Capítulo I

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Eram oito da manhã e tão contrariamente aos outros dias da semana, as ruas da Antuérpia encontravam-se desertas. A multidão usual de pessoas que se dirigia para o emprego encontrava-se em casa, a aproveitar o domingo para se recolherem nas suas camas quentes e confortáveis fugindo da chuva e do frio que tinham chegado com o amanhecer.

No entanto, havia uma figura que rasgava a chuva do mês de fevereiro e pisava as pedras da calçada. O homem solitário, que caminhava com a proteção de um oleado, seguia morosamente e apenas parou para cumprimentar um velho amigo que trabalhava na mercearia.

Continuou a percorrer a rua, deu duas voltas com a chave na porta de uma livraria antiga e entrou. Ao fazê-lo, ouviu-se o som da campainha da porta e o ranger de uma tábua solta de madeira.

«Tenho de arranjar esta maldita tábua!» - pensou para si mesmo enquanto espirrava com o pó.

Mas como todos os dias, a tábua passou para o fundo dos seus pensamentos e foi às traseiras da loja ver os novos livros que o carteiro tinha deixado. Pegou na pesada encomenda e colocou-a na secretária enquanto deitava o chá quente do termo para uma chávena.

Longas horas se passaram e o livreiro cinquentenário inspecionava os livros meticulosamente antes de fazer o devido registo dos mesmos. Deu um gole no líquido, agora semifrio, e pegou noutro exemplar. Ao vê-lo percebeu que não tinha encomendado aquele livro, contudo abriu-o para ver do que se tratava. O livreiro leu-o e engasgou-se com a bebida. Seria aquilo o que ele acreditava ser? O que faria agora?

A DemandaWhere stories live. Discover now