nela. Se me quiser conhecer, terei todo o gosto em contar-lhe o quão miserável é a vida na minha casta. De qualquer forma acredito que vossa excelência não será como a maioria dos snobs da realeza que conheço. Espero que corresponda à minha expectativa, e espero também que me ajude a mudar a vida dos casta 6.

Por isso, mesmo não o elogiando a cada segundo (acredito que hajam pessoas capazes de tal), espero poder vir a corresponder também às suas expectativas. Mas devo avisar que o meu humor pode ser bastante inconveniente. Mas só às vezes.

Até mais.

(vénia)

Só enchi metade das linhas que deveria encher, mas a minha paciência esgota-se.

2. Se estivesse na Seleção, como trataria o príncipe e como agiria perante uma situação em que não concordasse?

Bem, se estivesse na seleção iria agradecer ao príncipe por me ter aceitado na sua casa. Mas a forma de como o trataria concordaria com a forma de como ele é. Se ele for tímido, lógico que terei de me por à vontade, literalmente. De qualquer forma não acredito que este seja tímido. Acredito que seja um pouco convencido, mas amável (de vez enquanto). Por isso seria como serei para toda a gente que não é má para mim. Sim, sem tratamentos especial. Chocados?

Respondendo à segunda parte da pregunta, se este me pusesse numa situação em que não concordasse, como é lógico que discordaria! Não vou mudar a minha forma de pensar porque uma pessoa me quer impor uma opinião diferente. Mas também sei que obdeceria. Por exemplo, se o príncipe me obrigasse a comer goiaba em frente de gente, eu comeria, mas quando o apanhasse sozinho ele ouviria. Se eu não gosto de goiaba, porque haveria ele de me obrigar a come-la? Pronto, eu admito: Exemplo desadequado.

Acabei de responder a esta e fiquei aliviada por saber que só existiam duas perguntas. Não me apetecia escrever mais. Avisei a senhora que já tinha acabado e ela entregou-me uma folha antes de ir tirar a fotografia.

Li o que lá estava e nem quis acreditar. Dizia que concordava com o facto de ter de obedecer ao príncipe e, mesmo que este quisesse ter algum tipo de ato sexual comigo, desde beijos a outras coisas que prefiro não referir, eu teria de me submeter.

Isso é o que iriamos ver. Assinei o papel consciente que se ele me tentasse fazer algo eu lhe daria um chuto nas partes baixas.

E lá fui tirar a fotografia. A mulher disse-me para ficar séria, mas não consegui evitar sorrir. Se ele quer saber como é que eu sou, deve saber que procuro levar um sorriso, até para os lugares mais desagradáveis.

A Seleção de SebastianWhere stories live. Discover now