Twenty Three

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Bem, você só precisa da luz quando está escurecendo

Só sente falta do sol quando começa a nevar

Só sabe que a ama quando a deixa ir

Só sabe que estava bem quando se sente mal

Só odeia a estrada quando sente saudade de casa

Só sabe que a ama quando a deixa ir

E você a deixou ir

- Let Her Go (Passanger)

Era nos momentos de lucidez, cada vez mais raros, que Harry se lembrava dele: do garoto moreno de olhos azuis e coordenação motora péssima. Agora, mais do que nunca, ele tinha a plena certeza de que o conhecia, de modo que a única coisa que queria se lembrar era "de  onde". Seu corpo não colaborava, e sua memória bloqueava qualquer resquício de informação que pudesse ser útil.

A tarde estava chuvosa e pouco movimentada. Seus amigos de banda haviam-no ido visitar no hospital - sua atual moradia. Harry conseguiu ficar uma boa parte do tempo acordado, e até mesmo conversar. Às vezes as palavras lhe fugiam da memória, de modo que, por conta disso, ele demorava um pouco para responder alguma pergunta ou formular uma frase. Parecia uma criança, mas estava desaprendendo ao invés de aprender. Regressando ao invés de progredir.

Naquela mesma tarde - algumas horas depois de o garoto novamente acordar - ele, os amigos e os pais, se reuniram no quarto para assistirem o jogo que passava na televisão. Aquilo animou um pouco a todos, que ultimamente só andavam preocupados e chorosos. Até mesmo Harry se animou.

Cerca de duas horas depois o apito do juiz soou, indicando fim da partida e empate de zero a zero entre os dois times. Anne desligou a televisão, onde todos se voltaram à Harry. Ninguém admitia, mas, em seus íntimos, algo dizia que aquele dia, ou os outros que se seguiriam, podia ser o último da vida do garoto de cachos. E por mais trágico que fosse pensar naquilo, eles aproveitariam cada fração de segundo possível ao lado dele. Não por pena, mas sim porque o amavam. E porque desconheciam o amanhã.

Harry havia se calado, onde apenas escutava o que as pessoas a sua volta diziam. O horário de visitas logo terminaria e o quarto ficaria silencioso novamente: os pais conversariam aos sussurros e ele pegaria no sono, ouvindo apenas o bipar das máquinas ao lado. Era sempre a mesma coisa.

Ele arfou baixo ao sentir sua mente começar a dar lapsos; várias lembranças distorcidas aparecendo. Harry fechou os olhos. Sua cabeça doía, ele então tornou a abri-los. As lembranças foram aos poucos ficando límpidas, agora era como se um filme rodasse em sua cabeça. Ele então o viu: era o garoto de cabelos mel e olhos azuis.

Ele ouviu sua voz.

''O garoto entrava pela janela de seu quarto, seu antigo quarto''.

As lembranças mudaram, eram flashes confusos.

Louis estava em todas elas: sorrindo, com raiva, triste, e, então, sorrindo novamente. Harry era o motivo de todas aquelas emoções causadas nele. De alguma forma, ele sabia que era responsável.

Novamente fechou os olhos e buscou por um nome. Ele tinha certeza de que sabia o nome dele. Forçou o quanto pôde sua memória. Precisava do nome.

"Oh. Que falta de educação a minha" Dizia o garoto.

Estava lá, mas não se manifestava.

Harry precisava tentar.

Ele sabia o nome dele.

"Sou Louis."

Tudo começou a fazer sentido.

As lembranças estavam voltando em um turbilhão de informações.

I wish (larry stylinson)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora