Capítulo XV

38 13 3
                                    

 Ava fitava a parede branca à sua frente. Não sabia bem há quanto tempo, talvez duas horas, provavelmente mais. A sala era grande, com várias cadeiras e uns quantos televisores na parede que mostravam as notícias. A um canto estava o balcão onde a rapariga já desistira de ir perguntar por informações. O cheiro a desinfetante e doença era sufocante. Quando entrava num hospital não conseguia parar de pensar que lhe iam espetar uma agulha ou tirar sangue, mesmo quando sabia que não era para isso que lá estava. Era irracional. Raramente aguentava muito tempo dentro daqueles espaços, no entanto aquela era uma exceção.

O autocarro partira a correr de Amiterno em direção a Roma. O guia falava com o 112 enquanto Ava, Daniel e as restantes pessoas do grupo tentavam ajudar David e mantê-lo acordado. Vincenzo tinha-lhe, inclusive, dado o seu urso de peluche:

- Eu já sou demasiado velho para ele, não me faz diferença.- declarara ele.

- Vincenzo ficou muito assustado quando ficou preso e agora aquele rapaz é como um herói para ele. Embora não admita, o urso é muito importante.- confidenciou a mãe dele à rapariga.

Ao chegarem a Roma uma ambulância já estava lá à espera. Ava e Daniel tentaram ir com David na ambulância, contudo os paramédicos ridicularizaram a ideia. Sendo assim, a família do rapazinho dera-lhes boleia.

Assim que lá chegaram sentaram-se na mesma sala onde Ava estava sentada naquele momento. Ficaram os dois ali à espera de informações, sempre em silêncio. A jovem queria dizer alguma coisa para confortar o amigo ou distraí-lo do que se estava a passar, todavia nada surgia. Acabou por decidir dar-lhe a mão, assim sempre transmitia algum apoio, detestava vê-lo naquela ansiedade. No entanto, Daniel afastou-a, instintivamente.

- O que é que foi?

- Nada.- respondeu ele num tom de irritação.

- Não é nada. O teu irmão está no hospital e...

- Pois, é exatamente isso, o meu irmão está num hospital em Itália. Que sentido é que isso faz?- perguntou retoricamente.- David sempre foi aquele que tinha boas notas e fazia tudo bem, que era excelente a tudo. Então explica-me porque é que ele está sozinho algures por aqui e porque foi mordido por uma cobra.

- Bem, eu...

- Tu, exato! Foste tu que decidiste ir em busca de uma pessoa que matou um homem que era praticamente um sem-abrigo. Só agora é que eu me apercebo do quão ridículo isto é. E a culpa também foi minha, porque fui eu quem o arrastou para isto.

- Família de David Harris?- chamou uma enfermeira.

- Sou eu.

- Venha por aqui.

E assim o rapaz desapareceu com a enfermeira. Ela não conseguia acreditar no que acabara de ouvir. Daniel fora aquele que a impulsionara desde o início e lhe dissera que não a deixaria sozinha, e agora abandonara-a. E o pior é que tinha razão em tudo o que dissera. A rapariga já se estava a martirizar por achar que tinha sido culpa dela, todas as palavras de Daniel já tinham rondado a sua cabeça, todavia ouvi-las em voz alta era pior.

Passado algum tempo o rapaz finalmente voltou. Ele vinha ter com ela, mas foi parado pela tia que apareceu subitamente. Eles ficaram a discutir durantes uns minutos e a senhora foi-se embora.

- Como é que ele está? O que é que a tua tia disse?- perguntou Ava.

- David está estável mas puseram-no a dormir. Ainda deve demorar a acordar. A minha tia estava furiosa por não lhe termos dito que tínhamos ido ter com ela sem os pais saberem. Logo que o meu irmão acorde apanhamos um avião para Brighton.- e de seguida voltou costas e saiu.

E assim, Ava permanecera sentada na mesma cadeira até ao presente momento. Não sabia bem há quanto tempo, talvez duas horas, provavelmente mais. Na sua cabeça iam e vinham pensamentos sobre Isaac, como tudo tinha começado e como tinham chegado ali. Ainda não tinha decidido se valera tudo a pena. Acabou por decidir ir dar uma volta. Continuar ali não adiantava de nada.

O ar fresco na sua cara e nos seus pulmões devolveu-lhe as forças. Nem se apercebera o quão sufocada estava lá dentro. No exterior, o sol desaparecia atrás dos prédios. O céu possuía tons de laranja e mais ao longe começava a ficar negro. A rapariga andou pelas ruas sem rumo, apenas focando-se nos seus pensamentos. De repente, deu um encontrão num casal que se estava a beijar. Virou-se para pedir desculpa e deparou-se com Daniel e outro rapaz. Ava ficou sem reação no início, o que lhe deu tempo para fugir. Ela foi atrás dele, contudo ele era rápido e era difícil encontrá-lo no meio da multidão. A rapariga não tinha problema nenhum se ele gostava de rapazes, apenas queria que ele lhe desse a oportunidade de o dizer. Subitamente, o telemóvel tocou, do outro lado disseram-lhe que David já tinha acordado e que o podia ir visitar. Olhou para o relógio e notou que faltava pouco para acabar a hora das visitas. Correu entre as ruas até ao hospital tentando lembrar-se do caminho. Quando finalmente chegou o elevador estava prestes a fechar-se, acelerou e entrou. Lá dentro estava Daniel. Podia-se perceber pelas suas caras que ambos desejavam que Ava não tivesse conseguido apanhar o elevador.

- Ouve eu só quero que tu saibas que.... – começou a rapariga.

- Não vamos fazer isto.

- Mas eu não...

- Estamos aqui pelo meu irmão, é só isso que importa agora.

De seguida, as portas abriram-se. Os dois caminharam até ao quarto de David e entraram, cumprimentando-o.

- Olá, como é que te sentes?- perguntou a rapariga.

- Acho que estou bem, e vocês?

- Bem, também.

- Têm a certeza? Parecem um pouco nervosos.

- É só impressão tua. Tens a certeza que estás bem?- interrogou Daniel.

- Não podia estar melhor, mal posso esperar por sair daqui. Ainda temos imenso para ver em Roma.

- Quanto a isso tenho más notícias, a tia Ellen vai-nos mandar de volta para o Reino Unido assim que tiveres alta.

- O quê? Porquê?

- A tia acabou por descobrir que os pais estão bastante preocupados por termos fugido e está furiosa connosco por não termos dito nada.

- Estou a ver.- replicou o irmão com um ar desiludido.- Todavia isto não é o fim da nossa demanda, o que acharam das fotos?

- Fotos?- questionaram a rapariga e o gémeo em uníssono.

- Eu disse era importante verem as fotografias que eu tinha tirado, até dei o meu telemóvel a Ava. Trá-lo cá.

Ela deu-lhe o telemóvel e o rapaz mostrou-lhes o álbum. O que ela estava prestes a ver ia mudar a sua vida para sempre.

*  **  *

Olá, tudo bem? Será que este é o fim da viagem do nosso trio, ou será que eles arranjarão uma maneira de encontrar as respostas que procuram? Não se esqueçam de votar e de comentar, é muito importante para mim saber a vossa opinião. Beijo.

A DemandaWhere stories live. Discover now