Capítulo XVIII

44 11 2
                                    

Ava começava a acordar aos poucos. Ficou parada e com os olhos fechados durante uns minutos, devido à dor intensa que sentia na parte de trás da cabeça. Quando finalmente os abriu, percebeu que estava num quarto pequeno e todo branco. Para além da cama e de um pequeno armário, havia uma ouroboros gigante, presa a uma parede. A rapariga levantou-se, lentamente, e observou a paisagem visível da pequena janela daquela divisão. Estava bastante nevoeiro por isso apenas conseguia distinguir o que pareciam ser residências, à sua esquerda. À sua frente, bastante ao longe, erguia-se uma mansão em estilo georgiano que evocava uma sensação de poder.

- Vejo que já acordaste.- disse uma rapariga que aparentava ter a sua idade, com o cabelo castanho escuro e sardas.

- Onde é que eu estou? Quem és tu?

- Isso são muitas perguntas. Primeiro, deixa-me verificar a tua cabeça.

- Não te deixo tocar-me até me dizeres o que se passa!- a atitude demasiado calma daquela rapariga estava a começar a enervá-la.

- Eles tinham razão, exaltas-te facilmente. O meu nome é Heidi e é tudo o que me é permitido dizer-te. Agora, posso ver a tua cabeça?- a ruiva assentiu em resposta.

Após ela ter verificado a ferida de Ava, as duas saíram do quarto. O corredor era tão branco quanto a divisão anterior e estava vazio. Só depois de terem descido um piso de elevador é que a ruiva viu pessoas e não eram poucas. Era possível observar desde crianças até idosos, contudo a sua indumentária era sempre igual à de Heidi: uma camisa bordô e calças de tecido, pretas.

- Porque é que não tens um anel com a ouroboros como os outros?- interrogou a ruiva.

- Eu? Ainda não fui batizada, falta-me muito conhecimento para lá chegar. Mas tu não me deves fazer perguntas.- passado algum tempo, pararam à frente de uma porta.- Aqui é o gabinete de Mademoiselle Girard. Lembra-te, deves sempre dirigir-te a ela como a Dirigente. Tu tens tanta sorte... Enfim, é só bater à porta.

Ava assim o fez e ouviu um "entre" como resposta. Ela abriu a porta e deparou-se com um gabinete bastante elegante que correspondia com a senhora sentada atrás da secretária de mogno, Mlle. Girard. Ou a Dirigente como queria que lhe chamassem.

- Olá, tu deves ser Ava.- a mulher exibia um sorriso pintado de vermelho resplandecente. O vestido de renda era tão negro quanto os seus cabelos, que contrastavam com os olhos profundamente azuis. Ela imaginara muitas vezes como é que seria a pessoa que estaria no comando, todavia nunca lhe passara pela cabeça que fosse uma mulher tão jovem e bela.- Há muito tempo que estou ansiosa por te conhecer.- dizia enquanto se levantava e lhe indicava o sofá para se sentar.- Deves estar cheia de fome, serve-te.

Pousado na mesa em frente ao sofá, estava um tabuleiro de prata com chá, bolinhos e sandes. Ela estava com bastante fome, de facto, mas não confiava naquelas pessoas.

- A mim só me importa saber onde é que eu estou e quem são vocês.

- Fazemos assim, tu tiras uma sandes e eu respondo às tuas perguntas. Eu não te estou a tentar envenenar, ninguém fica a ganhar se desmaiares por fraqueza. São sandes de atum com ovo, as tuas favoritas.

- Já me podem dizer onde é que eu estou?- respondeu Ava enquanto comia avidamente.

- Tu estás no Refúgio. Esta é a sede da nossa organização, onde os agentes são treinados e as famílias de alguns dos membros mais importantes vivem em segurança.

- E, afinal, qual é a história da Altum?

- A nossa organização remonta aos tempos da Grécia Antiga. Atenas mais especificamente. Não sei se sabes, mas a democracia da altura era direta, ou seja, os partidos eram ilegais. Mesmo assim, havia um grupo da sociedade ateniense que ambicionava governar sozinho e conspirava, em segredo, transformar a democracia numa oligarquia. Ao serem descobertos foram expulsos e partiram em direção a Roma. Nela encontraram um rapazinho chamado Octávio que estava revoltado com o assassinato do seu tio Júlio César. Claro que se não fosse pela ajuda dos nossos fundadores ele nunca se teria tornado imperador. E assim nós governámos um grande império até ao seu fim.

A DemandaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora