27 | PICOLÉS BARATOS

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Não se passa muito tempo, mas com Adrien distante sinto como se passasse um milhão de anos. Ele não fala comigo, as coisas estão estranhas entre nós e todos os dias penso se ele vai simplesmente esquecer o que eu disse e voltar ao que tínhamos antes, antes que eu estragasse tudo com meus sentimentos idiotas. Sou hipócrita por querer que ele volte, quando fui eu quem o afastei.

Acabo concluindo que o quero perto, mas essa vontade não se sobrepõe ao meu pavor. 

Estou na biblioteca, lendo alguma ficção com final feliz para me retirar da realidade onde garotos são incógnitas e sentimentos são assustadores. Quando acabo o primeiro, vou para o segundo, depois o terceiro, tenho uma tarde toda, posso muito bem gastá-la enquanto leio sobre sentimentos reais, sem realmente senti-los.

Num instante vejo uma cabeleira loira do outro lado da prateleira, meu coração acelera um pouquinho, porque sei que Adrien adora dormir na biblioteca, sei que esse é um lugar que ele evitaria porque sabe que estou aqui, então sinto apenas uma fagulha de esperança me guiar quando viro o corredor para nos encontrarmos.

— Ah. Oi, Félix.

Queria não ter soado tão decepcionada. O Agreste errado sorri para mim, vejo-o com uma pilha de livros de enciclopédias empilhados em suas mãos.

— Como vai, Marinette?

— Bem. 

— Estou estudando para entregar o trabalho de Mendeleiev dessa semana, fiz a maioria da pesquisa pela internet, mas nada supera um bom livro.

Não quero estender o assunto, mas mesmo assim o sigo até às mesas de estudo dispostas na biblioteca.

— Eu ainda não comecei. 

Tenho coragem de dizer, minha força de vontade esvaindo. Não quero saber do seu trabalho idiota, Félix, quero saber como seu irmão quebrou meu coração sem nem sequer se esforçar para isso.

Como se lesse minha mente, Félix acaba comentando:

— Adrien pegou um resfriado.

Penso na última vez que saímos juntos, tomamos um banho de chuva, ficamos com frio e eu o beijei porque ele emanava calor. Depois disso o vi enlouquecer ao ser questionado sobre a garota que ele abraçava no parque e resolvi fugir, porque hum, sou covarde demais para lidar com isso.

Se me dissessem há um mês atrás que eu estaria sofrendo por Adrien Agreste, eu me acabaria de rir, diria que estavam loucos, malucos, em um completo consenso de insanidade. Agora não consigo ficar um momento sem pensar nos olhos dele, a maneira como suspira contra meu rosto e o aperto de suas mãos em minha cintura. Acho que a única maluca sou eu.

— Porque estamos falando sobre Adrien?

Quer dizer, não estamos nem namorando — como se fôssemos algum dia — Não entendo porque Félix tem a necessidade de mencioná-lo.

— Achei que você quisesse saber — Ele pisca os olhos — Você não quer fazer uma visita? Acho que Adrien ia gostar de vê-la.

Acho que sou a última pessoa da Terra que Adrien Agreste gostaria de ver.

— Por que… você acharia algo assim? 

— Porque ele gosta de você.

— Q-quê?

Meu coração para de bater.

— As músicas que ele escreve… são pra você, não são?

Félix está com as sobrancelhas franzidas, como se lamentasse por eu não saber nada disso.

Rejeitados | MLB • AdrinetteWhere stories live. Discover now